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PF teria ignorado crimes no ABC
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz federal João Carlos da Rocha Mattos guardou as 42 fitas
com escuta telefônica sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel
(PT), apesar de ele mesmo ter ordenado sua destruição, e afirmou
a pessoas próximas que o conteúdo das conversas revelava um "escândalo" envolvendo a Polícia Federal de São Paulo.
O "escândalo", segundo esses
interlocutores do juiz federal, seria o fato de os agentes da PF terem testemunhado e ignorado
diálogos de ex-presos sobre sequestros de empresários, compra
de armamentos e assaltos -as
gravações foram feitas de janeiro
a março de 2002. As fitas seriam
guardadas como uma espécie de
"precaução" do juiz.
A Folha teve acesso à degravação oficial dos diálogos -as 42 fitas e suas eventuais cópias deveriam ter sido queimadas por determinação de Rocha Mattos, assinada em abril deste ano.
Um dos diálogos que comprovariam a suposta prevaricação da
PF ocorreu em 2 de fevereiro de
2002. Dois moradores da favela
Pantanal combinaram por telefone o sequestro de um empresário
de jóias do interior. Discutiram a
rotina dele e o local do cativeiro.
Dias depois, falam de um outro
sequestro, desta vez de um empresário de São Paulo, dono de
uma concessionária de veículos.
Segundo a PF, os dois sequestros foram frustrados graças à
ação dos agentes. "Não é verdade
que a PF não agiu. Conseguimos,
por meio dessas fitas, impedir
muitos sequestros, inclusive os
dos dois empresários", afirmou o
agente da PF Rogério Stoffels.
A reportagem teve acesso ao relatório produzido pela PF sobre as
escutas telefônicas do caso Santo
André. No documento, além da
morte de Daniel, há informações
sobre crimes praticados de forma
paralela pelo grupo grampeado.
Ontem, Rocha Mattos disse não
ter certeza se as fitas guardadas no
apartamento da ex-mulher eram
originais ou cópias. Afirmou que
o material estava com ele desde 7
de outubro. O juiz disse ter preservado as fitas cumprindo ordens do Tribunal Regional Federal, que mandou guardá-las depois que ele mandou queimá-las.
Sobre um suposto uso político
das fitas, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que
acompanhou as investigações da
morte de Daniel, disse ontem que
se manifestaria após ter acesso ao
documento de apreensão da PF.
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