|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Modelo é eficaz para fortalecer o raciocínio"
DA SUCURSAL DO RIO
Folha - Por que o debate entre
fônicos e construtivistas é tão acirrado no Brasil?
Fernando Capovilla - Descobertas revolucionárias com novas
tecnologias, como a neuroimagem funcional, refutaram os pressupostos construtivistas e levaram à revolução fônica que mudou a alfabetização mundial nos
anos 90.
Baseados em pesquisas de ponta, documentos oficiais franceses,
ingleses e americanos defendem a
alfabetização fônica e condenam
as práticas construtivistas como
nocivas à aprendizagem. Declaram que seus alunos, sob o construtivismo, amargaram mais de
uma década de mediocridade, e
só prosperaram com o fônico. Entre 1995 e 1997, quando o mundo
civilizado condenava o construtivismo como lesa-juventude, o
Brasil, na contramão, o entronizava nos PCNs em alfabetização.
O establishment construtivista
dominou com mãos de ferro as
principais publicações distribuídas ao professorado à custa do
erário para impor a sua doutrina
construtivista.
O resultado dessa aposta cega
foi imediato, com fracasso crescente documentado bianualmente pelo Saeb [exame do MEC que
avalia a qualidade da educação]
de 1995 a 2003, e com a vergonha
internacional, com a pecha de vice-recordista mundial de incompetência, segundo teste da Unesco e da OCDE em 2003.
Folha - O método fônico já foi utilizado no Brasil, e a repetência era
altíssima. Por que voltar ao que
não deu certo?
Capovilla - O método que o Brasil empregava antes dos anos 80
não era o fônico, mas o alfabético-silábico, baseado no ensino repetitivo de sílabas.
Não tem nada a ver com o fônico, que é baseado no ensino dinâmico do código alfabético, ou seja, das relações entre grafemas e
fonemas em meio a atividades lúdicas planejadas para levar as
crianças a aprender a codificar a
fala em escrita, e, de volta, a decodificar a escrita no fluxo da fala e
do pensamento.
O fônico é inteligente, lúdico e
nada mecânico. Leva as crianças a
serem alfabetizadas muito bem
em quatro ou seis meses, quando
passam a ler textos cada vez mais
complexos e variados. Ele é tão
eficaz em produzir compreensão
e produção de textos porque, de
modo sistemático e lúdico, fortalece o raciocínio e a inteligência
verbal.
O Observatório Nacional da
Leitura da França e o Painel Nacional de Leitura dos EUA afirmam sua clara superioridade,
mas o MEC nunca deu à criança
brasileira a chance de aprender
com o fônico e colher seus frutos.
Segundo dados de Saeb, OCDE
e Unesco, é o construtivismo que
reinou absoluto e fracassou aqui e
no resto do mundo. Ele tem produzido evasão e repetência escolar anuais de mais de 20%.
No entanto, para mascarar a repetência, rebaixou-se os critérios
de aprovação obrigando as escolas a aprovar 60% dos alunos descobertos depois pelo Saeb como
absolutamente incompetentes.
Folha - Críticos do método fônico
dizem que há o interesse de seus
defensores em ganhar dinheiro
vendendo cartilhas para governos.
Capovilla - Sou professor e pesquisador em tempo integral na
USP, onde trabalho 16 horas por
dia, seis a sete dias por semana.
Não tenho empresa ou clínica
particular. Meus livros e palestras
em alfabetização têm renda doada para custear pesquisas. Meu
objetivo único é produzir conhecimento científico relevante em
educação e saúde e convertê-lo
em tecnologia para melhorar a
qualidade de vida da população.
Se no último quarto de século
construtivistas ganharam dinheiro vendendo livros e programas
ineficazes de treinamento de professores, e se agora acusam alguns
fônicos de querer fazer o mesmo,
deve ser porque têm muito medo
de largar o úbere governamental.
Folha - Na maioria das escolas de
elite, o método não é o fônico. Por
que ele seria bom para os alunos da
rede pública?
Capovilla - Nas escolas de elite,
estudam crianças de nível socioeconômico médio-alto e alto, cujos
pais cultos dispõem dos recursos
para estimular os filhos desde
tenra infância.
De cada 100 crianças do ensino
fundamental, 91 são da escola pública e vivem num mundo bem
diferente. Se sua escola não souber ensinar, não terão outro meio
de aprender.
Escolas particulares construtivistas não têm motivo de empáfia,
pois, embora posem de imensamente melhores que as construtivistas públicas, empalidecem
quando comparadas às públicas
não construtivistas do planeta.
Afinal, dos 5.000 brasileiros declarados incompetentes pela Unesco
e OCDE, parte era dessas particulares. Elas não servem de modelo
para a pública.
A população cuja única alternativa é a pública só estará protegida
de um futuro de marginalidade,
desemprego e subemprego se a
escola for competente em ensinar.
Mas, dos 35 milhões de crianças
no ensino fundamental, a cada
ano, o construtivismo reprova ou
expulsa mais de 7 milhões. Contabilizado 25 anos, o tamanho do lesa-humanidade assombra.
No entanto, não terá sido em
vão se servir para levar o Ministério da Educação a escolher melhor seus conselheiros e conceder
à criança o direito de estudar numa escola voltada a competências
e capaz de reaprender, com a
criança, a arte e a ciência de desenvolver competências. Na alfabetização, essa escola é a fônica.
Texto Anterior: Entrevista da 2ª - Telma Weisz e Fernando Capovilla: Construtivismo x Método Fônico Próximo Texto: "Programa busca gerar leitores competentes" Índice
|