São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

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Lula reitera preferência por Aldo na Câmara

PT tenta convencer líder do governo, Chinaglia, a não disputar vaga; Aldo resiste a lançar candidatura antes de haver consenso

Base aliada enfrentará dois testes amanhã: a escolha do novo ministro do TCU e a cassação de José Janene, ex-líder da bancada do PP


EDUARDO SCOLESE
LUCIANA CONSTANTINO
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No momento em que o PT ensaia indicar o nome do deputado federal Arlindo Chinaglia (SP) ao comando da Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou ontem à cúpula do PC do B sua preferência pelo deputado Aldo Rebelo (SP).
Mais tarde, durante encontro com dirigentes do PSB, o presidente reafirmou sua preferência por Aldo e também deixou claro seu desejo por mais um mandato de Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado.
O PC do B, mesmo diante do apoio a Aldo, manifestou a Lula que deseja ter mais espaço no governo, independentemente do resultado da eleição no Legislativo. A sigla, que apóia Lula desde 1989, comanda atualmente o Ministério do Esporte.
Em outubro, o PC do B elegeu 13 deputados federais (o partido hoje tem 12) e um senador.
"Uma coisa é a presidência da Câmara. Outra coisa são cargos no governo. Separamos essas duas coisas", disse o presidente do PC do B, Renato Rabelo, após reunião com Lula. O PC do B e o PSB fecharam apoio à coalizão que dará apoio ao segundo mandato de Lula.
Segundo o presidente do PC do B, a candidatura de Aldo só será possível se houver "amplo apoio da base do governo". O PSB já o definiu. "Da nossa bancada há claramente simpatia pela reeleição do companheiro Aldo Rebelo", disse Eduardo Campos, presidente nacional do partido e governador eleito de Pernambuco, após conversa com Lula.

Adiamento
Hoje, a direção do PT tentará uma última cartada para convencer Chinaglia a adiar o lançamento de sua candidatura.
Até a noite de ontem, entretanto, Chinaglia tendia a ignorar os apelos e assumir sua intenção. Pela manhã, a comissão política do partido (instância que reúne um representante de cada tendência interna) se encontra com a coordenação da bancada federal. À tarde, em reunião entre atuais e futuros deputados, Chinaglia, que é líder do governo na Câmara, espera reunir apoio para tornar sua candidatura irreversível. Ontem, ele passou o dia em reuniões com parlamentares.
No final da tarde, achava provável que conseguisse se lançar. O grande empecilho para o líder do governo é a direção petista. O presidente interino, Marco Aurélio Garcia, e o presidente afastado, Ricardo Berzoini, entre outros, acham temerário o partido lançar um nome antes de pelo menos ter uma conversa com o PC do B. Os dirigentes petistas defendem um adiamento do anúncio por pelo menos duas semanas.
De todos os dirigentes partidários, quem tem posição menos confortável é Garcia. Muito próximo de Lula, ele tenta evitar a divisão e insiste em que o PT seja flexível para dialogar com outras siglas -não só o PC do B mas também o PMDB, que ameaça lançar seu candidato. Ao mesmo tempo, por presidir o PT, Garcia não pode bombardear o projeto de Chinaglia.

Testes
Caso confirme a candidatura, Chinaglia já terá logo de cara dois testes para seu poder de aglutinar partidos aliados. Para amanhã estão marcadas a eleição do novo ministro do Tribunal de Contas da União e a cassação do ex-líder do PP José Janene (PR), último remanescente do escândalo do mensalão.
Aldo Rebelo disse que espera um consenso para se reeleger. "A presidência da Câmara não é um projeto pessoal. Exige um projeto para o Legislativo, a Câmara e o país. Creio que deva ser uma decisão conjunta de todos os partidos ou de uma parte deles", disse Aldo, em seminário na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, no Rio.

Aliança
Indagado se poderia haver uma aliança entre o PC do B, o PT e o PMDB, sorriu. "Talvez. Os caminhos da política não estão previamente escritos, como na fórmula matemática. São muito mais imprevisíveis."
Ele afirmou que considera legítimas as pré-candidaturas de Chinaglia e de um eventual representante do PMDB, que pode lançar um nome nesta semana, mas afirmou que pretende esperar e não anunciar suas intenções agora.
Sobre o fato de Chinaglia vir sendo apoiado pelo ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu, Aldo disse ter "grande respeito" por Dirceu e ser legítimo que queira influenciar na vida de seu partido. Aldo afirmou ainda que considera legítima a aspiração de Dirceu de ser anistiado politicamente no âmbito da Câmara, mas considerou que "esse debate não deve presidir a eleição na Câmara".


Colaborou RAPHAEL GOMIDE, da Sucursal do Rio

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