São Paulo, quarta-feira, 05 de setembro de 2007

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Para Lula, PT usa plebiscito da Vale para "fazer média"

Presidente acredita que partido quis fazer agrado à Igreja Católica e ao MST

Na visão do Planalto, apoiar anulação da privatização atrapalharia investimentos; presidenciáveis petistas também se dizem contrários

KENNEDY ALENCAR
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que o PT decidiu apoiar o plebiscito para anulação da privatização da Companhia Vale do Rio Doce a fim de "fazer média" com os movimentos sociais, segundo expressão dele próprio em conversa reservada. Lula acha ainda que, se o governo desse gás à iniciativa, haveria forte impacto negativo na economia, desorganizando contratos e afugentando investimentos privados. Por isso, ele é contra.
Na opinião do presidente, o PT pretendeu agradar à Igreja Católica e ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ao dar apoio institucional a um plebiscito para anular a venda da Vale, ocorrida em 1997. A decisão do PT foi tomada no 3º Congresso do partido, no final de semana. A igreja e o MST são as entidades que comandam a campanha.
De acordo com ministros próximos a Lula, acuado politicamente pela decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de aceitar a denúncia do mensalão contra 40 acusados, o PT deu guarida ao plebiscito para reconquistar uma marca de esquerda perante a opinião pública de um modo geral e os militantes em particular. Ou seja, uma tentativa de guinada à esquerda, reaproximando-se dos movimentos sociais, para fazer contraponto à perda do pilar ético após o mensalão.
A Folha apurou que Lula acha que uma reestatização desorganizaria todos os contratos entre Estado e iniciativa privada, além de desestabilizar investimentos em andamento e que poderão ser feitos no futuro no Brasil. Ele considera que, depois de dedicar o primeiro mandato a ganhar credibilidade perante investidores estrangeiros, seria um erro embarcar na reestatização da Vale.
Lula disse em reunião anteontem com seus principais ministros que a campanha pela reestatização da Vale "não é assunto do governo". Orientou os ministros a não dar corda a essa iniciativa, que chamou de "inconveniente" e "irrealista".
Um auxiliar direto de Lula diz que "é muito boa, de muita confiança" a relação entre o presidente e diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli. O comandante da empresa tem acesso direto a Lula e transita bem na Casa Civil da ministra Dilma Rousseff. Petistas como o senador Aloizio Mercadante (SP) apóiam lobbies da empresa no governo e no Congresso.
Quatro petistas cotados para concorrer ao Palácio do Planalto em 2010 são contrários a anular a privatização da Vale.
O governador da Bahia, Jaques Wagner, considerou "intempestivo" realizar o plebiscito. Disse que foi contra a privatização da empresa na época, mas que considera esse "processo concluso". Afirmou que só "fatos novos" e "relevantes" poderiam alterar sua opinião.
O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, disse que a proposta do PT "é inócua". Afirmou que custaria muito caro o Estado recomprar a empresa e que não vê justificativa para anular o leilão.
"Uma reestatização seria uma quebra de contrato e, portanto, muito ruim para a economia do Brasil. Todos os países desenvolvidos têm, no seu núcleo duro da economia, empresas de capital nacional. A Vale é uma empresa estratégica para o país", disse Pimentel.
Já o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, disse durante o encontro do PT que havia sido voto vencido na decisão que aprovou o apoio ao plebiscito. "Tenho uma avaliação muito crítica sobre o leilão da Vale, mas, como integrante do governo, tenho também a responsabilidade de governo. Não sei no que o plebiscito pode contribuir", disse Patrus.
Por meio da sua assessoria, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, disse: "Sou contra a ação [o plebiscito]. É fora de hora e de século".
Procurada nos últimos dois dias, a assessoria da Vale disse que Agnelli, seu diretor-presidente, está fora do país e que a empresa não se manifestaria.


Colaborou a Sucursal do Rio

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