São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2006

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"Modelo é eficaz para fortalecer o raciocínio"

DA SUCURSAL DO RIO

Folha - Por que o debate entre fônicos e construtivistas é tão acirrado no Brasil?
Fernando Capovilla -
Descobertas revolucionárias com novas tecnologias, como a neuroimagem funcional, refutaram os pressupostos construtivistas e levaram à revolução fônica que mudou a alfabetização mundial nos anos 90.
Baseados em pesquisas de ponta, documentos oficiais franceses, ingleses e americanos defendem a alfabetização fônica e condenam as práticas construtivistas como nocivas à aprendizagem. Declaram que seus alunos, sob o construtivismo, amargaram mais de uma década de mediocridade, e só prosperaram com o fônico. Entre 1995 e 1997, quando o mundo civilizado condenava o construtivismo como lesa-juventude, o Brasil, na contramão, o entronizava nos PCNs em alfabetização.
O establishment construtivista dominou com mãos de ferro as principais publicações distribuídas ao professorado à custa do erário para impor a sua doutrina construtivista.
O resultado dessa aposta cega foi imediato, com fracasso crescente documentado bianualmente pelo Saeb [exame do MEC que avalia a qualidade da educação] de 1995 a 2003, e com a vergonha internacional, com a pecha de vice-recordista mundial de incompetência, segundo teste da Unesco e da OCDE em 2003.

Folha - O método fônico já foi utilizado no Brasil, e a repetência era altíssima. Por que voltar ao que não deu certo?
Capovilla -
O método que o Brasil empregava antes dos anos 80 não era o fônico, mas o alfabético-silábico, baseado no ensino repetitivo de sílabas.
Não tem nada a ver com o fônico, que é baseado no ensino dinâmico do código alfabético, ou seja, das relações entre grafemas e fonemas em meio a atividades lúdicas planejadas para levar as crianças a aprender a codificar a fala em escrita, e, de volta, a decodificar a escrita no fluxo da fala e do pensamento.
O fônico é inteligente, lúdico e nada mecânico. Leva as crianças a serem alfabetizadas muito bem em quatro ou seis meses, quando passam a ler textos cada vez mais complexos e variados. Ele é tão eficaz em produzir compreensão e produção de textos porque, de modo sistemático e lúdico, fortalece o raciocínio e a inteligência verbal.
O Observatório Nacional da Leitura da França e o Painel Nacional de Leitura dos EUA afirmam sua clara superioridade, mas o MEC nunca deu à criança brasileira a chance de aprender com o fônico e colher seus frutos.
Segundo dados de Saeb, OCDE e Unesco, é o construtivismo que reinou absoluto e fracassou aqui e no resto do mundo. Ele tem produzido evasão e repetência escolar anuais de mais de 20%.
No entanto, para mascarar a repetência, rebaixou-se os critérios de aprovação obrigando as escolas a aprovar 60% dos alunos descobertos depois pelo Saeb como absolutamente incompetentes.

Folha - Críticos do método fônico dizem que há o interesse de seus defensores em ganhar dinheiro vendendo cartilhas para governos.
Capovilla -
Sou professor e pesquisador em tempo integral na USP, onde trabalho 16 horas por dia, seis a sete dias por semana. Não tenho empresa ou clínica particular. Meus livros e palestras em alfabetização têm renda doada para custear pesquisas. Meu objetivo único é produzir conhecimento científico relevante em educação e saúde e convertê-lo em tecnologia para melhorar a qualidade de vida da população.
Se no último quarto de século construtivistas ganharam dinheiro vendendo livros e programas ineficazes de treinamento de professores, e se agora acusam alguns fônicos de querer fazer o mesmo, deve ser porque têm muito medo de largar o úbere governamental.

Folha - Na maioria das escolas de elite, o método não é o fônico. Por que ele seria bom para os alunos da rede pública?
Capovilla -
Nas escolas de elite, estudam crianças de nível socioeconômico médio-alto e alto, cujos pais cultos dispõem dos recursos para estimular os filhos desde tenra infância.
De cada 100 crianças do ensino fundamental, 91 são da escola pública e vivem num mundo bem diferente. Se sua escola não souber ensinar, não terão outro meio de aprender.
Escolas particulares construtivistas não têm motivo de empáfia, pois, embora posem de imensamente melhores que as construtivistas públicas, empalidecem quando comparadas às públicas não construtivistas do planeta. Afinal, dos 5.000 brasileiros declarados incompetentes pela Unesco e OCDE, parte era dessas particulares. Elas não servem de modelo para a pública.
A população cuja única alternativa é a pública só estará protegida de um futuro de marginalidade, desemprego e subemprego se a escola for competente em ensinar. Mas, dos 35 milhões de crianças no ensino fundamental, a cada ano, o construtivismo reprova ou expulsa mais de 7 milhões. Contabilizado 25 anos, o tamanho do lesa-humanidade assombra.
No entanto, não terá sido em vão se servir para levar o Ministério da Educação a escolher melhor seus conselheiros e conceder à criança o direito de estudar numa escola voltada a competências e capaz de reaprender, com a criança, a arte e a ciência de desenvolver competências. Na alfabetização, essa escola é a fônica.


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