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análise
Dados mostram nova geografia da devastação
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O ministro do Meio Ambiente chamou uma entrevista coletiva para comemorar a previsão de queda no
desmatamento em 2009.
Mas omitiu que os dados divulgados pelo Inpe são quase
todos negativos: o desmatamento em 2008 foi quase
1.000 km2 maior do que se
estimava; Pará e Maranhão
estão fora de controle; e a devastação está cada vez mais
espalhada pela Amazônia.
O dado do Prodes (sistema
que calcula efetivamente a
taxa de desmatamento), divulgado ontem sem alarde
pelo Inpe, mostra que a devastação em 2008 foi de
12.911 km2, não de 11.968
km2. O governo vinha se fiando nesse dado para dizer que
houve "empate técnico" entre 2008 e 2007. Ou seja, para todos os efeitos, havia
queda no desmatamento por
quatro anos seguidos.
O novo dado, obtido a partir de 334 imagens de satélite, mostra que a curva virou
em 2008 e a devastação voltou a crescer. A tendência
para 2009 é de queda.
Mas é na análise da série
histórica de dados do monitoramento por satélite que
está a notícia mais problemática: o padrão geográfico
do desmatamento mudou.
A devastação saiu do chamado Arco do Desmatamento (sudeste do Pará, norte de
Mato Grosso e Rondônia) e
se concentrou no coração do
Pará e no Maranhão. O desmate parece ter se estabilizado em Rondônia e em Mato
Grosso. Para o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, a destruição está "mais difícil de
combater e prever".
Os dois principais focos da
"metástase" do desmate são
a Terra do Meio e o eixo da
BR-163 (Cuiabá-Santarém).
O fato de o desmatamento
persistir ali significa que as
medidas de "governança"
adotadas a partir de 2005
-criação de unidades de
conservação e interdição de
áreas- fracassaram.
Um alerta sombrio para
um governo que se prepara,
usando as ações na BR-163
como exemplo, para rasgar
mais um eixo de devastação
na Amazônia, a BR-319.
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