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ELIO GASPARI
Alckmin, Lula e as formigas da Guiana
Em matéria de segurança, os
candidatos se perderam
na floresta, mas acham
que estão no caminho certo
NA NOITE em que chegou a 45 o
número de policiais e agentes penitenciários assassinados em São Paulo em menos de dois
meses, o candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disse que enfrentará a crise da
segurança criando um conselho.
Mais um. Logo Alckmin, legatário do
mingau em que se transformou a segurança dos agentes da ordem pública no Estado que governou por cinco
anos. Para se ter uma idéia do que
significam 45 mortos em 60 dias, em
toda a década de 1920, quando o crime organizado parecia controlar
Nova York, morreram 57 policiais.
Número inédito, nunca igualado. (O
"choque de gestão" de Alckmin arrisca derrubar essa marca antes de outubro.)
A fala pausada, numérica e oca do
grão-tucano é apenas um dos aspectos da ruína. O outro é o triunfalismo
de Luís 15, na versão Inácio: "Antes
de mim, o dilúvio. Depois de mim,
outro dilúvio". Alckmin não quer explicar por que sua política de gatilho
rápido resultou em insegurança. Lula quer ficar a léguas de distância do
tema. É preferível entender que o governador Cláudio Lembo tem razão:
ou o andar de cima se mexe, ou o que
vai mal haverá de piorar. Ou há segurança para todo mundo, ou não há
para ninguém.
No mercado financeiro existe uma
expressão banal para designar multidões que correm numa direção, sem
saber direito o porquê. É o "efeito
manada". Pensando bem, a manada
pode ser sábia. Quem fugiu do dólar
de R$ 1,20 da ekipekonômica tucana
de bobo não tinha nada. O que o andar de cima nacional faz em matéria
de segurança parece mais com as formigas de Kartabo, na floresta da
Guiana. De repente, uma delas perde
o caminho e vai adiante. As outras,
disciplinadas, vão atrás. Quando um
naturalista observou esse fenômeno,
elas percorriam um círculo com 365
metros de extensão. Levavam duas
horas e meia para completá-lo, recomeçando-o ao longo de todo um dia.
A maioria morria. A manada vai
atropeladamente para não se sabe
onde. As formigas da Guiana vão calmamente para onde estavam.
Outro dia o "Jornal Nacional"
mostrou a família de um agente penitenciário abandonando uma casa
pobre, de poucos móveis, porque a
bandidagem deu-lhe um prazo, ao
fim do qual iria matá-la. Causou a
mesma perplexidade que a desclassificação da Arábia Saudita. Não ocorre ao andar de cima mobilizar-se para mostrar aos bandidos que nunca
mais uma família de um agente da
ordem será desestruturada por falta
de apoio. De quem? Das guildas patronais que gastam os tubos em pesquisas eleitorais, dos bancos que fazem obras sociais nos espaços nobres da publicidade, dos magnatas
que andam com o papagaio do Estado mínimo no ombro. Enfim, de
quem achar que não lhe fica bem
ajeitar o meião quando Zidane centra para Henry.
O que falta em matéria de segurança é raça. Alguém que diga: a família do agente penitenciário que foi
obrigada a deixar sua casa recebeu
um apartamento e nele viverá o
tempo que for necessário. Mais: as
famílias de servidores públicos mortos pelos bandidos terão suas dívidas imobiliárias quitadas e seus filhos receberão bolsas de estudo até
o último ano do curso superior. É
complicado de fazer? Sem dúvida,
por isso a formiga número 2 foi atrás
da número 1.
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