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ADMINISTRAÇÃO
Para o ex-secretário Ozires Lopes Filho, decisão pode representar "atentado contra a segurança jurídica"
Medida provisória dá autonomia à Receita
JULIANNA SOFIA
FLÁVIA SANCHES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Perto do fim de seu mandato e a
três dias do primeiro turno das
eleições, o presidente Fernando
Henrique Cardoso assinou medida provisória aumentando os poderes da Receita Federal, que passará a ter autonomia administrativa e financeira.
A medida abre caminho para a
transformação da secretaria em
uma autarquia (entidade pública
com receita e patrimônio próprios). Essa é a segunda MP que
regulamenta assuntos importantes divulgada nesta semana.
Na última quarta, MP regulamentou a participação de capital
estrangeiro em empresas jornalísticas e emissoras de rádio e TV.
A transformação da Receita em
autarquia tem resistências dentro
do Ministério da Fazenda. Além
da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, que perderia espaço
na defesa judicial de assuntos tributários e na execução da dívida
ativa, setores da própria secretaria
são contra a autarquização.
"É sonho de todos nós aumentar o grau de autonomia do órgão,
e a autarquização seria uma alternativa. Mas nem sempre é possível fazer tudo o que se quer", disse
o secretário-adjunto da Receita
Ricardo Pinheiro.
Pinheiro explicou que o processo para ampliar a autonomia da
secretaria foi iniciado em 1995.
"Se começou neste governo, nada
mais justo que seja concluído neste governo. Não se trata de blindagem nem está sendo instituída
uma autarquia ou agência."
A Receita Federal permanecerá
sob a supervisão do Ministério da
Fazenda. A medida provisória
permite que o quadro de pessoal
da secretaria possa ser administrado por ela própria. A contratação continuará sendo feita por
meio de concurso público.
O Fundaf (Fundo Especial de
Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização), que já é gerido pela Receita, passará a contar com recursos
orçamentários a ela destinados
-cerca de R$ 800 milhões.
Hoje o fundo é formado com receita proveniente de multas, juros
e emissão de selos pela Receita.
Em 2001, o volume movimentado
pelo Fundaf somou R$ 3 bilhões.
A MP também determina que
um eventual superávit financeiro
seja mantido no fundo. Hoje, caso
o Fundaf registre saldo positivo
ao final do ano, os recursos vão
para o Tesouro Nacional, zerando
o caixa do fundo. "Mas isso não
quer dizer que teremos acesso a
todos esses recursos. Continuaremos limitados ao Orçamento.
Numa eventualidade temos uma
fonte, mas precisamos pedir autorização para usar os recursos do
Fundaf", disse Pinheiro.
A medida provisória também
criou uma unidade de assessoramento jurídico dentro da estrutura da Receita. A unidade é vinculada à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e atuará em tarefas burocráticas (licitação, por
exemplo) e na defesa judicial do
secretário da Receita.
Repercussão
Para o presidente da Unafisco
(Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal),
Paulo Gil, a medida dá liberdade
para que a secretaria crie regulamentos para os servidores, além
de politizar a direção da Receita.
O ex-secretário da Receita Federal Ozires Lopes Filho afirma que
uma modificação como essa deveria ter sido feita há oito anos. "É
muito estranho fazer isso no final
do governo", comentou.
Ozires Filho disse que a mudança pode, por exemplo, dar mais
poder para a Receita alterar decisões do Conselho de Contribuintes. "É um atentado contra a segurança jurídica porque tira a utilidade do conselho", afirmou.
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