São Paulo, segunda-feira, 05 de novembro de 2007

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Militares contam com reaproximação dos EUA

Expectativa é que Brasil seja aliado preferencial

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dos subprodutos mais curiosos que a divisão na América Latina promovida pela retórica chavista pode render é uma reaproximação das áreas militares dos EUA e do Brasil.
Há uma expectativa na cúpula militar brasileira de que haja até negócios decorrentes da necessidade de Washington em ter o Brasil como aliado preferencial na região -título hoje da Colômbia e do Chile.
A Venezuela de Chávez, ao adotar a retórica antiamericana e lucrando fortemente com a subida do preço do petróleo, recebeu um veto explícito a negócios com fornecedores bélicos americanos. Assim, Chávez não pôde comprar Super Tucanos brasileiros com peças americanas, já que a Embraer seria retaliada pelos EUA se os fornecesse. O mesmo ocorreu com aviões espanhóis de transporte. Com sua frota de caças F-16 americanos caindo aos pedaços, a solução óbvia foi buscar na Rússia do "neoczar" Vladimir Putin o que necessitava.
Resultado: US$ 4,3 bilhões de compras anunciadas desde 2005. Antes, apenas o Peru operava grande quantidade de material russo na região. E a Venezuela ainda busca equipamento no Irã e na China, não exatamente confiáveis para os interesses dos EUA. Para os russos, foi ótimo negócio. Eles já vinham tentando emplacar os Sukhoi, e agora helicópteros, em compras brasileiras.
Dificilmente os EUA assistiriam a esse movimento de dominação de mercado impassíveis. Não por acaso, a concorrência para caças F-X, na qual a Rússia era favorita, acabou, entre outros motivos, por pressão dos concorrentes ocidentais.
Além disso, Chávez amealhou muitos aliados por meio do favorecimento energético. A Bolívia, o Equador e, em menor escala, a Argentina, estão sob sua influência. Os EUA temem que isso cause um futuro rearmamento do "eixo bolivariano" com equipamento russo (e chinês, e talvez iraniano), para o que Chile e Colômbia não serviriam de anteparo estratégico. A expectativa dos militares brasileiros de que Washington namore o Brasil segue essa lógica.
Resta saber como o governo agirá se isso acontecer. Depois de somar muitas derrotas e algumas vitórias com sua política "altiva" e antiamericana em dados momentos, o Itamaraty parece ter adotado um tom mais sóbrio no segundo mandato de Lula. Haveria um embate entre pragmatismo e ideologia curioso de ser assistido. (IGOR GIELOW)


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