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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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CAMPO MINADO

Fazendeiros alegam medo de ações do governo e ampliam estrutura de entidades para evitar invasões em propriedades

Política agrária de Lula "recria" ruralistas

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

O alegado temor dos fazendeiros diante das ações do governo Luiz Inácio Lula da Silva na questão fundiária causou um boom nas entidades ruralistas. Além de um discurso de união de classe, o efeito tem causado ampliação de sedes, abertura de escritórios, contratação de funcionários e aquisição de equipamentos.
Segundo as lideranças rurais, houve uma corrida de filiações para obter respaldo das assessorias jurídicas das entidades em caso de invasão de fazendas. O foco da estruturação dos ruralistas -principalmente São Paulo e Paraná-, é o mesmo apontado pela Polícia Federal como centro dos conflitos agrários no país.
"É um crescimento vertiginoso, com a impossibilidade de atendermos a todos, principalmente nos pedidos de assessoria para os casos de invasões", disse o presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Antônio Ernesto de Salvo.
Os ruralistas dizem que a sinalização de que o governo federal não cumprirá a medida provisória antiinvasão incentiva as invasões de terra. A reclamação dos fazendeiros é também contra os governos estaduais, que, segundo eles, são "lentos" e "omissos" no cumprimento de ordens judiciais de reintegração de posse.
Fora dos holofotes nos últimos dez anos, a UDR (União Democrática Ruralista) é um exemplo. A entidade vai abrir neste mês sua sede nacional em Brasília e inaugurou na semana passada um serviço de filiação pela internet.
Conhecida nacionalmente por sua atuação lobista durante a Assembléia Nacional Constituinte (1987-1988), a UDR foi criada em 1985, em Goiás, pelo médico, produtor rural e hoje deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO). Foi extinta em 1994 e rearticulada dois anos depois.
Hoje, em relação a dezembro do ano passado, o número de filiados da UDR cresceu 260%, passando de 2.500 para 9.000 fazendeiros.
"Diante da inoperância do governo e da atuação desses movimentos que se dizem sociais, os produtores rurais tiveram de se unir. Ninguém aguenta mais invasão de terra", afirmou Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente nacional da UDR e proprietário rural no Pontal, região de maior conflito agrário em São Paulo.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, de janeiro a agosto deste ano ocorreram 184 invasões, superando o total registrado de janeiro a dezembro de 2001 e 2002, com 158 e 103 casos, respectivamente. A assessoria de imprensa do ministério informou que ninguém comentaria as críticas dos ruralistas.
"O produtor, diante de uma sensação de insegurança, está se politizando. A tendência é que o número de filiados cresça ainda mais", disse João Bosco Leal, 49, presidente do MNP (Movimento Nacional de Produtores). Do final do ano passado até hoje, a entidade aponta que triplicaram as visitas em sua página na internet (26 mil para 77 mil) e cresceu em 35% a quantidade de contribuintes.
"É claro que a eleição de Lula fez com que as entidades ruralistas se reorganizassem. Tornou-se uma necessidade, quando a lei não é cumprida", disse Aluizio Rezende, da UDPR (União de Defesa de Propriedades Rurais), que aumentou de 70 para 150 os associados em MG desde janeiro.


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