São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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Poesia de Mário de Andrade ajuda a refletir sobre vida da metrópole

Versos de poeta modernista são relembrados em trabalho de Alex Flemming

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um pouco de poesia no dia da escolha do novo administrador da capital paulista pode ajudar o eleitor a refletir sobre a sua cidade, essa São Paulo tão amada e tão odiada em suas contradições. É do artista plástico Alex Flemming (veja boxe abaixo) o trabalho realizado sobre as fotografias dos três principais candidatos à Prefeitura de São Paulo (veja acima).
Para emoldurar as imagens dos candidatos, Flemming selecionou alguns versos do poema "A Meditação sobre o Tietê", que Mário de Andrade escreveu pouco antes de sua morte, em fevereiro de 1945.
Embora naquela época já apresentasse os primeiros sinais de degradação ("É noite. E tudo é noite. Debaixo do arco admirável/ Da Ponte das Bandeiras o rio/ Murmura num banzeiro de água pesada e oleosa"), o rio, fonte de inspiração do poeta, também funciona como um espelho do cenário urbano, refletindo em seu leito noturno as luzes da metrópole, as incontáveis ruas, os arranha-céus, o mundo do trabalho, da fábrica, enfim, a cidade pujante que então já se desenhava.
Diferentemente da maioria dos rios, o Tietê, em vez de correr para o mar, corre para o interior. Surge, assim, na pena do poeta, como poderosa metáfora do paulista desbravador: corajoso, adentra os interiores da terra em sarcástico desafio ao curso normal das águas ("E te afastas do mar e te adentras na terra dos homens (...)/ Me induzindo com a tua insistência turrona paulista/ Para as tempestades humanas da vida, rio, meu rio!...").
Em sua meditação, o poeta vê o rio como síntese das contradições da cidade: "Estas águas/ Do meu Tietê são abjetas e barrentas,/ Dão febre, dão morte decerto, e dão garças e antíteses". Crítico, todavia, não se conforma e indaga: "A culpa é tua, Pai Tietê? A culpa é tua/ Si as tuas águas estão podres de fel (...)/ Onde estão os amigos? Onde estão os inimigos?" (...) "Por que os homens não me escutam! Por que os governadores/ Não me escutam?".
À sua maneira, crítica, livre de qualquer pieguice, o "bardo mestiço" homenageia São Paulo e faz sua declaração de amor ao Tietê, que merece ter de volta as suas águas cristalinas, realizando um sonho possível dos paulistanos. Leia o poema na íntegra no site www.jornalde poesia.jor.br/and08.html.


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