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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS
Serraglio quer descobrir se modelo supostamente utilizado no Banco do Brasil foi reproduzido em outros órgãos públicos atendidos por Valério
CPI investiga agora Eletronorte e ministérios
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de afirmar ter identificado R$ 10 milhões do Banco do
Brasil supostamente desviados
para o esquema do "mensalão", o
relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse ontem que investiga se
o mesmo aconteceu na Eletronorte, nos Correios e nos ministérios
do Trabalho e do Esporte.
As agências do publicitário
Marcos Valério tinham contratos
com esses órgãos. De acordo com
Serraglio, a CPI também investiga
se o ex-ministro Luiz Gushiken
(Comunicação de Governo) tem
responsabilidade no episódio.
A Secom, então comandada por
Gushiken, supervisionava os contratos de publicidade das estatais
e dos ministérios.
"Como advogado, me valho do
benefício da dúvida ao presidente
Lula. Talvez ele não soubesse o nível das coisas. O Gushiken, pra
mim, está muito perto de perder o
benefício da dúvida", disse Serraglio em entrevista ao UOL News.
Por meio de sua assessoria de
imprensa, Gushiken negou qualquer relação com o caso.
"As ações de marketing e de comunicação da Visanet, uma empresa privada, formada por um
pool de bancos, não passam pela
Secom. A Visanet não é órgão do
governo federal e, mesmo que o
fosse, não é responsabilidade da
Secom gerir ou tomar decisões
sobre investimentos e recursos de
entidades ou empresas estatais."
O relator da CPI divulgou anteontem os primeiros documentos obtidos pela comissão que
desmontariam a versão, sustentada por Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, de que
empréstimos bancários no BMG e
no Rural sustentaram os pagamentos a políticos aliados.
A origem do dinheiro desviado,
segundo Serraglio, são cotas do
Banco do Brasil no Fundo de Incentivo da Visanet.
"Isso que aconteceu no Banco
do Brasil é corrupção e peculato,
ou seja, apropriação de dinheiro
público", disse Serraglio. "O Código Penal aqui com certeza esgotou seus artigos. São atos delituosos, sim, e nem os que renunciaram nem os que foram ou serão
cassados estão livres da cadeia",
ameaçou o relator.
Ele disse ao UOL News considerar que o "mensalão" está comprovado. "Não há mais dúvida de
que houve "mensalão", sim. Com
periodicidade até semanal. E valores redondos."
Na quinta-feira, a CPI deve
apresentar relatório parcial sobre
a movimentação financeira de
Marcos Valério.
Nesse documento, o sub-relator
Gustavo Fruet (PSDB-PR) sugere
o indiciamento do publicitário
por crime contra o sistema financeiro. A pena é de um a quatro
anos de prisão, além de multa.
"Em suas declarações [de Valério], o objetivo da obtenção dos
empréstimos feitos nas instituições bancárias citadas caracteriza
prática de intermediação de recursos financeiros. Pelo que consta, como as empresas tomadoras
do empréstimo não têm como atividade principal ou acessória a intermediação de recursos financeiros, configura-se aqui prática
contra o sistema financeiro nacional", diz trecho do relatório a que
a Folha teve acesso.
A conclusão do sub-relator é
que os empréstimos no BMG e no
Rural foram de fachada. "As análises levam à conclusão de que os
repasses ao PT não se caracterizam como empréstimo."
Colaborou EDUARDO SCOLESE, da Sucursal de Brasília
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