São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2005

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Leia reportagem do jornal português

DA REDAÇÃO

No mês passado, o semanário português "Expresso" publicou uma reportagem relatando o encontro do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza com o então ministro português das Obras Públicas, António Mexia. Segundo o texto, o publicitário mineiro teria se apresentado ao ministro como "consultor do presidente do Brasil".
Ontem, em entrevista ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, Alexandre Coutinho, jornalista que escreveu a matéria, disse que "não foi Marcos Valério quem se apresentou como representante do governo, mas já teria chegado anunciado desta forma para a reunião com o ex-ministro, provavelmente pelo presidente da Portugal Telecom [Miguel Horta e Costa]".
O sub-editor do "Expresso", Nicolau Santos, disse que "há uma discrepância nas indicações que eu tenho porque na Portugal Telecom dizem que o Marcos Valério foi recebido como representante do PT, enquanto como se viu António Mexia diz que o recebeu como consultor do presidente da República do Brasil".
Leia a seguir a íntegra da reportagem, cujo título era "Mexia admite responder ao Parlamento do Brasil":

 

"O ex-ministro António Mexia pode ser chamado a depor sobre o escândalo do "mensalão", o processo de compra do voto de deputados brasileiros que está a atingir o governo de Lula. Contactado pelo EXPRESSO, Mexia disse estar "disponível para prestar todos os esclarecimentos" sobre um caso em que considera "ridículo" o envolvimento do seu nome.
O deputado Arnaldo Sá de Faria, do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), apresentou um requerimento nesse sentido, justificando assim ao EXPRESSO: "Tenho informações que Marcos Valério se encontrou com Mexia a mando do governo brasileiro para tratar da venda da Varig à Tap e da transferência de contas do Instituto de Resseguros Brasileiro (IRB) para o Banco Espírito Santo".
O requerimento "solicita diligência da Comissão em Portugal para apurar tratativas entre Marcos Valério com o ex-ministro das Obras Públicas".
Quando depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Marcos Valério -o publicitário acusado de ser o "homem da mala" que levava o dinheiro para os deputados apoiarem o governo de Lula- negou que tivesse falado com Mexia sobre qualquer daqueles temas, mas não esclareceu o teor da conversa. Em declarações ao EXPRESSO, António Mexia confirmou ter recebido "o senhor Marcos Valério, na qualidade de consultor do presidente do Brasil e a pedido de Miguel Horta e Costa, presidente da PT, uma empresa de um sector tutelado por mim". Classificando o encontro de "visita de cortesia", garantiu que durou "10 a 15 minutos" e versou apenas "conversa de circunstância. Não houve nenhum tópico específico, muito menos algo que não tinha nada a ver com a minha função de ministro".
O presidente da PT, que esteve presente nesse encontro, também confirma ter servido de elo de ligação entre o publicitário e Mexia. Segundo fonte da PT, Valério encontrava-se em Portugal e pediu para ser recebido por Horta e Costa. O presidente da PT aceitou "no âmbito de reuniões de cortesia, normais, com representantes de um país que representa 40% da PT". No encontro "falou-se de assuntos gerais e no final Valério manifestou interesse em conhecer o ministro do sector. Os serviços da PT encarregaram-se disso", conclui a mesma fonte que esclarece serem este tipo de encontros parte do ""job discription'" de uma empresa como a PT.
Por sua vez, Roberto Jefferson, presidente do PTB com mandato suspenso, reafirma em entrevista ao EXPRESSO o que publicamos na edição anterior: "Marcos Valério veio fazer-me uma proposta. Se podia influir junto ao IRB para transferir os depósitos que tem na Europa, na ordem dos 650 a 700 milhões de dólares, para as contas do BES em Portugal. O BES financiaria a recompra, a reestatização das linhas da Eletronorte". Se a operação fosse concretizada (o que não aconteceu, por Jefferson a ter denunciado), Valério obteria uma comissão de cerca de 40 milhões de dólares, que seriam entregues ao PT e ao PTB.
A escolha do BES para a operação, segundo Jefferson, teria a ver com "as fortes ligações contratuais" entre altos dirigentes do PT, como José Dirceu e Delúbio Soares, além do próprio Marcos Valério, com o banco português. Além disso, Jefferson entendeu a escolha do BES devido aos interesses do banco no Brasil.
O BES nega "qualquer conhecimento" dos encontros mantidos por Valério com Horta e Costa e António Mexia, reafirma não ter "qualquer envolvimento com o IPOB"."


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