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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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PF teria ignorado crimes no ABC

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz federal João Carlos da Rocha Mattos guardou as 42 fitas com escuta telefônica sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), apesar de ele mesmo ter ordenado sua destruição, e afirmou a pessoas próximas que o conteúdo das conversas revelava um "escândalo" envolvendo a Polícia Federal de São Paulo.
O "escândalo", segundo esses interlocutores do juiz federal, seria o fato de os agentes da PF terem testemunhado e ignorado diálogos de ex-presos sobre sequestros de empresários, compra de armamentos e assaltos -as gravações foram feitas de janeiro a março de 2002. As fitas seriam guardadas como uma espécie de "precaução" do juiz.
A Folha teve acesso à degravação oficial dos diálogos -as 42 fitas e suas eventuais cópias deveriam ter sido queimadas por determinação de Rocha Mattos, assinada em abril deste ano.
Um dos diálogos que comprovariam a suposta prevaricação da PF ocorreu em 2 de fevereiro de 2002. Dois moradores da favela Pantanal combinaram por telefone o sequestro de um empresário de jóias do interior. Discutiram a rotina dele e o local do cativeiro.
Dias depois, falam de um outro sequestro, desta vez de um empresário de São Paulo, dono de uma concessionária de veículos.
Segundo a PF, os dois sequestros foram frustrados graças à ação dos agentes. "Não é verdade que a PF não agiu. Conseguimos, por meio dessas fitas, impedir muitos sequestros, inclusive os dos dois empresários", afirmou o agente da PF Rogério Stoffels.
A reportagem teve acesso ao relatório produzido pela PF sobre as escutas telefônicas do caso Santo André. No documento, além da morte de Daniel, há informações sobre crimes praticados de forma paralela pelo grupo grampeado.
Ontem, Rocha Mattos disse não ter certeza se as fitas guardadas no apartamento da ex-mulher eram originais ou cópias. Afirmou que o material estava com ele desde 7 de outubro. O juiz disse ter preservado as fitas cumprindo ordens do Tribunal Regional Federal, que mandou guardá-las depois que ele mandou queimá-las.
Sobre um suposto uso político das fitas, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que acompanhou as investigações da morte de Daniel, disse ontem que se manifestaria após ter acesso ao documento de apreensão da PF.


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