São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

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GOVERNO

Presidente reage às críticas de Lula sobre desigualdades sociais no país

Há muito pobre, mas ação social melhorou, diz FHC

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao fazer um balanço da área social do governo, o presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu que "tem muito pobre" no país, mas reagiu às criticas feitas por Luiz Inácio Lula da Silva no exterior sobre a desigualdade social. Sem citar nomes, FHC disse que, em matéria de distribuição de renda, "convém não falar quando não se sabe ou estudar para falar com propriedade".
Em resposta à notícia de que 54 milhões de brasileiros -32% da população- vivem com menos de R$ 100 mensais, FHC afirmou que a melhora na qualidade de vida deles também deve ser analisada, para que os brasileiros "não comam gato por lebre".
O presidente se mostrou impaciente ao apressar os fotógrafos no início da reunião no Palácio do Planalto e disse diversas vezes que a estabilidade econômica não foi conquistada "à custa dos mais pobres" -crítica recorrente da oposição. FHC discursou sobre os 12 programas da "rede de proteção social", que incluem desde a bolsa-escola ao seguro desemprego.
Na Argentina, Lula disse que a atual política econômica deixou o país "à mercê de especuladores". No Chile, afirmou que as "dramáticas diferenças sociais" colocam em risco a democracia brasileira. FHC não comentou oficialmente as declarações.
Ontem, porém, ele se disse "cansado" de ver interpretações erradas do índice de Gini, que mede a concentração de renda.
"Não é tão simples assim: tira do rico e dá para o pobre. Pára a economia. Então, é mais complicado do que se pensa e do que se fala. Convém não falar quando não se sabe ou estudar para falar com propriedade", disse, depois de explicar que o ideal é aumentar a renda dos pobres mais rapidamente que a dos ricos.
Segundo o governo, são concedidos 37,5 milhões de benefícios sociais por ano. Para FHC, isso se traduz em proteção social aos "mais vulneráveis" dos pobres.
"Não há outra conclusão: há muito pobre. Você pode dizer o seguinte: a despeito de haver muito pobre, os programas sociais melhoraram ou estão tentando melhorar a qualidade de vida desses pobres", afirmou o presidente, lembrando que os números "enganam" se não for analisado o acesso à saúde e à educação.
Apesar de considerar que as informações divulgadas pelo IBGE anteontem muniram seus críticos, Fernando Henrique elogiou a independência da entidade.
"O IBGE publicou dados que eu não conhecia. Não sabíamos que ia publicar nem qual era o dado. Isso é positivo, mostra que esse instituto funciona independentemente do governo e precisa continuar funcionando assim para ter credibilidade e para o governo não se iludir", disse.
FHC voltou a alertar Lula da importância de "construir" com base nos programas sociais já existentes e repetiu que a roda não precisa ser inventada porque o governo já está montando um cadastro único dos pobres.
"Isso permite que o Brasil, daqui para frente, se seguir um caminho de sensatez, possa efetivamente atuar de maneira realista, objetiva e vigorosa nos programas sociais, diminuindo as perdas, desde que não invente a roda ou que não se faça uma roda que só anda para trás", disse.
Para FHC, o fato de o país ter recebido o prêmio "Mahbub Ul-Haq" das Nações Unidas, em reconhecimento dos avanços sociais, indica que o Brasil está no caminho certo. "Essa é que é a moral da história."


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