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CAMPO MINADO
Comparação é com últimos três anos de FHC, com dados oficiais
Invasões de terra crescem 55% com Lula no Planalto
Jean Pimentel/Zero Hora
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BATALHA Conflito entre o MST e a polícia na fazenda "Guerra", em Coqueiros do Sul (RS), invadida na última quarta-feira por 2.000 acampados; notificados para deixar o local até as 15h de ontem, os sem-terra rasgaram a ordem de reintegração de posse e resistem a sair
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O número de invasões de terra
nos três primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva superou em 55% o registrado nos 36
últimos meses da gestão tucana
de Fernando Henrique Cardoso.
No mesmo intervalo, a quantidade de assassinatos por conta de
conflitos agrários avançou 63%.
Segundo balanço da Ouvidoria
Agrária Nacional, o governo petista acumulou 770 invasões a
imóveis rurais em todo o país entre janeiro de 2003 e dezembro de
2005. Nos três últimos anos de
FHC (2000 a 2002), a ouvidoria
registrou 497 ações desse tipo.
Sob Lula, que em campanha
eleitoral dizia ser o único candidato capaz de conter os sem-terra,
ocorre uma média de 21 invasões
a cada mês. Entre 2000 e 2002, a
média ficou um pouco abaixo de
14 casos a cada 30 dias. Criada em
1999 pelo governo para prevenir e
controlar os conflitos no campo, a
ouvidoria passou no ano seguinte
a quantificar invasões e mortes no
campo -logo, não há dados anteriores para comparação.
Há dois fatores que devem ser
considerados para explicar o aumento. Primeiro, em 2000 o governo FHC baixou uma medida
provisória segundo a qual quem
invadia terra perdia direito a assentamentos. Lula deixou de aplicá-la na prática. Além disso, o
MST deu uma trégua em 2002 para evitar que suas práticas fossem
associadas ao então candidato
Lula, que tinha seu apoio.
Outro dos motivos para o atual
aumento das invasões de terra está no fato de o governo Lula ter
priorizado seus assentamentos
nos Estados da chamada Amazônia Legal (os do Norte, além de
MT e MA), onde não atua o MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra). O movimento
teve então de partir para as invasões como a única forma de pressionar o governo. Das 770 invasões na gestão Lula, 67% (516) foram organizadas pelo MST.
Quando Lula venceu as eleições,
no final de 2002, houve uma corrida de sem-terra aos acampamentos, com a expectativa de que o
governo petista, enfim, fizesse a
reforma agrária. Em seis meses, a
quantidade de famílias acampadas saltou de 60 mil para 200 mil,
sendo a maioria delas do MST.
Segundo dados da ouvidoria,
assim como o MST, as invasões
estão distantes do Norte do país.
No governo Lula, a liderança do
ranking está com o Nordeste, com
37% (287) das ações. A seguir,
aparecem Sudeste (204), Centro-Oeste (133), Sul (113) e Norte (33).
Pernambuco, com carência de
terras para desapropriação e
diante de quase uma dezena de
movimentos camponeses, está à
frente entre os Estados, com 23%
(177) das invasões do país entre
janeiro de 2003 e dezembro de
2005. São Paulo (107), Paraná
(76), Minas Gerais (65) e Distrito
Federal (49) vêm logo atrás.
Em 2005, de acordo com a ouvidoria, que é ligada ao Ministério
do Desenvolvimento Agrário,
ocorreram 221 invasões em todo o
país, próximo das 222 de 2003 e
abaixo do recorde de 327 em
2004. Neste ano, porém, a tendência é que as ações se intensifiquem. O MST promete invadir
terras para homenagear os dez
anos do massacre de 19 sem-terra
em Eldorado do Carajás (PA).
Mortes no campo
Mesmo com as invasões em alta,
são as mortes no campo que têm
trazido as maiores dores de cabeça ao governo petista. Não somente pelos números, que passaram de 44 (de 2000 a 2002) para 72
(de 2003 a 2005) mas também pelo simbolismo e pela repercussão
internacional dos crimes, como a
chacina de Felisburgo (na qual
morreram cinco sem-terra) e o
assassinato da religiosa norte-americana Dorothy Stang.
No governo Lula, a cada mês
duas pessoas morrem por conta
de conflitos fundiários. Das 72
mortes de 2003 a 2005, 63% (46)
ocorreram na região Norte.
Entre os Estados, o Pará lidera
com 27 assassinatos, incluindo o
caso de Stang, seguido por Rondônia, com 15 mortes.
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