São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2001

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Manual ensina a seduzir informantes

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A inteligência do Exército sugere aos seus agentes a adoção de técnicas pouco ortodoxas de cooptação de informantes. A apostila do curso de treinamento de espiões apresenta como exemplo de "eficiência" um caso de recrutamento que começou no elevador e terminou na cama.
"O recrutamento de Trushenski", eis o nome dado ao episódio, descrito em papel timbrado do Exército, classificado de "confidencial". O cenário é a cidade de Roma. Não há menção a datas. O relato evoca o auge do conflito ideológico Leste-Oeste.
Espiões "do bloco ocidental" foram incumbidos de obter dados sobre "pessoal, organizações e agentes da KGB", o serviço secreto da então União Soviética. Optaram por cooptar Krystina Trushenski, secretária-datilógrafa do adido militar da embaixada polonesa em Roma, que fazia dobradinha com a KGB.
O agente destacado, codinome Giacomo, colecionou informações sobre os hábitos de Krystina.

Amantes
Abordou-a várias vezes no elevador. Convidado ao apartamento dela, seduziu-a. Ela virou sua amante. Remunerando-a, obteve os dados de que necessitava.
"Estava concluído, com eficiência, mais um recrutamento operacional", anota a apostila do curso intermediário de inteligência ministrado pelo Exército brasileiro.
Envolvido num esforço para tonificar o seu quadro de informantes, o Exército ensina aos seus agentes que o processo de arregimentação deve ser dividido em oito fases: 1) seleção de local e hora para a abordagem; 2) estudo do tipo de motivação que pode levar o alvo a tornar-se um informante; 3) elaboração de respostas para um possível questionamento; 4) fixação do preço a ser pago ao informante; 5) a forma de pagamento; 6) o preparo da orientação a ser dada; 7) escolha da data do próximo encontro; 8) elaboração de desculpa para contornar possível rejeição.

"Decálogo do vigilante"
Os espiões recebem também aulas de vigilância. São apresentados às regras de conduta do "decálogo do vigilante": a) não encarar o alvo; b) não andar de maneira suspeita; c) não andar se escondendo; d) não correr; e) não esquecer a distância conveniente; f) não se distrair; g) não cumprimentar conhecidos; h) não usar sinais visuais indevidos; i) não expor armas; j) não usar disfarces anormais ou exagerados.
Ministram-se ainda lições de "arrombamento com disfarce de intenção". A técnica é resumida assim: "Simular uma ação de forma a fazer o alvo pensar que o ato tenha sido praticado por marginais". Um ensinamento que serve também às potenciais vítimas de espionagem: o Exército proíbe que seus agentes utilizem fax e telefones (fixos ou celulares) para a transmissão de informações confidenciais. (JOSIAS DE SOUZA)



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