São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FOGO CRUZADO

Ex-presidente critica "ingerência política" do governo no setor privado

FHC diz que, "explosivo", Dirceu faz "má política"

ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO REAL (RJ)

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem o que classificou de "ingerência do governo Lula no setor privado" e respondeu aos ataques de José Dirceu ao PSDB, afirmando que o ministro faz "má política".
Na quarta-feira passada, Dirceu disse que o PSDB não tinha autoridade moral para questionar o uso político de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e dos fundos de pensão através de PPPs (Parcerias Público-Privadas) no governo Lula.
"Você conhece o temperamento dele [Dirceu]. O meu é diferente. Eu ouço e deixo passar. Toda hora ele provoca dificuldades mais adiante pela explosividade. Eu acho melhor não fazer isso porque penso no Brasil. Eu não quero queimar pontes nunca. Ele queima sem querer, mas queima, e isso é má política", disse FHC antes de participar de um seminário sobre o desenvolvimento da região sul do Estado do Rio no município de Porto Real (RJ).
O ministro, que estava ontem em Fortaleza, foi informado pela Folha da declaração do ex-presidente, mas não comentou nada.
Durante o evento, FHC também criticou o que disse considerar uma excessiva ingerência do governo Lula no setor privado.
Segundo ele, o setor privado tem de ser regulamentado, mas não deve ficar à mercê da ingerência política do governo.
"Por que falar de ingerência política num momento como este em que o governo está presente em todos os setores da vida nacional? Há ingerência no miúdo, no médio e no graúdo, como se houvesse uma sabedoria onisciente por parte de um único partido", afirmou FHC (1995 a 2002).
Mais adiante, sem citar o governo federal ou o PT, o ex-presidente afirmou que participação política não pode ser confundida com manipulação. "Eu sou homem de partido, sou presidente de honra do PSDB, mas não confundo a opção partidária com a ação pública de quem está no governo."
Na seqüência, FHC afirmou também "que quem está no governo é eleito por um partido para cumprir um programa, e não para usar a máquina pública para botar afiliados do partido".
No encontro, o público era formado principalmente por cabos eleitorais de candidatos a vereador coligados com o PSDB.

Prefeitura paulistana
FHC comentou também o desempenho de José Serra (PSDB) nas pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo.
"O eleitor já aprendeu a discernir. Se não fosse assim, nós [PSDB] não estaríamos na frente em São Paulo, porque a pressão de recursos é tão desproporcional e tão mais forte do ponto de vista econômico hoje para o partido que está no governo [PT], que não teríamos nenhuma chance."
O ex-presidente se baseou na última pesquisa Ibope em São Paulo, na qual Serra tem 34% das intenções de voto e Marta Suplicy (PT), 30%. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais. Levantamento do Datafolha, no entanto, mostra Marta na frente, com 34%, e Serra em segundo, com 30%. A margem de erro da pesquisa Datafolha é de dois pontos.
FHC disse que se ofereceu para visitar bairros paulistanos com Serra. "Mas não pode ser uma participação no dia-a-dia da campanha política. Sou um ex-presidente e tenho que tomar muito cuidado nessas horas para não transformar cada encontro num encontro de um só segmento."


Texto Anterior: Tour presidencial: Lula visitará cidades que são cruciais para petistas
Próximo Texto: Janio de Freitas: O jogo das aparências
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.