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SUCESSÃO NO ESCURO
Tribunal aponta irregularidades em obra do megaconjunto habitacional Nova Sepetiba, no Rio
TCE vê problemas em "vitrine" de Garotinho
MARCELO BERABA
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO
ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO
O TCE (Tribunal de Contas do
Estado) encontrou diversas irregularidades nas licitações, contratos e obras do maior projeto social
do governador Anthony Garotinho (PSB): o megaconjunto habitacional Nova Sepetiba, zona oeste do Rio, onde está prevista a
construção de 10 mil casas populares. A obra é um dos trunfos que
Garotinho quer mostrar em sua
campanha para se viabilizar como
candidato a presidente.
Foram examinados dois contratos da Nova Sepetiba (para 2.577
casas), ambos ganhos pela construtora paranaense Grande Piso.
Os dois têm problemas.
O mesmo processo do TCE
identificou irregularidades em
dois outros contratos com a mesma construtora e em quatro outros contratos de prestação de serviços firmados pela Cehab (Companhia Estadual de Habitação do
Rio de Janeiro) na gestão do deputado estadual Eduardo Cunha
(PPB-RJ). O TCE enviou notificações para 12 funcionários e ex-funcionários da Cehab para que
se defendam e justifiquem, até 26
de agosto, as irregularidades.
Entre os notificados está Eduardo Cunha, que fez parte do grupo
do ex-presidente Fernando Collor
e que hoje produz o programa de
Garotinho para a rádio evangélica
Melodia FM. Cunha foi presidente da Cehab entre 10 de setembro
de 1999 e 10 de abril de 2000,
quando foi afastado do cargo.
O TCE levou 16 meses para concluir as apurações e expedir as notificações. O processo que determinou a inspeção extraordinária
na Cehab foi aprovado pelo tribunal em 14 de março do ano passado. A inspeção foi feita em seguida, entre 4 de abril e 12 de maio.
Os dois primeiros editais de licitação para Nova Sepetiba foram
enviados para o TCE tardiamente,
depois que a Grande Piso já tinha
sido indicada vencedora, o que
contraria as normas do tribunal.
Por esta razão, a comissão de inspeção extraordinária chegou a
propor aos conselheiros que fossem paralisadas as obras até as
correções, o que nunca ocorreu.
Na parte relativa às licitações, a
inspeção extraordinária do TCE
encontrou 13 problemas no edital
de concorrência para a construção do lote de 1.300 casas. A concorrência foi ganha, em janeiro de
2000, pela empresa paranaense
Construtora Grande Piso Ltda.
Diante de várias denúncias surgidas na época e da comprovação
de que não tinha condições para
tocar as obras, o contrato foi suspenso, e a empresa substituída.
A Grande Piso chegou a ganhar,
na época, quatro concorrências:
além de duas em Nova Sepetiba
(num total de 2.577 casas), foi escolhida para erguer conjuntos populares em Acari (800 casas) e
Barra Mansa (48 casas).
A inspeção do TCE constatou
vários problemas nas documentações da empresa, entre eles a
adulteração da certidão negativa
de tributos estaduais. O documento teve sua data de validade
alterada de 16 de janeiro de 2000
para 16 de fevereiro para que a
empresa pudesse participar de
outra concorrência, para a construção de 800 casas em Acari.
Em Nova Sepetiba, o TCE identificou, em um dos setores de casas já construídas, material utilizado de qualidade inferior ao especificado no contrato.
Em outra obra iniciada pela
Grande Piso, em Barra Mansa,
para construir 48 casas populares,
constatou-se que "as obras estão
sendo realizadas em desacordo
com as especificações" e que "o
projeto estrutural desenvolvido
[..." não é adequado ao uso a que
se destina, podendo provocar situações de risco e insegurança aos
futuros usuários [..."."
Nessa mesma obra foi relatado
que estavam sendo empregados
materiais em desacordo com as
normas técnicas previstas em lei e
que foram atestadas "medições irregulares e indevidas no valor total de R$ 193.238,23".
O relatório final do TCE não explica a diferença de preços entre
as duas concorrências ganhas pela Grande Piso em Nova Sepetiba.
Na primeira concorrência, cada
casa, de 29,81 m2, foi contratada
por R$ 7.715; na segunda, as casas
do mesmo tamanho e construídas
pela mesma empresa, foram orçadas em R$ 10.469, uma diferença
de 36%.
Em um dos contratos de prestação de serviços questionados, o
TCE identificou uma grande diferença de preços praticados pela
Caci (Central de Administração
de Créditos Imobiliários S/A),
contratada para regularizar a carteira de créditos da Cehab junto
ao Fundo de Compensação das
Variações Salariais, administrado
pela Caixa Econômica Federal.
A Caci cobrava R$ 64 por contrato de mutuário analisado enquanto, segundo o relatório, o
preço máximo era R$ 25.
Na época a Caci era representada em uma das licitações da Cehab por Jorge Osvaldo La Salvia,
ex-procurador de Paulo César Farias durante o governo Collor.
O TCE retém desde dezembro
de 2000 o edital de licitação para
os serviços de drenagem, pavimentação e urbanização das ruas
de Nova Sepetiba. Os serviços foram orçados em R$ 3.763.577,46
pelo DER (Fundação Departamento de Estradas de Rodagem).
O fato de esse edital ainda não
ter sido aprovado não impediu o
TCE de autorizar a expansão do
conjunto habitacional. Duas concorrências feitas pela Cehab no
primeiro semestre escolheram as
empreiteiras Delta e Andrade Valadares para construir mais 7.423
casas. A Delta vai receber R$ 55,8
milhões, e a Andrade Valadares,
R$ 34,3 milhões.
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