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Petista "pisca" pela primeira vez
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos debates da Bandeirantes e da Record ele foi quase
um "astro especialmente
convidado", tamanho seu
conforto diante do pugilato
entre os adversários. Mas na
Globo, anteontem à noite,
Lula "piscou" pela primeira
vez na atual campanha.
Da resposta desastrada à
indagação de William Bonner sobre adoção de cotas
-"critérios científicos", disse o petista, seriam usados
para definir quem é negro-
ao despreparo ante a pergunta de Serra a respeito da
tarifa de ônibus em São Paulo -"deve haver razões para
a Marta cobrar o que está cobrando"-, Lula se enrolou
em diversos momentos.
Pode-se argumentar que a
armadilha preparada por
Garotinho tratava de assunto obscuro -a Contribuição
de Intervenção sobre Domínio Econômico, ou Cide, cobrada sobre os combustíveis. Mas nunca é agradável
para um candidato ser flagrado, como foi o petista, em
total desconhecimento do
que lhe foi perguntado.
Utilizada sem dificuldade
nos debates anteriores, a estratégia de jamais entrar em
bolas divididas desta vez foi
confrontada pelo mediador
-"Afinal, o sr. é a favor ou
contra a transposição do rio
São Francisco?"- e em seguida por Garotinho -"Lula, você nesta campanha não
responde nada. Agora, diga
se é contra ou a favor".
Não que o petista tenha cedido à pressão. Seguiu driblando essa e outras questões. A diferença é que sua
opção foi posta a nu.
Irritação
Mais significativa do que
os tropeços foi a substituição
da bonomia pela irritação no
tratamento dispensado ao
candidato do governo.
Na resposta sobre a tarifa
paulistana, Serra foi desautorizado porque "não anda
de ônibus". Quando pediu a
Lula que descrevesse sua
proposta para a habitação,
foi condenado por supostamente não ter lido o programa de governo do PT.
Em várias ocasiões ao longo dos quatro blocos, transmitiu a impressão de que
não aceita ser questionado.
Não foi à toa que o petista
pediu desculpas ao tucano
nas considerações finais. Em
um dos intervalos do programa, ouviu de Duda Mendonça que telespectadores
monitorados em tempo real
haviam enxergado arrogância em sua resposta sobre o
plano para a habitação.
Entre erros e acertos, Serra, Garotinho e Ciro foram
anteontem mais ou menos
os mesmos dos debates anteriores. Lula, por deliberação ou acidente, não.
Isso pode ou não ter influência sobre o que acontecerá amanhã, a depender
das percepções do público.
Como de praxe depois de
debates, as assessorias das
campanhas se empenhavam
ontem em anunciar pesquisas qualitativas e trackings
destinados a mostrar a "vitória" de seus respectivos candidatos no debate. É informação de pouco valor.
Mais relevante é perceber,
a partir dos indicadores oferecidos pelo programa apresentado na Globo, que um
eventual segundo turno poderá colocar em xeque os
princípios do zen-lulismo.
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