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Queda da desigualdade de renda perde fôlego
Desaceleração foi registrada a partir de 2004, pela Pnad; disparidade ainda resiste no conjunto das principais regiões metropolitanas
Índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, registrou queda de 0,6% entre 2004 e 2005, o pior desempenho desde 2001
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda da desigualdade de
renda no país -um dos maiores
trunfos exibidos por Luiz Inácio Lula da Silva na campanha
da reeleição- perdeu fôlego a
partir de 2004, na segunda metade do mandato do presidente.
A disparidade dá sinais de resistir sobretudo nas principais
regiões metropolitanas, onde já
há indicações de concentração
de renda em 2005.
Esse fenômeno de queda da
desigualdade mais lenta no país
foi confirmado pela mais recente Pnad (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE duas semanas antes do primeiro turno da
disputa pelo Planalto.
O índice mais popular para
medir a desigualdade de renda,
chamado de Gini, registrou
queda de 0,6% entre 2004 e
2005. Foi o pior desempenho
desde 2001. O número corresponde a menos da terça parte
do 1,9% de queda da desigualdade medido no ano anterior,
mostra estudo de Marcelo Neri,
chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, a partir dos dados da Pnad.
Também com base em análise dos dados da Pnad, Ricardo
Paes de Barros, pesquisador do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), identificou no mesmo período o aumento da disparidade em 0,9%
no conjunto das principais regiões metropolitanas.
"A Pnad mostrou isso, e o ministério está em busca de explicação para o fato", reagiu Rosani Cunha, secretária de Renda
da Cidadania do Ministério do
Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, o
principal programa de transferência de renda do governo.
"É difícil dizer por que desacelerou a queda da desigualdade, vejo a coisa estagnada, mas
não dá para dizer que o modelo
se esgotou, simplesmente não
sei responder", pondera Ricardo Paes de Barros, do Ipea.
Hipóteses
Há várias hipóteses em estudo para explicar o freio na queda da desigualdade que vinha se
verificando desde 2002:
1) Em 2005, diferentemente
de 2004, o aumento da renda
dos mais pobres teria sido
acompanhado de um aumento
maior da renda dos mais ricos;
2) Por um problema metodológico, a Pnad de 2004 teria superestimado o papel dos programas de transferências de
renda e, conseqüentemente, a
própria queda da desigualdade.
Por ora, não há consenso sobre as causas do fenômeno nem
sobre o prognóstico para 2006.
A nova Pnad só será divulgada
em setembro de 2007.
"[O prognóstico] não passaria de uma especulação", argumenta Rosani Cunha. O Bolsa
Família aumentou em 1,8 milhão o número de famílias beneficiárias dos pagamentos entre R$ 15 e R$ 95 por mês e os
benefícios vinculados ao salário mínimo tiveram aumento
acima da inflação. Mas isso pode não ter sido suficiente para
aumentar mais a renda da fatia
mais pobre, analisa.
"A desigualdade ainda cai,
mas num ritmo menor", especula Marcelo Neri, da FGV.
Num exercício limitado às seis
principais regiões metropolitanas - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre- e aos
rendimentos do trabalho, Neri
constatou um aumento de
0,29% da miséria, entre junho
de 2004 e junho de 2005.
"Por enquanto, eu ainda
apostaria que haverá uma queda maior em 2006", arriscou o
pesquisador do Ipea Sergei
Soares, que organiza seminário
para discutir estratégias para
os próximos quatros anos.
Metrópoles
Em meio a generalidades
lançadas no debate eleitoral e
sem alarde, o programa da
campanha de Lula já dava conta de onde mora o problema. O
documento dedicado ao Desenvolvimento Social reconhece a dificuldade de reduzir a pobreza nas grandes cidades, onde o programa Bolsa Família
registra impacto menor.
"Mantida essa tendência, é
de se esperar que a queda nos
níveis de pobreza continue a se
dar de forma mais lenta nas
grandes cidades, levando à persistência de um quadro já bastante crítico de exclusão social,
vulnerabilidade familiar e violência, que marca a vida cotidiana das periferias das metrópoles brasileiras", diz o texto.
Entre as soluções estudadas
pelo governo para o segundo
mandato, foi descartada a concessão de um valor maior do
benefício do Bolsa Família para
as regiões metropolitanas.
Os benefícios terão reajuste
geral entre 8% e 18% em 2007,
estima Rosani Cunha. O desafio do programa, diz, é encontrar as famílias pobres das regiões metropolitanas ainda excluídas do Bolsa Família, como
os moradores de rua.
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