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JANIO DE FREITAS
O $ do problema
A cada dia vem saindo um
dado novo, no curso normal
do noticiário, que torna mais perturbadora a percepção acumulada dos problemas com que o futuro governo vai se deparar.
São mais 163% de falências e
concordatas do que em novembro
de 2001, o que retrata dificuldades empresariais graves; é o desemprego que cresce, é a inflação
prestes a cruzar os 10% e já deixando a poupança na perda, o
que não havia desde 95; os que vivem com menos de R$ 100 por
mês são mesmo um terço da população, 14 milhões a mais do que
os 40 milhões de miseráveis que
Fernando Henrique Cardoso disse serem um número mentiroso.
Nada surpreendente, tão só
apenas a continuidade lógica só
ignorada por quem assim decidiu
fazer nos últimos anos. O que torna perturbadores os dados que
apenas se atualizam é a eleição de
Luiz Inácio Lula da Silva. Criou-se a expectativa de enfrentamento dos problemas, de início de solução, como jamais se teve ou se
esperaria de outro resultado eleitoral. A expectativa faz arregalar
os olhos para a dimensão do drama.
O noticiário segue seu curso
normal: "os bancos estrangeiros
que operam no Brasil dobraram
seus lucros neste ano, elevando-os
de R$ 3,884 bilhões para R$ 7,643
bilhões. O noticiário mantém a
eloquência, mas a natureza da
notícia é outra. Nela, os bancos
estrangeiros apenas prenunciam
o que logo aparecerá a respeito
também dos bancos brasileiros e,
no mesmo passo, da generalidade
dos bancos que operam no Brasil.
Ou operam o Brasil.
Os lucros desses bancos não se
limitam a ser os maiores do mundo. São também os mais despudorados do mundo. Neles, o lucro
advém da especulação, das tarifas
espoliadoras por seus serviços
sempre duvidosos e de juros estrangulantes (160% no cheque especial tem diferenças morais em
relação aos atos que compõem a
chamada insegurança urbana?).
Os lucros recordistas dos bancos
não se fazem de aplicação nas atividades produtivas. Com os obstáculos que opõem ao financiamento de atividades produtivas e
os juros com que atacam as duplicatas decorrentes de produção, os
bancos no Brasil compõem a linha de frente contra o crescimento, pelo desemprego, contra o trabalho da indústria e do comércio,
pela injustiça social e a concentração da renda.
Falar em função social dos bancos, como tanto foi feito em anos
pré-neoliberalismo, é ridículo.
Mas sem submeter à reconsideração a natureza dada aos bancos
no Brasil, o próximo governo não
terá como ser o que promete. Lucros bancários honestos são um
grande negócio - para os bancos, pela parte que lhes fica; para
o país em que lucram, pelo que
transformem em fator de produção, comércio e emprego.
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