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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO RIBEIRÃO
Responsável por investigação diz ter indícios da participação do petista em esquema da Leão Leão e vai mostrá-los à CPI; ministro nega acusação
Delegado deve indiciar Palocci em Ribeirão
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
O delegado seccional de Ribeirão Preto, Benedito Antonio Valencise, disse ter indícios da participação de Antonio Palocci Filho,
ministro da Fazenda, no suposto
esquema de fraudes no sistema de
limpeza pública na Prefeitura de
Ribeirão Preto (SP) em benefício
da empreiteira Leão Leão. Pela
primeira vez, a polícia admite incluir Palocci na lista de indiciados.
O ministro nega as acusações.
Os detalhes das investigações e
do possível envolvimento do ministro devem ser conhecidos na
próxima quinta-feira. Anteontem, a CPI dos Bingos divulgou a
agenda dos próximos personagens a serem ouvidos e o depoimento de Valencise foi marcado
para essa data. Ele já adianta: "Lá
não posso ocultar nada. Vou falar
mesmo. Mas só a verdade".
"Eu não vou dizer em termos de
ministro, porque não tenho nada
a ver com ministro. Em termos
dos governantes da época [na
Prefeitura de Ribeirão], realmente há, segundo os depoimentos, o
envolvimento. É o que consta no
inquérito policial", diz Valencise.
A época citada é a segunda gestão de Palocci em Ribeirão, de
2001 a 2002, quando ele deixou o
cargo para assumir a campanha
do PT à Presidência.
Valencise não dá detalhes das
provas que tem, mas afirma que o
segundo depoimento do ex-secretário de Governo de Palocci de
1993 a 1994, Rogério Tadeu Buratti, é uma delas. As declarações de
Buratti, dadas em fevereiro deste
ano, isentaram a ex-superintendente do Daerp (Departamento
de Água e Esgotos de Ribeirão
Preto) Isabel Bordini e apontaram
Palocci como único responsável.
"A Leão tratava diretamente
com o prefeito, e, muitas vezes antes de liberar as medições, ela [Isabel] dizia que ia confirmar se o valor estava correto com o prefeito.
[...] Isabel Bordini obedecia às ordens do prefeito Palocci e, depois,
às do prefeito [petista Gilberto]
Maggioni", disse Buratti em depoimento a Valencise.
CPI
No depoimento, Valencise deve
adiantar o relatório final do inquérito previsto para ser concluído no final deste mês. Nele serão
relatadas as provas existentes e
quem são os responsáveis pelas
fraudes no lixo que o delegado diz
estar "100% provadas".
Devem ser indiciados Isabel
Bordini, os ex-secretários de Governo Donizeti Rosa (marido de
Isabel que hoje ocupa cargo no
governo federal) e Nelson Colela,
o ex-chefe-de-gabinete de Palocci
Juscelino Dourado, o ex-prefeito
Maggioni e um funcionário da
Leão responsável pela fiscalização
dos serviços prestados. Todos negam tal envolvimento.
Palocci tem foro privilegiado
por ser ministro e não pode ser indiciado pela Polícia Civil. Sua participação deve ser relatada para a
Justiça local no inquérito, que encaminha o processo para o STF.
Também serão ouvidos pela
CPI, um dia antes de Valencise,
três funcionários da Prefeitura de
Ribeirão na época em que as supostas irregularidades ocorriam:
Mauro Pereira Júnior, Marilene
do Nascimento Falsarella e Paulo
Antônio Henrique Negri.
Em 2005, eles foram ouvidos pela Polícia Civil e pelo Ministério
Público Estadual de Ribeirão e
afirmaram existir irregularidades
nas medições do lixo em benefício
da Leão Leão. Essas fraudes provocaram um prejuízo de R$ 400
mil mensais aos cofres públicos.
Buratti, que também foi vice-presidente do grupo Leão Leão, diz
que Palocci recebeu R$ 50 mil
mensais da empreiteira entre 2001
e 2002 -esquema herdado por
Maggioni, até 2004.
Ainda nesta semana devem começar as discussões sobre a prorrogação da CPI dos Bingos. "Vou
conversar com o relator Garibaldi
Alves [PMDB-RN] e com os líderes dos partidos", afirmou ontem
o presidente da CPI, senador
Efraim Morais (PFL-PB).
Efraim vai tentar marcar uma
reunião com o ministro Cezar Peluso, do STF, para saber informações sobre o mandado de segurança apresentado pelo empresário Roberto Carlos Kurzweil.
Apontado como elo entre Palocci
e empresários de casas de bingo,
Kurzweil obteve liminar impedindo o acesso da CPI a seus sigilos. O caso é analisado por Peluso.
Outro lado
Palocci foi procurado por meio
de sua assessoria para comentar o
assunto, mas não respondeu. A
reportagem enviou e-mail informando o teor da reportagem,
uma exigência da assessoria, mas
não recebeu resposta.
Em depoimento à CPI dos Bingos em janeiro, o ministro negou
mais uma vez as denúncias de
corrupção, defendeu seus assessores, principalmente Isabel, a
quem disse considerar muito honesta, mas não atacou Buratti.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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