Escândalo ocupa política britânica

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Se receber um resumo dos jornais britânicos, em sua visita de Estado ao Reino Unido, a partir de hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se sentirá em casa.
Há, em todos eles, um perfu- me muito parecido com o do escândalo do "mensalão", que parece tão brasileiro.
É verdade que o eixo do escândalo na Europa é um pagamento, não vários, no valor de 344 mil libras esterlinas (cerca de R$ 1,276 milhão), feito supostamente pelo ministro italiano Silvio Berlusconi a David Mills, marido de Tessa Jowell, secretária da Cultura do governo de Tony Blair, que não é do Partido dos Trabalhadores mas é do Partido Trabalhista.
Jowell jura, como Lula o fez sempre no caso do "mensalão", que não sabia de nada. Mas assinou ("sem ler", como o então presidente do PT José Genoino no caso dos empréstimos do "valerioduto" ao partido) a papelada para o resgate da hipoteca da casa que divide com Mills em Londres, para o que teria sido usada a propina vinda da Itália.
É tão insólita a afirmação que "The Independent on Sunday", a versão dominical do jornal "The Independent", impiedoso com Tessa Jowell, reservou quase duas páginas para três artigos de mulheres igualmente traídas por seus maridos (sexual ou financeiramente).
Uma delas, Bel Mooney (Mooney, não Money), pergunta: "Deveríamos esperar que casais que dividem a mesma cama dividam da mesma forma detalhes íntimos sobre seus negócios financeiros?"
É verdade que Tessa Jowell e David Mills já não dividem a mesma cama: no sábado, anunciaram ruidosamente a separação (mais exatamente sua tentativa de separação -ou o brasileiríssmo "dar um tempo").
Tessa Jowell disse a amigas que se sente "traída", exatamente como Lula. Mas, ao contrário do presidente brasileiro, ela deu o nome do traidor, de resto óbvio: seu marido David.
Ele, mais ou menos como o PT, não assumiu culpa alguma. Por meio do advogado, declarou estar "tão mortificado como ela ficou furiosa pelo embaraço que ele causou a ela".
Mesmo agora que o amor não é mais lindo, os críticos não ficaram convencidos, até porque, de acordo com o jornal "The Independent on Sunday", entrou no jogo aquele que pode ser considerado o Duda Mendonça britânico -mas sem dinheiro no exterior (até onde se sabe).
Chama-se Alastair Campbell e leva o rótulo de "spin doctor", ou seja, um grande especialista em fazer toda e qualquer notícia aparecer sob uma luz mais favorável a seu chefe/amigo/contratante. Foi "spin doctor" de Tony Blair, aliás.
Diz "The Independent": "O envolvimento de Campbell, que não está confirmado, aprofundará o cinismo dos deputados do Partido Trabalhista a respeito do anúncio" (de separação).


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