São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LIGAÇÕES CRUZADAS

Ex-ministro português disse em julho ter recebido empresário como "consultor" de Lula; embaixador afirma que versão foi desmentida

Em nota, Mexia omite credenciais de Valério

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Em nota evasiva divulgada ontem, o ex-ministro português António Mexia não desmentiu a informação de que o empresário Marcos Valério de Souza se apresentara como "consultor de Lula" durante encontro entre os dois, em outubro passado. O comunicado foi divulgado após encontro com o embaixador brasileiro em Lisboa, Antonio Paes de Andrade.
"Num encontro efetuado hoje pelas 15h com o embaixador do Brasil, tive a oportunidade de repetir as minhas únicas e definitivas declarações sobre a visita de cortesia concedida ao sr. Marcos Valério, a pedido e na presença do presidente executivo da Portugal Telecom, dr. Miguel Horta e Costa", diz a nota.
O comunicado é uma alusão a reportagem publicada no mês passado pelo semanário "Expresso", de Lisboa, na qual Mexia disse ter recebido Valério "na qualidade de consultor do presidente do Brasil e a pedido de Miguel Horta e Costa".
À Folha, o embaixador Paes de Andrade afirmou que Mexia, no encontro de ontem, "contestou com muita clareza" que Marcos Valério tivesse se apresentado como interlocutor ou consultor do presidente Lula.
"O governo português e o governo brasileiro tratam diretamente das questões do Brasil e de Portugal sem intermediários. Seria um absurdo que se apresentasse um interlocutor", comentou Paes de Andrade, por telefone.
O embaixador disse que conversou ontem com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, de quem recebeu a incumbência de ouvir o ex-ministro.
Segundo a nota de Mexia, o encontro com Valério durou cerca de 10 minutos e abordou "tópicos genéricos, como a evolução econômica do Brasil e a importância do investimento estrangeiro, onde Portugal e a PT (Portugal Telecom) têm um papel de destaque."
"Não o tendo visto antes, não o voltei a encontrar", diz. Ele negou envolvimento "em questões de política interna do Brasil".

Espírito Santo
Antes de chegar ao primeiro escalão do governo, o ex-ministro português António Luís Guerra Nunes Mexia trabalhou de 1990 a 1998 no banco Espírito Santo Investimento, onde era responsável pelas áreas de mercado de capitais, corretagem e assessoria e montagem de financiamentos.
O Espírito Santo Investimento é um dos braços do grupo Banco Espírito Santo.
O economista Mexia, 48, foi ministro de Obras Públicas, Transportes e Comunicações por apenas oito meses, de julho de 2004 a março passado. Ele também ocupou cargos no setor energético.


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