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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS
Em nota, banco afirma que DNA recebe pagamentos antecipados desde o governo FHC e que desvios, se houve, não chegaram a R$ 10 mi
BB "repudia" conclusão da CPI dos Correios
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O verbo repudiar aparece duas
vezes na nota divulgada no início
da noite de ontem pelo Banco do
Brasil contra a conclusão de que
dinheiro público alimentou o caixa dois do PT, anunciada na véspera pelo relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio
(PMDB-PR). Desde o governo
Fernando Henrique Cardoso, a
DNA recebe pagamentos antecipados por serviços publicitários, e
desvios, se houve, não chegaram a
R$ 10 milhões, afirma o BB.
A nota do BB faz parte da forte
reação deflagrada ontem pelo governo contra os resultados antecipados das investigações do Congresso.
Serraglio concluiu que pelo menos R$ 10 milhões da cota do BB
no Fundo de Incentivo Visanet financiaram o "mensalão".
O dinheiro era destinado à divulgação dos cartões da bandeira
Visa, de um total de R$ 73,8 milhões repassados à DNA Propaganda antecipadamente em 2003
e 2004. A DNA é uma das agências
da qual Marcos Valério foi sócio.
"O Banco do Brasil repudia a tese, baseada unicamente em ilações, de que, premeditadamente,
transferiu recursos do fundo para
a agência DNA e que esses recursos, por uma operação de transferência bancária, teriam sido
transferidos para outro banco e
daí beneficiado quem quer que
seja", diz o documento.
Minutos depois da divulgação
da nota, Serraglio insistiu em que
mantém a conclusão de que dinheiro público ajudou a financiar
o "mensalão". "Essa conversa é
inútil, vou manter a conclusão
porque ela está documentada."
Ele insiste em que parte do dinheiro pago pelo BB à DNA foi
transferido para o BMG. O valor
da transferência foi de R$ 10 milhões, o mesmo valor do empréstimo concedido quatro dias depois à empresa de Rogério Tolentino, advogado sócio de Valério.
O empréstimo, jamais pago, é
apontado pelo publicitário como
uma das fontes de financiamento
do caixa dois do PT.
Argumentos
São dois os principais argumentos listados pelo Banco do Brasil
contra as conclusões do relator:
1- do total de R$ 73,8 milhões
transferidos à DNA para publicidade dos cartões Visa em 2003 e
2004, restariam pendentes de
comprovação de gastos apenas
R$ 9,1 milhões, dos quais R$ 4,1
milhões devem ser devolvidos
porque nem sequer foram objeto
de serviços autorizados.
Desde julho, uma auditoria do
banco verifica se os pagamentos
foram acompanhados da prestação de serviços. A auditoria só deve ficar pronta nas próximas semanas, mas o banco antecipa que
não há hipótese de desvio superior a R$ 9,1 milhões. Já a DNA diz
que nada deve ao banco. O contrato foi rompido em julho;
2- de acordo com o BB, a DNA
já se favorecia de pagamentos antecipados de recursos para campanha dos cartões Visa desde
2001. Nos dois últimos anos de
mandato de FHC, a DNA recebeu
R$ 12,8 milhões e R$ 4,5 milhões,
respectivamente. Os pagamentos
antecipados só foram suspensos
em setembro de 2004.
Quase ao mesmo tempo em que
o BB reagia por meio de nota, o
sub-relator da CPI dos Correios
Carlos Abicalil (PT-MT) tentava
desqualificar as conclusões de
Serraglio com argumentos semelhantes aos usados pela estatal.
Segundo ele, na próxima terça
documentos da DNA serão usados para explicar que o dinheiro
pendente refere-se de fato a serviços prestados pela DNA ao Fundo
Visanet. "Eu não estou dizendo
que o relator mentiu. Eu só acho
que ele foi imprudente e precipitado numa conclusão."
Colaborou ADRIANO CEOLIN, da Sucursal de Brasília
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