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VÔO DA ÁGUIA
Depois de afirmar que argentino tomou "sábias decisões", presidente norte-americano ouviu críticas aos Estados Unidos
Bush elogia política econômica de Kirchner
DO ENVIADO ESPECIAL A MAR DEL PLATA
O presidente George W. Bush
foi excepcionalmente caloroso
com seu colega argentino Néstor
Kirchner, ao comparecerem ante
os jornalistas, após um encontro
bilateral na manhã de ontem.
Mas os fartos elogios de Bush
foram insuficientes para evitar
que, horas mais tarde, no discurso
de inauguração da 4ª Cúpula das
Américas, Kirchner disparasse
sobre os Estados Unidos uma série de críticas igualmente inusuais
em cerimônias do gênero.
Chegou a salgar a ferida do
apoio norte-americano a regimes
ditatoriais na América Latina, ao
lembrar que Washington permitiu, no passado, políticas que
"causaram miséria, pobreza e instabilidade democrática".
Kirchner tampouco poupou os
organismos internacionais, cujas
políticas são ou recomendadas ou
apoiadas pelos Estados Unidos.
"Nós nos responsabilizamos como país de ter adotado essas políticas, mas queremos que os organismos internacionais também o
façam", cobrou o argentino.
Como era previsível, o mandatário argentino deu seu recado sobre a Alca, o principal tema de divergências na cúpula de Mar del
Plata: "Não nos servirá qualquer
integração e, sim, aquela que reconheça as diversidades".
O discurso inaugural havia sido
precedido, pela manhã, de um encontro bilateral após o qual o norte-americano derreteu-se em elogios a Kirchner, a ponto de afirmar: "Desde a primeira vez em
que nos falamos até agora, a economia argentina mudou de forma dramática graças às sábias decisões que tomou, de forma que o
felicito por tomar decisões em circunstâncias difíceis, que melhoraram a vida de seu povo".
Já seria muito em circunstâncias
normais, mas Bush estava falando
de um país que foi à moratória,
deu um calote nos credores e faz
uma política econômica relativamente heterodoxa.
O presidente norte-americano
até deu apoio a Kirchner na negociação com o Fundo Monetário
Internacional ao dizer que, "com
base nas suas conquistas, [Kirchner] pode defender-se ante o Fundo com mão muito mais firme".
"Operação de charme"
Os elogios não parecem gratuitos, no entanto. O norte-americano está lançando uma operação
de charme endereçada ao presidente que está mais à esquerda
que todos os demais da América
Latina, excetuado apenas o venezuelano Hugo Chávez, exatamente o alvo por trás do charme: trata-se de isolar Chávez e conter sua
"revolução bolivariana".
Por isso mesmo, George Bush
também não deixou de afirmar
que "as instituições democráticas
são importantes para melhorar a
situação do povo, e às vezes essas
instituições foram acossadas em
nossos países. É importante que
os líderes eleitos de nossos países
se ponham de pé e defendam tais
instituições".
O governo Bush considera que
Chávez é uma ameaça às instituições democráticas.
(CLÓVIS ROSSI)
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