|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
STF assiste a novo embate de ministros
Marco Aurélio questiona entrevista em que Barbosa cita discussão com colega
Barbosa dissera que, "sem briga com Marco Aurélio, caso Anaconda não teria condenação'; colega diz que fala "surgiu como complexo"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco
Aurélio Mello e Joaquim Barbosa protagonizaram, no plenário, um novo desentendimento, desta vez relacionado à
recente entrevista de Barbosa à
Folha. Marco Aurélio chegou a
dizer que as declarações feitas
pelo colega "surgiram praticamente como complexo".
Na ocasião, Barbosa afirmou
que "enganaram-se os que pensavam que o STF iria ter um
negro submisso", disse que não
se cala quando vê algo errado e
que, quando se desentende
com colegas, "está defendendo
princípios caros à sociedade".
Na entrevista, publicada em
25 de agosto, atribuiu a uma
das brigas, com o próprio Marco Aurélio, a garantia da condenação dos réus envolvidos na
Operação Anaconda, da Polícia
Federal. "Sem aquela briga
com o ministro Marco Aurélio,
o caso Anaconda não teria condenação e cumprimento de penas pelos réus", disse ele na entrevista. A operação investigou
suposta venda de sentenças
por membros do Judiciário.
Ontem, enquanto os ministros julgavam uma ação, Barbosa, relator do caso, pediu a
palavra a Marco Aurélio, que
falava, mas não obteve sucesso.
"Eu sei que Vossa Excelência
é um guardião maior, talvez suplantando até nossas posições,
da Constituição. Pelo menos
Vossa Excelência assim se diz.
Mas vamos aguardar um pouquinho eu terminar o meu raciocínio", disse Marco Aurélio.
Barbosa voltou a pedir a palavra, mas Marco Aurélio continuou, referindo-se à operação
da PF. "O senhor vai me permitir uma observação. Eu esperava que Vossa Excelência consertasse algo que saiu em uma
entrevista. Que, se não fosse a
nossa desavença, o pessoal da
Anaconda não teria sido condenado. Penso que a nossa desavença ficou em uma questão
estritamente instrumental."
Barbosa tentou encerrar a
discussão. "Ministro, não misturemos as coisas, estamos discutindo outra questão". Marco
Aurélio continuou: "Não quero
que Vossa Excelência tome o
que veiculei em termos de ser
censor ou não ser censor, ser
defensor maior ou menor da
Constituição como uma agressão. Não é não, todos somos defensores da Constituição".
Barbosa desconversou: "Voltemos ao exame da Adin 3501,
é disso que se cuida aqui". "Excelência se cuida aqui de STF",
disse Marco Aurélio. "Vossa
Excelência não precisa me ensinar", rebateu Barbosa. Marco
Aurélio continuou. "Enquanto
eu tiver assento nesta casa,
ninguém virá a me emudecer.
Vossa Excelência mesmo
apontou algo que, sob a minha
ótica, surgiu praticamente como complexo, que Vossa Excelência não deve ter." "Ninguém
me emudecerá também. Na entrevista discuti fatos, aqui estou discutindo direito", disse
Barbosa. Os outros ministros
se entreolharam. Carlos Alberto Direito fez gestos pedindo
que alguém encerrasse o debate. Celso de Mello, então, pediu
a palavra.
(FELIPE SELIGMAN)
Texto Anterior: Foco: Empresa em SP vende por R$ 1.870 programa que protege celular de grampo Próximo Texto: Presidência: "Fui o melhor dirigente sindical do Brasil nos anos 70", diz Lula Índice
|