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Estados e aliados garantem aprovação
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A liberação de mais dinheiro
para os cofres dos Estados e a fidelidade da base governista -notadamente do tradicionalmente dividido PMDB- fizeram com que
o Palácio do Planalto conseguisse
aprovar ontem em primeiro turno, por 378 votos a 53, o texto-base da reforma tributária na Câmara dos Deputados.
Com isso, o governo Luiz Inácio
Lula da Silva conseguiu a segunda
grande vitória política em menos
de um mês -a Câmara aprovou,
em agosto, a reforma da Previdência, que agora está no Senado.
No caso da tributária, o feito ganha densidade por tratar-se da
primeira reforma no setor que
conseguiu chegar a plenário desde a Constituição de 1988.
Lula entregou as duas propostas
de emendas constitucionais ao
Congresso em 30 de abril e quer
vê-las aprovadas até o fim do ano.
A tarefa parece mais complicada
no caso da tributária, que será alvo de já anunciadas mudanças no
Senado -depois de passar pelo
segundo turno na Câmara.
A vitória não foi tão fácil. A votação terminou de madrugada, às
2h50, e representou uma demonstração de força dos governadores, que tiveram seu poder de
pressão posto em xeque pelo Planalto durante as negociações.
As 40 emendas e os oito destaques ao texto do relator Virgílio
Guimarães (PT-MG) -a maioria
do PFL e do PSDB- ficaram para
votação na próxima semana. O
segundo turno deve acontecer no
dia 23.
Apesar do clima de euforia entre os aliados do Planalto, o governo não sentiu segurança em realizar a votação sem o apoio dos governadores e recuou da decisão
tomada um dia antes de ir para o
confronto com eles, que pressionavam por mais recursos.
O resultado foram novas concessões para assegurar a votação
mínima (308 dos 513 deputados).
No final das contas, foram 70 votos de folga.
Pelo novo acordo, o fundo destinado a cobrir as perdas com o
fim do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre as exportações ganhou
mais R$ 1 bilhão e passou a contar
com cerca de R$ 7 bilhões anuais.
Também foi definida uma forma de distribuição aos Estados
dos recursos da Cide (contribuição cobrada sobre as vendas de
combustíveis) de forma a beneficiar São Paulo e Minas Gerais.
Os Estados mais pobres foram
atendidos com uma alteração no
Fundo de Desenvolvimento Regional, criado pela reforma com
R$ 2 bilhões anuais, para dar aos
governadores autonomia na gestão dos recursos.
Foram aprovados também os
pontos considerados prioritários
pelo governo: a prorrogação até
2007 da CPMF (Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira) e da DRU (Desvinculação das Receitas da União, que
permite ao governo usar livremente 20% das receitas).
Em relação às votações da Previdência, houve duas mudanças
significativas. A primeira foi que
ontem os dois maiores partidos
de oposição, PFL e PSDB, ameaçaram até o último momento votar unidos contra o texto. Na Previdência, as duas legendas racharam e deram votos decisivos ao
governo.
No final das contas, parte do
PFL se retirou ontem do plenário
em protesto. O PSDB encaminhou voto contrário. Porém, 15
dos 69 pefelistas e 24 dos 55 tucanos votaram com o governo, fruto
de pressão dos governadores.
Radicais
Apesar disso, os votos oposicionistas agora não foram fundamentais, já que o PMDB -que
negocia cargos e ministérios com
o governo- votou praticamente
unido a favor da proposta.
Os parlamentares aliados garantiram 335 votos para o governo -na reforma da Previdência,
foram apenas 293.
No PT, os oito deputados que se
abstiveram na previdenciária
apoiaram o Planalto. Os votos
contrários ficaram com os chamados radicais: João Fontes (SE),
Luciana Genro (RS) e João Batista
Araújo, o Babá (PA).
A reta final de negociação para o
texto aprovado tornou pública
também uma divisão na articulação governista. De um lado, o presidente da Câmara, João Paulo
Cunha (PT-SP), defendia a negociação com os governadores. De
outro, as lideranças do governo e
dos partidos da base -estimulados pelo Planalto- pressionavam pelo confronto.
(GUSTAVO PATÚ E RANIER BRAGON)
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