São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2008

Índice

Toda Mídia

NELSON DE SÁ - nelsondesa@folhasp.com.br

Fox News "chama" Obama

Uma vez mais, a maior tensão no dia da eleição, que foi possível acompanhar e vivenciar no Brasil por CNN e Fox News, se concentrou diante dos canais -e das redes- que seguiam "chamando" os Estados para este ou aquele candidato. A Pensilvânia, que poderia pender para John McCain, saiu para Barack Obama na MSNBC e na ABC. E nada de Ohio, que também já havia fechado as urnas. Até que Britt Hume e Karl Rove, pouco depois da meia-noite na Fox News, "chamaram" Ohio para Obama. Depois CBS. Depois NBC e ABC. Por fim, a CNN.

O PARADIGMA MUDOU
Adam Nagourney e Arianna Huffington proclamaram um outro vencedor na campanha americana, a internet. O primeiro, repórter político de referência do "NYT", vê repercussões que vão da mobilização do eleitor à manipulação da mídia -e afirma que as eleições jamais serão as mesmas. Cita, de um estrategista, que "as campanhas alavancaram a web de maneiras jamais imaginadas, o paradigma virou de cabeça para baixo".
A segunda, "publisher" do Huffington Post, usa os mesmos argumentos para identificar "a primeira corrida presidencial do século 21". E para afirmar que a internet deixa para trás, desta vez, a própria televisão.

REALIDADE VIRTUAL
cnn.com
A projeção holográfica da repórter Jessica Yellin, em Chicago, conversa com o âncora Wolf Blitzer, no estúdio da CNN em Nova York
A TV americana, que sempre usa eleições e guerras para estrear tecnologias de cobertura, escorregou ontem. Como anunciado para sites e jornais, a CNN surgiu com sua aposta por volta das 22h30: um link com uma correspondente levada ao próprio estúdio, como holograma. O efeito especial, cercado por uma aura branca na tela, evocou "Star Wars", mas o primeiro filme, de 1977, com a princesa Lea. Foi ironizado até na home do "NYT".
Da campanha, a maior inovação ficou ainda com a "parede mágica" da mesma CNN em fevereiro -e já imitada por Fox News, com seu "Billboard", e até Globo.

BOCA-DE-URNA
CNN e Fox News começaram a dar as pesquisas de boca-de-urna logo após as 20h, mas restritas a opiniões e grupos demográficos, não o voto geral. Como citaram "Financial Times" e outros, as emissoras chegaram à noite de eleição ainda assombradas por 2000 na Flórida.
Os sites ousaram mais. Por volta das 21h30, o HuffPost, depois Drudge e TPM, postaram dados com ampla vitória de Obama em Pensilvânia, Ohio etc. Mas avisando sempre para não confiar.

O FIM DE TRÊS ERAS
Se as redes e os próprios sites de jornais foram cuidadosos, os colunistas não se constrangeram. David Brooks, no "NYT", deu o dia como histórico porque "marca o fim de uma era econômica, uma era política e uma era geracional, ao mesmo tempo".
Encerra o "grande boom" econômico que começou em 1983; a "dominação conservadora", que vem de 1980; e a supremacia de presidentes nascidos no "baby boom" do pós-guerra. Agora seria a vez da "geração de Obama".

NO FIM
nypost.com
Um mês atrás, a revista "Vanity Fair" deu que Rupert Murdoch se aproximava de Barack Obama.
Pelo contrário, logo em seguida o "New York Post", de Murdoch, deu apoio em capa e editorial a John McCain. Mas ontem, dia da eleição, o apoio mudou de repente, ainda que envergonhadamente, com a primeira página acima e a manchete "A um passo da história".
O biógrafo do "publisher", Michael Wolff, avaliou em seu blog: "O que aconteceu foi que Murdoch e o "Post" cometeram um erro. Um erro que machuca, porque ele queria endossar Obama". Nos encontros que tiveram, diz ter vislumbrado até "entusiasmo" pelo democrata.

O POLITICO
A semana da eleição comemora o segundo aniversário de criação do site Politico, que reuniu meia dúzia de jornalistas de "Wall Street Journal", "USA Today", "Time" -e virou agora um dos principais vencedores na cobertura da campanha eleitoral.
Para celebrar, os editores enviaram e-mail à agora ampla redação, com quase cem pessoas, e ele foi parar no site do instituto de mídia Poynter. Em meio à crise, desenha um futuro de crescimento.

A BOLHA
Por outro lado, a Slate, ligada ao "Washington Post", avisa que a "bolha eleitoral da mídia está para explodir", após quase dois anos em que as organizações viveram da campanha -e agora se vêem diante da crise global.
Foram meses de audiência recorde, tráfego recorde na internet, até de vendas de revistas. Mas o período pós-eleitoral promete ser "muito diferente". O site ouve o editor do "NYT", que fala em poupar, mas não cortar vagas.

ATÉ JANEIRO...
O "Wall Street Journal" abriu manchete para "o pior mês desde a Segunda Guerra" na indústria automobilística _e para alertar que a situação já provoca "conclamações por ação imediata do novo presidente". Por um rumo à "polícia econômica muito antes da posse em 20 de janeiro". Cobra-se o nome do secretário de Tesouro "em dias" e engajamento nas negociações sobre maior regulação, no Congresso. Já o "New York Times" , no editorial "Tão pouco tempo, tanto dano", soou o alarme de que George W. Bush tem engatilhadas ações para enfraquecer direitos civis, normas ambientais e direito ao aborto.


Leia as colunas anteriores
@ - Nelson de Sá



Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.