São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Homenagem tucana ao governador morto há cinco anos vai mobilizar defesa da ética e deve ser aproveitada pelo grupo de Alckmin

PSDB usa Covas pela unidade e contra Lula

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para além da efeméride, o aniversário dos cinco anos da morte de Mário Covas (1930-2001) será palco da mais acalorada discussão no PSDB: a disputa de José Serra e Geraldo Alckmin pela condição de candidato tucano à Presidência da República. Reunida em São Paulo, a cúpula do partido vai se esforçar para concluir a indicação do candidato ainda nesta semana.
De acordo com serristas, o presidente do partido, Tasso Jereissati (CE), até antecipou em um dia sua viagem a São Paulo e se encontrou ontem mesmo com o prefeito para análise das condições de sua eventual candidatura à Presidência. Assim, escapariam dos holofotes. Os dois marcaram a conversa na sexta-feira.
Entre hoje e amanhã, Tasso deve aproveitar a presença dos tucanos em São Paulo para consultá-los e conversar com Alckmin. A torcida é para que o processo esteja encerrado na quarta-feira, mas, apesar de o prefeito dar sinais de apetite pela disputa, alguns aliados acreditam que ele vá tentar prorrogar o prazo de escolha.
A homenagem também servirá para o PSDB criticar o governo Lula no campo ético e tentar demonstrar união em meio à disputa interna. Com o apoio do governo do Estado, um grande ato está programado para a Sala São Paulo a partir das 18h30 de hoje. Ele terá a presença de tucanos históricos e da cúpula do partido, fundado em 1988. Além de Tasso, Alckmin e Serra, confirmaram presença o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e parlamentares.
A idéia é transformar o ato em uma espécie de libelo tucano pela moralidade na política, em contraponto à gestão petista no Planalto, alvo de duas CPIs.
Mas, se depender do grupo aliado a Alckmin, que ainda aposta na desistência de Serra, o evento será também a plataforma de lançamento do governador -o que conflita com a pretensão tucana de passar a imagem de harmonia.

Figura ética
Deputado federal por três mandatos, senador, prefeito de São Paulo e governador do Estado até sua morte, em 6 de março de 2001, Covas é, para tucanos, um exemplo de figura pública pautada pela conduta ética. No discurso, Alckmin enfatizará esse aspecto de sua biografia, além de outros pontos, como a eficiência administrativa. Pela manhã, haverá missa e visita ao túmulo do governador em Santos, terra natal de Covas.
"Covas é o exemplo a ser seguido, principalmente agora, quando o atual governo não sabe a diferença entre o público e o privado", diz Gustavo Fruet (PR), integrante da CPI dos Correios que estará na homenagem.
Embora seja uma tentativa de demonstrar unidade partidária, os eventos em memória do governador devem favorecer Alckmin, vice de Covas em 1994 e 1998 e que assumiria o Estado em 2001, com a doença e morte do tucano. Em 2002, Alckmin foi reeleito.
Para alckmistas, o evento é uma maneira de ele se firmar como o sucessor do homenageado, já que conquistou o apoio da viúva, dona Lila Covas, e de seu grupo.
No fim do discurso, Alckmin apontará os alicerces de seu plano de governo caso seja escolhido candidato tucano. Está previsto ainda um balanço dos 12 anos da gestão do PSDB no Estado.

Reta final
O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), esperava que o candidato estivesse definido após o Carnaval. A hesitação de Serra, que passou a semana na Argentina e até ontem não havia decidido se deixa a prefeitura, atrasou o processo. Tucanos se preocupam com o desgaste da saída e com as seqüelas da disputa interna.
Enquanto isso, Alckmin e seus aliados negociam com o PSDB e o PFL as condições para sua candidatura. Internamente, o governador, aconselhado por FHC, sinalizará a Serra que, se eleito, enviará ao Congresso projeto pelo fim da reeleição, o que daria condições de o prefeito disputar em 2010.
Com o PFL, a conversa se dá em termos da sucessão de Alckmin e do posto de vice em sua chapa a presidente. O pefelista Cláudio Lembo herdará o governo e, se quiser, poderá lançar um nome do partido na disputa paulista.
No PFL, o principal esteio de Alckmin têm sido os senadores Antonio Carlos Magalhães (BA) e Marco Maciel (PE), mas falta quebrar as resistências de César Maia, prefeito do Rio e amigo de Serra.


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