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Para Lula, PT usa plebiscito da Vale para "fazer média"
Presidente acredita que partido quis fazer agrado à Igreja Católica e ao MST
Na visão do Planalto, apoiar anulação da privatização
atrapalharia investimentos; presidenciáveis petistas
também se dizem contrários
KENNEDY ALENCAR
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que o PT decidiu apoiar o plebiscito para
anulação da privatização da
Companhia Vale do Rio Doce a
fim de "fazer média" com os
movimentos sociais, segundo
expressão dele próprio em conversa reservada. Lula acha ainda que, se o governo desse gás à
iniciativa, haveria forte impacto negativo na economia, desorganizando contratos e afugentando investimentos privados. Por isso, ele é contra.
Na opinião do presidente, o
PT pretendeu agradar à Igreja
Católica e ao MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) ao dar apoio institucional a um plebiscito para anular
a venda da Vale, ocorrida em
1997. A decisão do PT foi tomada no 3º Congresso do partido,
no final de semana. A igreja e o
MST são as entidades que comandam a campanha.
De acordo com ministros
próximos a Lula, acuado politicamente pela decisão do STF
(Supremo Tribunal Federal) de
aceitar a denúncia do mensalão
contra 40 acusados, o PT deu
guarida ao plebiscito para reconquistar uma marca de esquerda perante a opinião pública de um modo geral e os militantes em particular. Ou seja,
uma tentativa de guinada à esquerda, reaproximando-se dos
movimentos sociais, para fazer
contraponto à perda do pilar
ético após o mensalão.
A Folha apurou que Lula
acha que uma reestatização desorganizaria todos os contratos
entre Estado e iniciativa privada, além de desestabilizar investimentos em andamento e
que poderão ser feitos no futuro no Brasil. Ele considera que,
depois de dedicar o primeiro
mandato a ganhar credibilidade perante investidores estrangeiros, seria um erro embarcar
na reestatização da Vale.
Lula disse em reunião anteontem com seus principais
ministros que a campanha pela
reestatização da Vale "não é assunto do governo". Orientou os
ministros a não dar corda a essa iniciativa, que chamou de
"inconveniente" e "irrealista".
Um auxiliar direto de Lula
diz que "é muito boa, de muita
confiança" a relação entre o
presidente e diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli. O comandante da empresa tem
acesso direto a Lula e transita
bem na Casa Civil da ministra
Dilma Rousseff. Petistas como
o senador Aloizio Mercadante
(SP) apóiam lobbies da empresa no governo e no Congresso.
Quatro petistas cotados para
concorrer ao Palácio do Planalto em 2010 são contrários a
anular a privatização da Vale.
O governador da Bahia, Jaques Wagner, considerou "intempestivo" realizar o plebiscito. Disse que foi contra a privatização da empresa na época,
mas que considera esse "processo concluso". Afirmou que
só "fatos novos" e "relevantes"
poderiam alterar sua opinião.
O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, disse
que a proposta do PT "é inócua". Afirmou que custaria
muito caro o Estado recomprar
a empresa e que não vê justificativa para anular o leilão.
"Uma reestatização seria
uma quebra de contrato e, portanto, muito ruim para a economia do Brasil. Todos os países desenvolvidos têm, no seu
núcleo duro da economia, empresas de capital nacional. A
Vale é uma empresa estratégica para o país", disse Pimentel.
Já o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias,
disse durante o encontro do PT
que havia sido voto vencido na
decisão que aprovou o apoio ao
plebiscito. "Tenho uma avaliação muito crítica sobre o leilão
da Vale, mas, como integrante
do governo, tenho também a
responsabilidade de governo.
Não sei no que o plebiscito pode contribuir", disse Patrus.
Por meio da sua assessoria, a
ministra do Turismo, Marta
Suplicy, disse: "Sou contra a
ação [o plebiscito]. É fora de
hora e de século".
Procurada nos últimos dois
dias, a assessoria da Vale disse
que Agnelli, seu diretor-presidente, está fora do país e que a
empresa não se manifestaria.
Colaborou a Sucursal do Rio
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