São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2005

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Lula cometeu engano brutal se for comprovado "mensalão", diz FHC

DA REDAÇÃO

Em entrevista anteontem à Rádio Nacional, da Argentina, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso qualificou de "muito grave" a crise enfrentada pelo governo e disse que se forem comprovadas as denúncias do "mensalão", terá sido um "engano brutal" do governo Lula.
FHC, que disse ter se surpreendido com as denúncias, não quis afirmar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia do suposto esquema, mas disse que ele "deve ter suspeitado de algo".
O ex-presidente disse que a crise atual difere das vividas pelo país anteriormente por ser unicamente de origem interna.
"Tudo o que acontece no Brasil [atualmente] é fruto do que se fez no governo e de denúncias dos que saem do governo. Por intermédio dessas denúncias internas aos poucos se descobriu que há toda uma rede de vinculações de interesses de partidos com interesses financeiros", afirmou FHC.
Fernando Henrique ressaltou o ineditismo das práticas que teriam acontecido no governo Lula.
"Nunca ouvi falar do que está acontecendo agora, ou seja, o pagamento mensal, que ainda precisa ser comprovado, mas as evidências são muito claras, a deputados de outros partidos para que votem com o governo."
FHC ponderou que depois da democratização, nenhum presidente teve maioria no Congresso, mas disse que Lula errou no modo de construir alianças. "O partido de Lula não teve alianças fortes antes das eleições. Tinha que fazê-las, mas não com esse preço, não pagando, creio que esse foi um erro. Se for comprovado, terá sido um engano brutal."
FHC se declarou surpreso por políticos que conhece há mais de 30 anos, como Lula, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino estarem envolvidos nas denúncias. Ele afirmou que o PT foi vítima da burocratização do partido.
O ex-presidente disse não saber se Lula saberia do esquema, mas que "deve ter suspeitado de algo, porque as pessoas que foram afastadas do partido eram muito próximas a ele". FHC disse: "Com a trajetória que Lula tem, me custa a crer que ele estivesse de acordo com isso. É inaceitável".
O tucano criticou as declarações de Lula durante sua recente viagem à França, de que "o PT fez o que é feito sistematicamente neste país". "Eu não posso aceitar nunca o que o presidente Lula disse em Paris, que [o caixa dois] é uma prática tradicional."
Fernando Henrique também condenou a escolha do presidente por um discurso populista, o que para ele tem como meta a reeleição."Ainda hoje [Lula] quer [a reeleição]. Ele vai querer demonstrar que em quatro anos fez muito mais do que eu em oito. Está permanentemente fazendo comparações sem sentido, considerando que acabou de completar dois anos e meio de governo e está em meio de uma crise brutal. Ele segue com as suas ilusões um tanto ingênuas de crer que o povo vai até o fim aceitar tudo que ele diz."
Ele disse que a conjuntura beneficia as pretensões eleitorais do PSDB para 2006. "Embora não se critique diretamente o presidente, na campanha ele terá que pagar o preço político de ser o chefe de um partido cuja direção se meteu em assuntos de corrupção de um grau imenso. Isso vai diminuir muito as possibilidades de reeleição." (RODRIGO RÖTZSCH)


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