São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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Petista "pisca" pela primeira vez

RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos debates da Bandeirantes e da Record ele foi quase um "astro especialmente convidado", tamanho seu conforto diante do pugilato entre os adversários. Mas na Globo, anteontem à noite, Lula "piscou" pela primeira vez na atual campanha.
Da resposta desastrada à indagação de William Bonner sobre adoção de cotas -"critérios científicos", disse o petista, seriam usados para definir quem é negro- ao despreparo ante a pergunta de Serra a respeito da tarifa de ônibus em São Paulo -"deve haver razões para a Marta cobrar o que está cobrando"-, Lula se enrolou em diversos momentos.
Pode-se argumentar que a armadilha preparada por Garotinho tratava de assunto obscuro -a Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico, ou Cide, cobrada sobre os combustíveis. Mas nunca é agradável para um candidato ser flagrado, como foi o petista, em total desconhecimento do que lhe foi perguntado.
Utilizada sem dificuldade nos debates anteriores, a estratégia de jamais entrar em bolas divididas desta vez foi confrontada pelo mediador -"Afinal, o sr. é a favor ou contra a transposição do rio São Francisco?"- e em seguida por Garotinho -"Lula, você nesta campanha não responde nada. Agora, diga se é contra ou a favor".
Não que o petista tenha cedido à pressão. Seguiu driblando essa e outras questões. A diferença é que sua opção foi posta a nu.

Irritação
Mais significativa do que os tropeços foi a substituição da bonomia pela irritação no tratamento dispensado ao candidato do governo.
Na resposta sobre a tarifa paulistana, Serra foi desautorizado porque "não anda de ônibus". Quando pediu a Lula que descrevesse sua proposta para a habitação, foi condenado por supostamente não ter lido o programa de governo do PT.
Em várias ocasiões ao longo dos quatro blocos, transmitiu a impressão de que não aceita ser questionado.
Não foi à toa que o petista pediu desculpas ao tucano nas considerações finais. Em um dos intervalos do programa, ouviu de Duda Mendonça que telespectadores monitorados em tempo real haviam enxergado arrogância em sua resposta sobre o plano para a habitação.
Entre erros e acertos, Serra, Garotinho e Ciro foram anteontem mais ou menos os mesmos dos debates anteriores. Lula, por deliberação ou acidente, não.
Isso pode ou não ter influência sobre o que acontecerá amanhã, a depender das percepções do público.
Como de praxe depois de debates, as assessorias das campanhas se empenhavam ontem em anunciar pesquisas qualitativas e trackings destinados a mostrar a "vitória" de seus respectivos candidatos no debate. É informação de pouco valor.
Mais relevante é perceber, a partir dos indicadores oferecidos pelo programa apresentado na Globo, que um eventual segundo turno poderá colocar em xeque os princípios do zen-lulismo.


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