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Funasa privilegia Ceará, Estado do seu presidente
Nos últimos cinco anos, órgão do governo repassou quase R$ 300 mi a cearenses
Danilo Forte diz que não
há problema e credita
direcionamento da verba
para seu Estado de origem a
um "somatório de vetores"
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ceará é o Estado que mais
se beneficiou das verbas de investimento da Funasa nos últimos cinco anos. De 2003 a
2007, foram R$ 298,91 milhões
de um total de R$ 2,2 bilhões
destinados a obras de saneamento básico.
O valor é mais que o dobro do
que recebeu Pernambuco (R$
142 milhões) no mesmo período e superior aos R$ 217 milhões repassados para o Pará
(R$ 93 milhões) e à Paraíba (R$
124 milhões).
Os dados constam de levantamento realizado pelo site
Contas Abertas no Siafi (sistema de prestação de contas da
União), a pedido da Folha. A
análise considerou também
um relatório do departamento
de engenharia da própria Funasa com a descrição dos convênios executados pela fundação nos últimos cinco anos.
O documento, obtido pela reportagem, chegou a ser publicado pela Funasa em seu site
na internet, mas foi retirado
em abril. Ali estão descritos os
chamados "eixos de ação" do
órgão no que se refere à sanemanento básico.
Em tese, a Funasa deve priorizar o saneamento de áreas indígenas e quilombolas, para o
qual foram repassados nos últimos cinco anos R$ 2,3 milhões.
Segundo o IBGE, Roraima e
Amazonas reúnem a maior população indígena do país, mais
de 100 mil. Os Estados receberam R$ 98 milhões. No Ceará,
vivem cerca de 7.000 índios.
A prestação de contas mostra ainda que o órgão destinou
mais verbas (R$ 27 milhões)
para "melhorias sanitárias domiciliárias para controle de
agravos", que visa à prevenção
e erradicação de endemias. No
caso, a prioridade é a melhoria
habitacional contra o mal de
Chagas e a drenagem urbana
contra a malária.
Mas o dinheiro não chegou
para os Estados mais carentes
nesse quesito: Amazonas, Pará,
Rondônia e Acre. Questionado
pela Folha, o presidente da Funasa, Francisco Danilo Bastos
Forte, disse que não vê "problema o Ceará receber mais"
que os outros Estados.
"O Ceará está encravado no
semi-árido, tem todas as necessidades correspondentes às políticas de investimento, tem
um histórico de programas para saneamento e já teve dois
presidentes. Tudo isso é um somatório de vetores", afirmou.
Ao ser contatado na noite de
terça-feira, Danilo mandou
seus assessores elaborarem
uma planilha com os valores
empenhados em 2007 e a liderança do Ceará, com R$ 130,35
milhões. "No ano passado só
executamos os restos a pagar
dos anos anteriores", disse.
Forte, que é cearense, foi diretor-executivo da Funasa de
agosto de 2005 até maio do ano
passado, quando assumiu a
presidência depois da exoneração de Paulo Lustosa. Sua indicação foi da bancada do PMDB,
com respaldo do deputado federal Eunício de Oliveira (CE).
No Ceará, o município de
Tauá foi o campeão das verbas
de saneamento da Funasa, cerca de R$ 3,28 milhões. A prefeita Patrícia Aguiar (PMDB) acaba de ser escolhida a melhor
prefeita do Ceará, num concurso tradicional de uma empresa
de eventos. O site da prefeitura
informa que ela foi "beneficiada com os votos consignados
na internet (2), Selo Unicef (1),
menor taxa de analfabetismo
(1), menor taxa de mortalidade
infantil (1), afora voto de Prefeito Empreendedor (Sebrae-Ceará) e Nacional".
Desde 2007, os investimentos da Funasa foram reunidos
sob o guarda-chuva do PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento). O "PAC Funasa"
prevê R$ 4 bilhões até 2010.
Para Danilo, o Ceará é discriminado. "Todo o investimento
do governo na história do Ceará dá menos que o gasto na linha 4 do Metrô de São Paulo",
disse. São Paulo recebeu R$ 75
milhões da Funasa para saneamento nos últimos cinco anos.
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