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REFORMA MINISTERIAL
Ministro retoma influência e negocia pastas em nome de Lula, que quer blindar Palocci com petista no Planejamento
Dirceu resgata prestígio e articula reforma
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As negociações da reforma ministerial levaram o ministro-chefe
da Casa Civil, José Dirceu, novamente ao centro das articulações
políticas, fazendo dele o principal
negociador do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva com os partidos aliados.
As mudanças objetivam ampliar o espaço dos aliados, como
incluir o recém-fortalecido PP no
ministério e recompor o relacionamento com o fracionado
PMDB. Por último, Lula usará a
reforma para tentar amarrar
acordos políticos para a sua eventual reeleição.
Ao mesmo tempo, Dirceu recuperou prestígio, colocando-se ao
lado do ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) quando se trata
de conversas sigilosas com Lula.
Recolheu-se internamente, adotando comportamento mais discreto, o que agradou Lula e retomou o papel que foi seu na composição do governo em 2002 e na
reforma ministerial de 2004 (anteparo do presidente).
Na recente viagem aos EUA,
Dirceu teve agenda de chanceler,
tratando da economia brasileira
às relações americanas com Cuba,
país com o qual mantém fortes laços. No Palácio do Planalto, a Folha ouviu que ele levou a Washington uma mensagem de Fidel
Castro. No Carnaval, Dirceu visitou a ilha caribenha que o acolheu
quando perseguido pela ditadura.
Além de Dirceu e Palocci, o líder
do governo no Senado, Aloizio
Mercadante (PT-SP), participa
das articulações para mapear os
desejos de partidos aliados e contornar problemas no PT, que perderá algumas das 19 entre 35 vagas de primeiro escalão.
Mercadante e Dirceu patrocinam, por exemplo, a ida da senadora licenciada Roseana Sarney
(PFL-MA) para o ministério. Palocci apóia essa saída, que ajuda a
consolidar a base do governo no
Senado. O atual presidente do Senado, o habilidoso Renan Calheiros (PMDB-AL), também banca a
indicação de Roseana.
Falta definir a pasta de Roseana.
Na prática, o clã liderado por José
Sarney, fiel aliado de Lula no
PMDB, quer tentar recuperar o
poder no Maranhão, onde vive às
turras com o governador José Reinaldo (PTB). No médio prazo,
Roseana se filiaria ao PMDB e poderia ser alternativa de vice de Lula no ano que vem.
Ao contrário da reforma de janeiro de 2004, Lula está mais fechado nas negociações atuais, que
também se tornaram mais demoradas. Desde novembro, o presidente adia a reforma. Ele evita discussões em grandes grupos para
tentar impedir vazamentos de informação. Também dá uma pista
a um interlocutor e solta outra diferente para outro. E delegou a
Dirceu o papel de falar em seu nome com partidos na reta final das
negociações, o que deve acontecer
ao longo desta semana.
Conversa preocupante
Na manhã de 19 de novembro,
Dirceu teve uma conversa a sós
com Lula na qual disse que se sentia "desconfortável" no governo.
Achava-se alijado do centro das
decisões, principalmente as políticas. Não soube, por exemplo,
dos movimentos de Lula para indicar o vice da República, José
Alencar, para a pasta da Defesa.
A contrariedade de Dirceu refletia a perda de poder com o caso
Waldomiro Diniz, principalmente do ponto de vista público, porque internamente manteve forte
influência. Waldomiro, homem
da confiança de Dirceu, apareceu
numa fita gravada antes do início
da gestão Lula pedindo propina a
um empresário e protagonizou a
maior crise do atual governo
-em fevereiro do ano passado.
Preocupado, Lula achou melhor
resgatar Dirceu, sob pena de ter
um chefe da Casa Civil contrariado mas com muito peso no PT, o
que poderia abalar a sua governabilidade e gerar crises.
O ministro da Casa Civil ensaiou críticas à política econômica, principalmente contestando
em conversas reservadas o processo de alta dos juros.
Lula resolveu liberá-lo para jogar mais livremente na área política. Pediu a ele, porém, que tivesse
o cuidado de não atropelar Aldo
Rebelo (Coordenação Política),
coisa que o PT se encarregou de
fazer, inclusive com aval de Dirceu. Os dois se desentenderam a
respeito da da emenda constitucional que permitiria a reeleição
dos presidentes do Senado e da
Câmara. Dirceu era favorável. Aldo, que levou a melhor, contrário.
Hoje, Aldo é um articulador
contestado publicamente pelo
PT, o que angustia Lula. O presidente não quer fritá-lo, mas reflete se ele ainda tem condições de,
em guerra com o PT, permanecer
no posto. A favor de Aldo, pesa o
temor de Lula de que passar sinal
de fraqueza em relação ao PT e de
a substituição ser vista como um
gesto de hostilidade aos aliados.
Uma opção é mover Aldo para
outra pasta, como Trabalho, ocupada pelo petista Ricardo Berzoini. Problema: no sindicalismo, PT
e o PC do B de Aldo travam guerra
nas bases. Ou seja, para onde Lula
se desloca, encontra obstáculos.
Detalhe: o nome petista aventado para a posição de Aldo é justamente o de João Paulo Cunha.
Uma surpresa seria a devolução
pura e simples da articulação política à Casa Civil. Lula, aliás, promete surpreender na reforma. Até
mesmo mantendo Aldo debaixo
de tanto bombardeio.
Nas últimas semanas, Dirceu recebeu tarefas do presidente. Antes
de viajar para os EUA, ele e Lula
falaram a sós e combinaram movimentos, como a operação para
evitar que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE),
aceite o pedido do PSDB para
abrir processo de crime de responsabilidade contra Lula devido
às declarações sobre suposta corrupção na gestão FHC.
Com Severino, que derrotou o
candidato do governo a presidente da Câmara, impondo a mais
forte derrota a Lula no Congresso
até hoje, Dirceu tratará também
da reforma ministerial. O presidente da Câmara terá influência
na indicação do ministro do partido e receberá uma boa posição
numa estatal ou num ministério.
Antes da eleição de Severino, o
ex-líder do PP na Câmara Pedro
Henry (MT) era o indicado do
partido para o ministério.
Lula e Dirceu ainda querem nomeá-lo, mas precisarão costurar
com a bancada liderada por José
Janene (PR) na Câmara. Henry se
desgastou na bancada quando foi
descoberta manobra sua para liberar uma milionária emenda
parlamentar de seu interesse.
Negociações
Nas conversas reservadas, o
presidente simpatiza com a idéia
de usar as eleições de 2006 como
pretexto para tirar alguns petistas.
Humberto Costa, ministro da
Saúde sem boa avaliação no Planalto, é cotado para sair. Costa é
pré-candidato a governador de
Pernambuco, mas enfrenta contestação no próprio PT. O prefeito
reeleito de Recife, João Paulo, por
exemplo, pode lhe tirar a vaga.
Nas negociações com o PMDB,
está bem encaminhada a articulação para que Romero Jucá (RR)
seja indicado ministro pela bancada de senadores. Hoje, a possibilidade maior seria ter assento na
Previdência, derrubando o também senador Amir Lando (RO).
Lula, porém, não tomou decisão
final porque um dominó de trocas de posição pode levar Jucá a
outra pasta.
Senadora licenciada, a pefelista
Roseana Sarney só não será ministra se a sua saúde impedir
-ela convalesce de uma cirurgia.
A articulação para que Roseana
seja ministra está fechada com
Lula. Se Eunício Oliveira (Comunicações) for deslocado para outra pasta, ela poderia substituí-lo.
Ciro Gomes (Integração Nacional) é cotado para a Saúde, liberando a sua vaga para o PMDB.
Planejamento e PT
O Planejamento, ocupado interinamente por Nelson Machado,
deverá ficar fora da composição
política numa reforma para ampliar o espaço dos aliados.
A série de recentes percalços políticos do governo convenceu Lula
a blindar Palocci, sinalizando que
a área econômica continuará fora
de ingerências políticas. Isso reforça a possibilidade de indicação
de um petista afinado com o ministro da Fazenda. Franco favorito: o deputado federal Paulo Bernardo (PT-PR).
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