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Taxa do álcool nos EUA já opõe Lula e Bush
Petista cobra redução na tarifa, enquanto assessor americano afirma que assunto não será debatido durante visita ao Brasil
Países também divergem sobre Chávez, que, segundo o americano, será discutido; para o brasileiro, "não há espaço" para falar do tema
DE WASHINGTON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
Sim, os Estados Unidos discutirão Hugo Chávez durante a
viagem de George W. Bush à
América Latina. E não, os EUA
não discutirão a derrubada da
tarifa de importação imposta
ao álcool combustível brasileiro, de R$ 0,30 por litro hoje.
Foi o que disse ontem o assessor de segurança nacional
do Departamento de Estado,
Stephen Hadley, embora não
com tantas palavras. Horas antes, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva cobrara uma redução na tarifa americana e
afirmara que não espera discutir Chávez com Bush.
Indagado em encontro com
jornalistas ontem se haveria
uma discussão para a redução
da tarifa, Hadley respondeu:
"Não, a tarifa não está nas negociações e nós não temos intenção de propor a alteração da
tarifa. Isso é, obviamente, um
assunto do Congresso".
Já Lula, em seu programa de
rádio, "Café com o Presidente",
criticou a taxa americana ao álcool brasileiro. "Eles [países
desenvolvidos] falam muito em
livre comércio, mas eles gostam
de proteger os seus produtos.
Então, o que eu quero é o seguinte: se é para ter livre comércio, vamos ter livre comércio para que a gente tenha
oportunidade de vender e de
comprar. Não tem sentido a alta taxa que os Estados Unidos
impõem ao álcool brasileiro."
Atualmente, os EUA cobram
um imposto de 2,5%, mais
US$ 0,54 por galão de etanol
exportado, o que equivale a
R$ 0,30 por litro de álcool.
Pela manhã, o embaixador do
Brasil em Washington, Antonio Patriota, havia dito à Folha:
"Há certa contradição entre,
por exemplo, Brasil e EUA trabalharem com a União Européia, China e África do Sul para
promover a transformação de
"commodity" do etanol, e ao
mesmo tempo um desses países querer manter uma tarifa".
Mesmo assim, disse o diplomata, a sobretaxa não impede
que as exportações do produto
brasileiro aos EUA "cresçam
vertiginosamente". Patriota
acredita que "o Executivo norte-americano pode até estar
convencido dos argumentos
brasileiros, mas essa é uma
questão que depende aqui nos
EUA do Congresso".
"Turnê anti-Chávez"
Indagado se a viagem de
Bush se tratava de uma "turnê
anti-Chávez", Hadley respondeu: "Não, realmente não". Indagado a seguir se esperava que
o assunto Chávez surgisse nas
conversas privadas, o assessor
acabaria por conceder:
"Acho que há uma gama de
assuntos do continente que
aparecerão. Um é a luta por democracia no hemisfério, que é
uma enorme conquista da última metade do século 20; é algo
que não queremos perder. Estou certo de que isso será discutido, é claro, assim como outras
questões regionais, é claro".
Mais adiante, comentaria
qual seria uma dessas questões.
"A região passou nos últimos 14
meses por 15 eleições. (...) A
questão dos esforços de Chávez
de intervir em algumas dessas
eleições tem sido um problema.
E uma quantidade de candidatos concorreu de maneira bem-sucedida contra essa intervenção. Então essa certamente será uma das questões em termos
de América Latina."
Lula, no entanto, demonstrou em seu programa que não
há lugar para discutir a atuação
de Chávez. "Eu não acredito
que o presidente Bush venha
conversar comigo um assunto
como esse. Até porque eu respeito a soberania de cada país.
Eu acho que não há espaço para
a gente discutir problemas de
outros países, a não ser discutir
os nossos próprios problemas."
Petrobras
O presidente da Petrobras,
José Sérgio Gabrielli, também
criticou ontem a tarifa imposta
pelos EUA à importação de álcool, que "torna praticamente
impossível" a competição do
produto brasileiro.
"O álcool americano é feito a
partir do milho e esse complexo produtivo tem uma proteção
muito grande contra a importação. Essa tarifa torna praticamente impossível [ao Brasil]
ter condições competitivas para vender para os EUA."
(SÉRGIO DÁVILA, PEDRO DIAS LEITE E PEDRO SOARES)
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