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GOVERNO
Presidente reage às críticas de Lula sobre desigualdades sociais no país
Há muito pobre, mas ação social melhorou, diz FHC
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao fazer um balanço da área social do governo, o presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu que "tem muito pobre"
no país, mas reagiu às criticas feitas por Luiz Inácio Lula da Silva
no exterior sobre a desigualdade
social. Sem citar nomes, FHC disse que, em matéria de distribuição
de renda, "convém não falar
quando não se sabe ou estudar
para falar com propriedade".
Em resposta à notícia de que 54
milhões de brasileiros -32% da
população- vivem com menos
de R$ 100 mensais, FHC afirmou
que a melhora na qualidade de vida deles também deve ser analisada, para que os brasileiros "não
comam gato por lebre".
O presidente se mostrou impaciente ao apressar os fotógrafos
no início da reunião no Palácio do
Planalto e disse diversas vezes que
a estabilidade econômica não foi
conquistada "à custa dos mais pobres" -crítica recorrente da oposição. FHC discursou sobre os 12
programas da "rede de proteção
social", que incluem desde a bolsa-escola ao seguro desemprego.
Na Argentina, Lula disse que a
atual política econômica deixou o
país "à mercê de especuladores".
No Chile, afirmou que as "dramáticas diferenças sociais" colocam
em risco a democracia brasileira.
FHC não comentou oficialmente
as declarações.
Ontem, porém, ele se disse
"cansado" de ver interpretações
erradas do índice de Gini, que mede a concentração de renda.
"Não é tão simples assim: tira
do rico e dá para o pobre. Pára a
economia. Então, é mais complicado do que se pensa e do que se
fala. Convém não falar quando
não se sabe ou estudar para falar
com propriedade", disse, depois
de explicar que o ideal é aumentar
a renda dos pobres mais rapidamente que a dos ricos.
Segundo o governo, são concedidos 37,5 milhões de benefícios
sociais por ano. Para FHC, isso se
traduz em proteção social aos
"mais vulneráveis" dos pobres.
"Não há outra conclusão: há
muito pobre. Você pode dizer o
seguinte: a despeito de haver muito pobre, os programas sociais
melhoraram ou estão tentando
melhorar a qualidade de vida desses pobres", afirmou o presidente,
lembrando que os números "enganam" se não for analisado o
acesso à saúde e à educação.
Apesar de considerar que as informações divulgadas pelo IBGE
anteontem muniram seus críticos, Fernando Henrique elogiou a
independência da entidade.
"O IBGE publicou dados que eu
não conhecia. Não sabíamos que
ia publicar nem qual era o dado.
Isso é positivo, mostra que esse
instituto funciona independentemente do governo e precisa continuar funcionando assim para ter
credibilidade e para o governo
não se iludir", disse.
FHC voltou a alertar Lula da importância de "construir" com base nos programas sociais já existentes e repetiu que a roda não
precisa ser inventada porque o
governo já está montando um cadastro único dos pobres.
"Isso permite que o Brasil, daqui para frente, se seguir um caminho de sensatez, possa efetivamente atuar de maneira realista,
objetiva e vigorosa nos programas sociais, diminuindo as perdas, desde que não invente a roda
ou que não se faça uma roda que
só anda para trás", disse.
Para FHC, o fato de o país ter recebido o prêmio "Mahbub Ul-Haq" das Nações Unidas, em reconhecimento dos avanços sociais, indica que o Brasil está no
caminho certo. "Essa é que é a
moral da história."
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