São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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OUTRO LADO

Para Cassol, há perseguição política

DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O governador Ivo Cassol, 45, declarou à Folha que não acredita que os caciques das tribos cintas-largas o tenham acusado de condicionar melhorias na reserva Roosevelt à permissão para extrair diamantes na área.
"É mentira de quem falou, ou armação de algum servidor corrupto da Funai. Estão querendo desviar a atenção para continuar na marginalidade", declarou, em entrevista por telefone.
Cassol diz que está pagando o preço por ter denunciado publicamente a existência do garimpo ilegal na reserva e por ter defendido a legalização da extração mineral na terra indígena.
"Estão querendo tapar o sol com a peneira. Se eu tivesse envolvimento [com o contrabando], não teria denunciado. Teria ficado quieto e comido junto. Não estou no governo para me ajeitar."
Ele disse que, como acionista de cinco usinas hidrelétricas em Rondônia, tem uma atividade "muito melhor do que diamante", porque o governo federal devolve aos empresários 75% dos custos das usinas implantadas em áreas isoladas, como no seu caso.
"Estou enfrentando gatos e lagartos por tentar fazer uma boa administração e não envergonhar minha família."
Cassol disse que preveniu o governo federal sobre a possibilidade de chacina dentro da reserva Roosevelt. Em setembro e outubro do ano passado, enviou ofícios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, descrevendo a situação de conflito existente entre índios e garimpeiros e propondo a legalização do garimpo nas terras indígenas.
O governador negou conhecer o doleiro Marcos Glikas. Disse que a foto em que participam de uma reunião no palácio do governo refere-se a um evento corriqueiro em sua função de governador e que, se o vir, não saberá quem é.
Disse que soube, quando foi convocado para depor como testemunha de defesa de Glikas, que ele havia estado no palácio com um grupo ligado à Universidade Federal de Viçosa, para apresentar um projeto de recuperação ambiental. "Como homem público, tiro fotos com todo mundo. Não tenho frescuras."
Em relação a José Roberto Gonsalez, detido em setembro do ano passado por entrar na reserva sem autorização da Funai, Cassol disse que se surpreendeu ao saber que se tratava de comerciante de pedras preciosas a serviço de empresas estrangeiras.
O governador disse que o escritório regional da Abin (Agência Brasileira de Informação) em Rondônia investigou Gonsalez, a seu pedido, e lhe assegurou que ele tinha "ficha limpa" e poderia trabalhar para a CMR (Companhia de Mineração de Rondônia), empresa de capital controlado pelo Estado.
Em 25 de setembro de 2003, Gonsalez foi nomeado representante comercial da CMR, com poderes para representar a estatal no Brasil e no exterior e para receber e fazer propostas a empresas e entidades governamentais. Pouco depois, foi detido na reserva.
A presidente da CMR, Leandra Vivian, disse à Folha que Gonsalez a procurou em companhia do professor aposentado da Universidade Federal de Viçosa Laércio Couto, presidente do Centro Mineiro para Conservação da Natureza. "Se não fosse o aval da universidade, não o teríamos recebido", afirmou.
Ela o descredenciou como representante comercial da CMR depois que ele foi detido em situação ilegal na reserva indígena.

Funai
O governador não poupou críticas à Funai (Fundação Nacional do Índio), que define como um governo paralelo dentro do Brasil. "Um funcionário da Funai, sozinho, tem mais poder do que o Exército, a Polícia Militar e o governador do Estado, porque decide quem entra e quem não entra nas reserva indígenas."
Segundo Cassol, a extração ilegal de diamantes acontece com a complacência de funcionários corruptos do órgão e haveria "gente graúda" envolvida no contrabando. "Se me deixarem entrar lá, esclareço a situação em 30 dias. (...) Acusaram-me para desviar a atenção, porque acusar governador dá ibope."
Ele disse que vai processar o Ministério Público Federal.


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