São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2005

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VÔO DA ÁGUIA

Depois de afirmar que argentino tomou "sábias decisões", presidente norte-americano ouviu críticas aos Estados Unidos

Bush elogia política econômica de Kirchner

DO ENVIADO ESPECIAL A MAR DEL PLATA

O presidente George W. Bush foi excepcionalmente caloroso com seu colega argentino Néstor Kirchner, ao comparecerem ante os jornalistas, após um encontro bilateral na manhã de ontem.
Mas os fartos elogios de Bush foram insuficientes para evitar que, horas mais tarde, no discurso de inauguração da 4ª Cúpula das Américas, Kirchner disparasse sobre os Estados Unidos uma série de críticas igualmente inusuais em cerimônias do gênero.
Chegou a salgar a ferida do apoio norte-americano a regimes ditatoriais na América Latina, ao lembrar que Washington permitiu, no passado, políticas que "causaram miséria, pobreza e instabilidade democrática".
Kirchner tampouco poupou os organismos internacionais, cujas políticas são ou recomendadas ou apoiadas pelos Estados Unidos.
"Nós nos responsabilizamos como país de ter adotado essas políticas, mas queremos que os organismos internacionais também o façam", cobrou o argentino.
Como era previsível, o mandatário argentino deu seu recado sobre a Alca, o principal tema de divergências na cúpula de Mar del Plata: "Não nos servirá qualquer integração e, sim, aquela que reconheça as diversidades".
O discurso inaugural havia sido precedido, pela manhã, de um encontro bilateral após o qual o norte-americano derreteu-se em elogios a Kirchner, a ponto de afirmar: "Desde a primeira vez em que nos falamos até agora, a economia argentina mudou de forma dramática graças às sábias decisões que tomou, de forma que o felicito por tomar decisões em circunstâncias difíceis, que melhoraram a vida de seu povo".
Já seria muito em circunstâncias normais, mas Bush estava falando de um país que foi à moratória, deu um calote nos credores e faz uma política econômica relativamente heterodoxa.
O presidente norte-americano até deu apoio a Kirchner na negociação com o Fundo Monetário Internacional ao dizer que, "com base nas suas conquistas, [Kirchner] pode defender-se ante o Fundo com mão muito mais firme".

"Operação de charme"
Os elogios não parecem gratuitos, no entanto. O norte-americano está lançando uma operação de charme endereçada ao presidente que está mais à esquerda que todos os demais da América Latina, excetuado apenas o venezuelano Hugo Chávez, exatamente o alvo por trás do charme: trata-se de isolar Chávez e conter sua "revolução bolivariana".
Por isso mesmo, George Bush também não deixou de afirmar que "as instituições democráticas são importantes para melhorar a situação do povo, e às vezes essas instituições foram acossadas em nossos países. É importante que os líderes eleitos de nossos países se ponham de pé e defendam tais instituições".
O governo Bush considera que Chávez é uma ameaça às instituições democráticas.
(CLÓVIS ROSSI)


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