São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Nos bastidores

Convertido em espectador do julgamento histórico sobre o uso de células-tronco embrionárias, iniciado ontem no STF, o ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles fazia questão de defender a ação direta de inconstitucionalidade de sua autoria e de devolver os petardos contra ele lançados pelos defensores da liberação das pesquisas.
Fonteles rebateu a bola para José Gomes Temporão. Disse que o ministro da Saúde comete uma "barbeiragem" ao não criar "imediatamente" bancos públicos de coleta de cordão umbilical, em seu entender uma fonte "mais viável" de células-tronco, que não exige o "sacrifício de vida nenhuma".

Pegadinha. Fonteles ostentava na lapela do paletó um broche com a Cruz de Malta. Aos desavisados que lhe perguntavam se era um ornamento católico explicava: "Fiz de propósito. É o símbolo do Vasco, para festejar a queda do Eurico Miranda".

Bardo. A verve poética que pontuou o relatório e o voto do ministro Carlos Ayres de Britto mereceu sorrisos aprovadores do colega Marco Aurélio de Mello e uma citação elogiosa do advogado Ives Gandra Martins, representante da CNBB no julgamento. Britto recorreu a um trecho de "Hamlet", a Fernando Pessoa e até a Tom Zé.

Crenças à parte. O advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, evitou a questão religiosa em sua sustentação oral. A despeito de defender a pesquisa com células de embriões, declara-se católico praticante: "Vou à missa todo domingo, tenho irmão padre, acredito em céu e inferno".

Off-line. Escaldados pelo vazamento de suas mensagens no julgamento do mensalão, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia preferiram deixar os laptops fechados. Eros Grau, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa navegaram à vontade, mas com os fotógrafos mantidos à distância.

Pop. A platéia de ontem bateu de longe a do julgamento do mensalão. Não bastasse o plenário lotado, dois telões foram colocados no saguão do STF para o público, que se sentou no chão para assistir.

Munição 1. No esforço para defender o governo na vindoura CPI dos Cartões Corporativos, parlamentares colecionam, além de exemplos de gastos da gestão FHC, dados sobre as despesas feitas por outros braços da União.

Munição 2. No ano passado, a Justiça Eleitoral liderou o Judiciário em gastos com suprimento de fundos (R$ 2.511.900), seguida de perto pela Justiça do Trabalho (R$ 2.467.500). Depois, veio a Justiça Federal (1.470.700).

Next. Frustrada pelo depoimento morno de Jorge Lorenzetti na CPI das ONGs, a oposição investigará sua atuação como assessor de organizações não-governamentais na Holanda em 2003 e 2004.

Companheiros. Em agosto de 2003, ao discursar no Pará, Lula saudou a platéia em que estavam seu churrasqueiro e representantes da organização holandesa ICCO. "Queria cumprimentar os companheiros da ICCO, o companheiro Lorenzetti..."

Emboscada. Convidado para audiência na Comissão de Agricultura do Senado, o presidente do Incra, Rolf Rackbart, foi massacrado pelos ruralistas Kátia Abreu (DEM-TO), Osmar Dias (PDT-PR), Valter Pereira (PMDB-MS) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA). Com a Casa mobilizada em torno de CPIs e pela votação do Orçamento, o governo se "esqueceu" de enviar socorro ao petista.

Jóquei. De um político adversário, sob o impacto do lançamento da candidatura de Fernando Gabeira (PV) à Prefeitura do Rio de Janeiro: "É cavalo que larga em último e vai ganhar a corrida".

Tiroteio

"Vamos ver se a partir de agora o Ministério do Trabalho será coerente com o pensamento do presidente, ou se é ele quem mudará de discurso conforme a platéia."


De KÁTIA ABREU (DEM-TO), sobre a declaração de Lula minimizando relatos de condições degradantes de trabalho no país, posição desde sempre defendida pela senadora oposicionista.

Contraponto

Ponto de vista

Ao defender a constitucionalidade do uso de células-tronco de embriões humanos para pesquisas, o advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, discorreu sobre o papel do Estado e a ética da responsabilidade. Acabou falando além dos 15 minutos de que dispunha.
-Doutor Toffoli, conclua. Seu tempo terminou-, advertiu a presidente do Supremo, Ellen Gracie.
O advogado-geral se espantou com o alerta.
-Vossa Excelência me desculpe. Eu estava acompanhando as luzes, mas elas não se acenderam.
Inflexível, a ministra insistiu:
-As suas estão falhando. As minhas já se acenderam.


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