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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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Suplente de deputado surge em relatório da PF

ANDRÉA MICHAEL
EM SÃO PAULO

Ao detalhar a hierarquia da suposta rede criminosa, sustentada por policiais, juízes federais (3º nível) e "laranjas" (1º nível), o relatório preparado pela Diretoria da Inteligência da Polícia Federal, que embasou a Operação Anaconda, revela, entre os beneficiários da atuação da quadrilha (o 2º nível hierárquico), o nome de Ary Kara José, primeiro suplente da bancada de deputados federais por São Paulo eleitos pela coligação PTB-PPS-PDT.
O nome de Kara José (PTB) está na página 35 do processo 2003.03.00.0653-2, que tramita no Tribunal Regional Federal em São Paulo, no âmbito do qual foram decretadas oito prisões na semana passada, tornando pública a Operação Anaconda.
Está citado entre 20 nomes caracterizados, no relatório, como "peças igualmente importantes em toda a cadeia criminosa, já que são os responsáveis pela prática de crime como: contrabando e descaminho, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, corrupção ativa ou eventualmente concussão".

Benefícios
Os empresários teriam sido beneficiados por uma das pontas em que se organizaria o suposto esquema criminoso: ou com o retardamento/fragilização de inquéritos (com o propósito de não darem em nada), ou com decisões judiciais em seu favor.
No terceiro nível da hierarquia, estariam os juízes Casem e Ali Mazloum e João Carlos da Rocha Mattos, além dos policiais federais José Augusto Bellini e Jorge Luiz Bezerra (aposentado).
A Folha entrou em contato com o escritório de Kara José, em Taubaté, na tarde de ontem. Um funcionário informou que ele se encontrava em viagem e que retornaria apenas amanhã.
Kara José também não respondeu aos recados deixados na caixa postal de seus celulares, nem à solicitação de entrevista encaminhada por meio de sua assessoria.
Ex-peemedebista, Kara José tem relações históricas com o ex-governador Orestes Quércia.
Ao lado de Kara José, o relatório, sob segredo de justiça, indica nomes conhecidos em fraudes, como o de Ari Natalino da Silva, citado em vários procedimentos relacionados a contrabando de cigarro e adulteração de combustíveis. Silva comanda a Petroforte, uma das principais redes de distribuição de combustíveis do país.
Entre os que são apontados como "laranjas" no relatório da PF está Norma Regina Emílio Cunha, ex-auditora da Receita e ex-mulher do juiz Rocha Mattos. Presa na semana passada, Norma mantinha em sua residência, em São Paulo, US$ 550.549 e dois quilos de ouro em barra -conjunto apreendido pela PF.
Os "laranjas", conforme a PF, seriam responsáveis "pela ocultação, dissimulação e lavagem de dinheiro obtido pelos intermediadores" -segmento do suposto esquema no qual se destacariam os advogados.


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