São Paulo, quinta-feira, 06 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REBELIÃO PARLAMENTAR

Lula chama petista rebelde para tentar enquadrá-lo

Virgílio nega candidatura, mas faz campanha aberta

Bruno Stuckert/Folha Imagem
Deputado Virgílio Guimarães em almoço com parlamentares


LEILA SUWWAN
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionados pela articulação do Palácio do Planalto, o movimento da Câmara dos Deputados pela candidatura avulsa do deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG) à presidência da Casa abandonou o discurso moderado e ameaçou o confronto direto com o candidato da bancada petista e do governo, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).
Após a ameaça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou Virgílio para uma conversa no Planalto, na qual pretendia enquadrá-lo e levá-lo a descartar de vez a eventual candidatura.
Na avaliação de auxiliares do presidente Lula, Virgílio quer mostrar que teria mais prestígio que Greenhalgh e, então, renunciar para acumular cacife político, seja para um cargo importante no Legislativo, seja para um posto no próprio Executivo. O governo aposta no isolamento de Virgílio e já acionou ministros, lideranças e presidentes de partidos para fortalecer Greenhalgh.
Com isso, o movimento "Câmara Forte", chefiado pelo PL, partido da base aliada, resolveu assumir a bandeira do chamado baixo clero (deputados de pouca visibilidade na mídia) rebelde.
Virgílio, em franca campanha, ainda nega sua candidatura avulsa. Porém saiu ontem de um almoço com 20 deputados que o apóiam com discurso mais afiado. Indagado se pretendia substituir o candidato do governo ou confrontá-lo, respondeu: "Ao final da linha, poderá chegar nisso. Temos apoio suficiente".
O grupo acredita contar com 291 votos, segundo consulta informal com os parlamentares. O Planalto contabiliza 315 votos para Greenhalgh no cenário mais provável e 283 no mais difícil. São necessários 257 votos.
"Desta vez os caciques não vão mandar na tribo. Nós vamos comunicar ao presidente e aos líderes que essa é a decisão", disse o deputado João Caldas (PL-AL).
Caldas fez a declaração após reunião com o vice-presidente José Alencar, que tentou enquadrar a insurgência do PL.
Segundo Caldas, Alencar deixou claro que fazia um apelo para a bancada apoiar Greenhalgh por lealdade ao PT e ao governo. Teria ouvido em troca que a questão era suprapartidária.
Horas antes, o vice-presidente recebeu Greenhalgh e dois articuladores petistas, os deputados Paulo Pimenta (RS) e Paulo Delgado (MG). Fracassada sua tentativa de segurar as rédeas do movimento, Alencar deve reunir a bancada para outra tentativa.
O PTB, por exemplo, já foi enquadrado. O líder do partido na Câmara, José Múcio (PE), ameaçou não apoiar Greenhalgh. Depois de conversar ontem com Lula, o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), prometeu que seu partido irá apoiar Greenhalgh.
A bancada petista resolveu ontem mudar sua estratégia, após averiguar o fôlego que Virgílio tem ganho nos últimos dias.
Foi suspensa a idéia de um manifesto petista de apoio a Greenhalgh para evitar a leitura de que há um racha dentro do PT. No lugar, Lula foi acionado.
Ficou marcada para a próxima segunda uma ampla reunião com todos os partidos para demonstrar a força da candidatura Greenhalgh. Também será feito um corpo-a-corpo com todos os deputados. Segundo o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a campanha de Greenhalgh estava atrasada mas ganha força agora.

PSDB
Além dos problemas que tem com os aliados, o PT também administra a crise aberta com o PSDB por causa da eleição da Mesa da Câmara de São Paulo. Com a ajuda petista, o tucano rebelde Roberto Tripoli foi eleito contra a vontade do prefeito José Serra.
Os petistas temem uma revanche tucana na eleição da presidência da Câmara dos Deputados. O presidente do PT, José Genoino, deve ter um encontro com Serra e o vice tucano, Eduardo Azeredo, na próxima terça-feira.
"Não fui procurado. Não tenho problema nenhum de receber (Genoino). Terei maior satisfação de conversar com quem quer que seja na política. Estamos trabalhando por São Paulo e pelo Brasil. Nesse sentido, estou inteiramente aberto a diálogos", disse Serra.


Colaborou a Reportagem Local


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.