São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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JANIO DE FREITAS

Votos de bons votos


Renovação de gerações não se equivale necessariamente a inovação, modernização e tudo o mais que conviria
ENTRE AS CAPITAIS de maior presença nacional, São Paulo é a única a não se oferecer às brisas de renovação que as eleições de prefeito revelam.
Em Porto Alegre, três moças da nova geração política, todas admiradas (também) pela dedicação como deputadas federais, é que deram vida à disputa contra a reeleição do ex-senador José Fogaça. Em Curitiba, além de outra presença feminina, mesmo a reeleição de Beto Richa, se confirmar as pesquisas, atestaria o impulso renovador, neste caso já com um segundo aval dos eleitores. Resolvidas as pendengas extra-urnas que honram a tradição nordestina, no Recife a renovação em curso preparou mais um passo com João da Costa.
Em Salvador, a renovação teve até a originalidade de criar a antigüidade renovada, na pessoa do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto. No Rio e em Belo Horizonte, dê a disputa no que der em qualquer turno, o que a eleição promete é mais renovação em gerações administrativas e em remontagem das forças políticas. Não faltariam outras citações das brisas de renovação. Os exemplos bastam, porém, para a percepção de um movimento que amplia espaço e interesse.
Renovação é, no caso, a palavra-limite. Trata-se só de renovação pessoal, de gerações. O que por certo implica, bem mais do que a sucessão natural, que não foi imposta, uma insatisfação inconformada. Mas a renovação de gerações e a insatisfação presentes não se equivalem necessariamente, ao longo da política brasileira, a inovação, mudança, modernização, criatividade, e tudo o mais que conviria muito.
É fácil intuir muitas vozes, em uníssono, atribuindo a repetida falta de tais qualidades aos resultados produzidos pelas urnas. O eleitor, assim generalizado, é vítima, no entanto. Objeto de manipulação que começa no partido mesmo, a cuja cúpula cabe o ato exclusivo de induzir as indicações ou vender as vagas nas eleições majoritárias. Segue-se um sistema de propaganda que ao eleitorado não permite o conhecimento fundamental dos candidatos postos à "sua escolha", ao que se soma a influência dos recursos financeiros em competição. Por fim, eleitos, os meios de comunicação não praticam um acompanhamento das casas legislativas e dos executivos que proporcione ao eleitorado informações apropriadas e atualizadas sobre os eleitos. E, de volta às eleições, o giro do círculo se repete.
Desejo-lhe sorte nos seus votos, leitora/leitor.
Novidade mais original foi provocada no Rio pelo sensacionalismo das reservas de territórios eleitorais, verdadeiras ou não, em várias favelas. Dizer que isso sempre existiu é pouco.
Mais correto é dizer que isso existe no Brasil todo. Ou não existiriam os cabos-eleitorais, esta figura da mais alta importância nas instituições políticas e administrativas brasileiras. Explicação básica para a sempre fácil eleição de neófitos endinheirados, ao Senado e à Câmara que são rampas de lançamento para o ministério, às Câmaras Municipais e às Assembléias Estaduais, a governos e prefeituras. Sem exagero, cabo-eleitoral é a mais influente profissão na política e na composição administrativa do Brasil. Vê-se que, apesar de sempre alta, ainda é injusta a sua remuneração. É só comparar com os ganhos do seu eleito no decurso do mandato.
O Exército também cobrou alto da Justiça Eleitoral para o que o presidente do TSE, ministro Carlos Ayres Britto, prefere que se chame de interferência e não de intervenção: R$ 46 milhões de imediato, e já entregues, e depois uns R$ 450 milhões do Orçamento da União. Não se pode dizer que Exército e Fuzileiros Navais tenham entrado, propriamente, nas favelas. Lá estiveram, digamos. E o fizeram com muita habilidade, banda de música a indicar logo o sentido pacífico da visita, de tal sorte que a bandidagem jamais incomodou os militares. Nem foi incomodada. Findas as visitas de poucas horas, tudo voltou à regra eleitoral anterior.
Ficou, porém, um fato a não ser esquecido: presidente do TRE, o desembargador Alberto Motta Moraes, entrou em várias favelas. O primeiro juiz a conhecer com os próprios olhos, e sentimentos de inspiração direta, as verdades mais que centenárias da favela.


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