|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OUTRO LADO
Para Cassol, há perseguição política
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O governador Ivo Cassol, 45,
declarou à Folha que não acredita
que os caciques das tribos cintas-largas o tenham acusado de condicionar melhorias na reserva
Roosevelt à permissão para extrair diamantes na área.
"É mentira de quem falou, ou
armação de algum servidor corrupto da Funai. Estão querendo
desviar a atenção para continuar
na marginalidade", declarou, em
entrevista por telefone.
Cassol diz que está pagando o
preço por ter denunciado publicamente a existência do garimpo
ilegal na reserva e por ter defendido a legalização da extração mineral na terra indígena.
"Estão querendo tapar o sol
com a peneira. Se eu tivesse envolvimento [com o contrabando],
não teria denunciado. Teria ficado quieto e comido junto. Não estou no governo para me ajeitar."
Ele disse que, como acionista de
cinco usinas hidrelétricas em
Rondônia, tem uma atividade
"muito melhor do que diamante", porque o governo federal devolve aos empresários 75% dos
custos das usinas implantadas em
áreas isoladas, como no seu caso.
"Estou enfrentando gatos e lagartos por tentar fazer uma boa
administração e não envergonhar
minha família."
Cassol disse que preveniu o governo federal sobre a possibilidade de chacina dentro da reserva
Roosevelt. Em setembro e outubro do ano passado, enviou ofícios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, descrevendo a situação de conflito existente entre índios e garimpeiros e
propondo a legalização do garimpo nas terras indígenas.
O governador negou conhecer o
doleiro Marcos Glikas. Disse que
a foto em que participam de uma
reunião no palácio do governo refere-se a um evento corriqueiro
em sua função de governador e
que, se o vir, não saberá quem é.
Disse que soube, quando foi
convocado para depor como testemunha de defesa de Glikas, que
ele havia estado no palácio com
um grupo ligado à Universidade
Federal de Viçosa, para apresentar um projeto de recuperação
ambiental. "Como homem público, tiro fotos com todo mundo.
Não tenho frescuras."
Em relação a José Roberto Gonsalez, detido em setembro do ano
passado por entrar na reserva sem
autorização da Funai, Cassol disse
que se surpreendeu ao saber que
se tratava de comerciante de pedras preciosas a serviço de empresas estrangeiras.
O governador disse que o escritório regional da Abin (Agência
Brasileira de Informação) em
Rondônia investigou Gonsalez, a
seu pedido, e lhe assegurou que
ele tinha "ficha limpa" e poderia
trabalhar para a CMR (Companhia de Mineração de Rondônia),
empresa de capital controlado pelo Estado.
Em 25 de setembro de 2003,
Gonsalez foi nomeado representante comercial da CMR, com poderes para representar a estatal no
Brasil e no exterior e para receber
e fazer propostas a empresas e entidades governamentais. Pouco
depois, foi detido na reserva.
A presidente da CMR, Leandra
Vivian, disse à Folha que Gonsalez a procurou em companhia do
professor aposentado da Universidade Federal de Viçosa Laércio
Couto, presidente do Centro Mineiro para Conservação da Natureza. "Se não fosse o aval da universidade, não o teríamos recebido", afirmou.
Ela o descredenciou como representante comercial da CMR
depois que ele foi detido em situação ilegal na reserva indígena.
Funai
O governador não poupou críticas à Funai (Fundação Nacional
do Índio), que define como um
governo paralelo dentro do Brasil.
"Um funcionário da Funai, sozinho, tem mais poder do que o
Exército, a Polícia Militar e o governador do Estado, porque decide quem entra e quem não entra
nas reserva indígenas."
Segundo Cassol, a extração ilegal de diamantes acontece com a
complacência de funcionários
corruptos do órgão e haveria
"gente graúda" envolvida no contrabando. "Se me deixarem entrar
lá, esclareço a situação em 30 dias.
(...) Acusaram-me para desviar a
atenção, porque acusar governador dá ibope."
Ele disse que vai processar o Ministério Público Federal.
Texto Anterior: STJ investiga governador de RO por extração de diamantes Próximo Texto: Questão indígena: Investigado diz que só compra pedras legais Índice
|