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Poesia de Mário de Andrade ajuda a refletir sobre vida da metrópole
Versos de poeta modernista são relembrados em trabalho de Alex Flemming
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um pouco de poesia no dia da
escolha do novo administrador
da capital paulista pode ajudar
o eleitor a refletir sobre a sua cidade, essa São Paulo tão amada
e tão odiada em suas contradições. É do artista plástico Alex
Flemming (veja boxe abaixo) o
trabalho realizado sobre as fotografias dos três principais
candidatos à Prefeitura de São
Paulo (veja acima).
Para emoldurar as imagens
dos candidatos, Flemming selecionou alguns versos do poema "A Meditação sobre o Tietê", que Mário de Andrade escreveu pouco antes de sua morte, em fevereiro de 1945.
Embora naquela época já
apresentasse os primeiros sinais de degradação ("É noite. E
tudo é noite. Debaixo do arco
admirável/ Da Ponte das Bandeiras o rio/ Murmura num
banzeiro de água pesada e oleosa"), o rio, fonte de inspiração
do poeta, também funciona como um espelho do cenário urbano, refletindo em seu leito
noturno as luzes da metrópole,
as incontáveis ruas, os arranha-céus, o mundo do trabalho, da
fábrica, enfim, a cidade pujante
que então já se desenhava.
Diferentemente da maioria
dos rios, o Tietê, em vez de correr para o mar, corre para o interior. Surge, assim, na pena do
poeta, como poderosa metáfora do paulista desbravador: corajoso, adentra os interiores da
terra em sarcástico desafio ao
curso normal das águas ("E te
afastas do mar e te adentras na
terra dos homens (...)/ Me induzindo com a tua insistência
turrona paulista/ Para as tempestades humanas da vida, rio,
meu rio!...").
Em sua meditação, o poeta vê
o rio como síntese das contradições da cidade: "Estas águas/
Do meu Tietê são abjetas e barrentas,/ Dão febre, dão morte
decerto, e dão garças e antíteses". Crítico, todavia, não se
conforma e indaga: "A culpa é
tua, Pai Tietê? A culpa é tua/ Si
as tuas águas estão podres de
fel (...)/ Onde estão os amigos?
Onde estão os inimigos?" (...)
"Por que os homens não me escutam! Por que os governadores/ Não me escutam?".
À sua maneira, crítica, livre
de qualquer pieguice, o "bardo
mestiço" homenageia São Paulo e faz sua declaração de amor
ao Tietê, que merece ter de volta as suas águas cristalinas, realizando um sonho possível dos
paulistanos. Leia o poema na
íntegra no site www.jornalde
poesia.jor.br/and08.html.
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