São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS

Serraglio quer descobrir se modelo supostamente utilizado no Banco do Brasil foi reproduzido em outros órgãos públicos atendidos por Valério

CPI investiga agora Eletronorte e ministérios

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de afirmar ter identificado R$ 10 milhões do Banco do Brasil supostamente desviados para o esquema do "mensalão", o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse ontem que investiga se o mesmo aconteceu na Eletronorte, nos Correios e nos ministérios do Trabalho e do Esporte.
As agências do publicitário Marcos Valério tinham contratos com esses órgãos. De acordo com Serraglio, a CPI também investiga se o ex-ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) tem responsabilidade no episódio.
A Secom, então comandada por Gushiken, supervisionava os contratos de publicidade das estatais e dos ministérios.
"Como advogado, me valho do benefício da dúvida ao presidente Lula. Talvez ele não soubesse o nível das coisas. O Gushiken, pra mim, está muito perto de perder o benefício da dúvida", disse Serraglio em entrevista ao UOL News.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Gushiken negou qualquer relação com o caso.
"As ações de marketing e de comunicação da Visanet, uma empresa privada, formada por um pool de bancos, não passam pela Secom. A Visanet não é órgão do governo federal e, mesmo que o fosse, não é responsabilidade da Secom gerir ou tomar decisões sobre investimentos e recursos de entidades ou empresas estatais."
O relator da CPI divulgou anteontem os primeiros documentos obtidos pela comissão que desmontariam a versão, sustentada por Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, de que empréstimos bancários no BMG e no Rural sustentaram os pagamentos a políticos aliados.
A origem do dinheiro desviado, segundo Serraglio, são cotas do Banco do Brasil no Fundo de Incentivo da Visanet.
"Isso que aconteceu no Banco do Brasil é corrupção e peculato, ou seja, apropriação de dinheiro público", disse Serraglio. "O Código Penal aqui com certeza esgotou seus artigos. São atos delituosos, sim, e nem os que renunciaram nem os que foram ou serão cassados estão livres da cadeia", ameaçou o relator.
Ele disse ao UOL News considerar que o "mensalão" está comprovado. "Não há mais dúvida de que houve "mensalão", sim. Com periodicidade até semanal. E valores redondos."
Na quinta-feira, a CPI deve apresentar relatório parcial sobre a movimentação financeira de Marcos Valério.
Nesse documento, o sub-relator Gustavo Fruet (PSDB-PR) sugere o indiciamento do publicitário por crime contra o sistema financeiro. A pena é de um a quatro anos de prisão, além de multa.
"Em suas declarações [de Valério], o objetivo da obtenção dos empréstimos feitos nas instituições bancárias citadas caracteriza prática de intermediação de recursos financeiros. Pelo que consta, como as empresas tomadoras do empréstimo não têm como atividade principal ou acessória a intermediação de recursos financeiros, configura-se aqui prática contra o sistema financeiro nacional", diz trecho do relatório a que a Folha teve acesso.
A conclusão do sub-relator é que os empréstimos no BMG e no Rural foram de fachada. "As análises levam à conclusão de que os repasses ao PT não se caracterizam como empréstimo."


Colaborou EDUARDO SCOLESE, da Sucursal de Brasília

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