São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RETÓRICA DO PLANALTO

Presidente afirma que agora 'não há espaço para política pequena'; pefelista o compara a Hitler

"Intriga" não vai barrar progresso, diz Lula

EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou ontem a oposição ao afirmar não haver "intrigas", "futricas" e "eleição" que possam impedir o desenvolvimento do país.
Seguiu a mesma linha de discurso adotada pelo ministro José Dirceu, anteontem, que deu um cunho eleitoral às denúncias que envolvem os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio Casseb.
A expressão "futrica", dita pelo presidente ontem pela manhã, no Planalto, na abertura de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, foi usada em 15 de março de 2002 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, o tucano queixou-se de "tricas e futricas" em referência à obstrução do PFL para a aprovação da CPMF.
Aos conselheiros, Lula falou por cerca de meia hora. Leu e improvisou o discurso. Disse que habitualmente vai às reuniões do conselho para "dar bronca", mas que ontem estava "mais paz e amor do que nunca". Assim como fizera em discursos recentes, Lula voltou a falar da necessidade de os brasileiros retomarem a "auto-estima". E atacou: "Se todos nós formos tomados desse desejo e dessa força interior, certamente, não haverá intriga, não haverá futrica, não haverá eleição que possa brecar, frear o desenvolvimento que este país precisa e deve ter".
Para Lula, com os indicadores de produção, emprego, exportações e renda já disponíveis "podemos dizer com razoável dose de consenso: o Brasil entrou na rota do desenvolvimento". Anteontem, no Planalto, Dirceu afirmou que as denúncias contra os presidentes do BC e do BB ocorreram em razão do período eleitoral e do "inconformismo" por parte da oposição diante dos sinais de avanços da economia brasileira.
No discurso, Lula aproveitou para justificar seus atritos com empresários e trabalhadores, setores representados no conselho: "Muitas vezes eu tenho sido duro; muitas vezes tenho cobrado pelos empresários; muitas vezes tenho sido duro com os meus companheiros trabalhadores. Mas a verdade é que não há espaço para política pequena neste momento".
Em trecho do discurso preparado por sua assessoria, Lula afirmou que o governo está "avançando cada vez mais" numa reforma agrária "tranqüila" e "pacífica" -o que não é confirmado por números oficiais.
Dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário mostram que o governo Lula não cumpriu as metas de assentamentos de 2003 e do primeiro semestre deste ano e, desde o ano passado, acumula recordes de invasões de terra. "Eu não conheço ninguém que pense como o presidente. Eu estou morrendo de preocupação com as seguidas ondas de invasões", afirmou Antônio Ernesto de Salvo, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.

Hitler
Os líderes da oposição reagiram às afirmações do presidente de que eles querem tirar proveito eleitoral das acusações. "Esse rapaz [Cássio Casseb] e o [Henrique] Meirelles deveriam vir aqui para esganar a gente. Deveriam colocar uma barraca aqui na frente [do Senado] para limpar o nome deles, mas nesse governo tudo é pragmatismo. Estão beirando o cinismo", disse o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB.
Sobre a declaração de que as acusações não passam de "futrica", o deputado José Carlos Aleluia (BA), líder do PFL na Câmara, comparou Lula a Hitler. "O presidente deveria lembrar que futrica e intriga quem fazia era o PT na oposição. Nós fazemos oposição séria. Ele está usando a mesma tática que Hitler usou para mandar eliminar sumariamente os seus adversários".
De acordo com o líder do PFL na Câmara, "Hitler, quando assumiu o poder, começou a desenvolver a idéia de que havia conspiração contra a economia alemã; com isso, mandou eliminar seus adversários sumariamente, através de sua polícia secreta".


Texto Anterior: Caso BB está encerrado, diz Comissão de Ética
Próximo Texto: Toda mídia - Nelson de Sá: Mais uma
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.