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GOVERNO
Sem apoio político, presidente da estatal desde 92 pede demissão; Azeredo e Mendonça de Barros estão cotados
Pressionado, Joel Rennó deixa a Petrobrás
CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio
O presidente da Petrobrás, Joel
Mendes Rennó, 58, anunciou ontem à noite seu pedido de demissão do cargo que ocupava havia
seis anos e três meses, o período
mais longo que alguém já ficou na
direção da estatal. "Minha missão
está concluída", afirmou.
A assessoria do ministro Rodolpho Tourinho (Minas e Energia)
informou que o substituto interino
de Rennó será o atual vice-presidente da Braspetro (braço externo
da estatal), José Coutinho Barbosa.
Seu nome foi aprovado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ontem mesmo.
Em entrevista coletiva, Rennó
anunciou sua decisão às 18h42,
momentos depois de fazer um balanço das parcerias para exploração de petróleo que a Petrobrás assinou ou vai assinar.
Ele disse que seu pedido de demissão já havia sido entregue ao
ex-ministro das Minas e Energia
Raimundo Brito no dia 9 de dezembro do ano passado.
Em outra carta, com a data de
ontem e endereçada ao atual ministro, Rennó relembra seu pedido
de demissão feito a Brito, os apelos
que o ex-ministro teria feito para
que ele esperasse e renova sua solicitação de desligamento.
Na carta a Tourinho, Rennó diz
que, com base no estatuto da empresa, Arnaldo Leite Pereira, um
dos diretores da empresa, seria o
nome para substituí-lo no cargo,
opção não referendada pela cúpula
do governo.
Rennó disse que tentou falar por
telefone sobre sua decisão com
FHC, mas, segundo ele, o presidente estava "em uma audiência
complicada".
A saída de Rennó vinha sendo
preparada paralelamente a uma
articulação para mudar o estatuto
da empresa e esvaziar a presidência. A assembléia extraordinária
dos acionistas da Petrobrás, que
fará a alteração no estatuto, está
marcada para o próximo dia 16.
Ao alterar o estatuto da Petrobrás, a União vai conceder apenas
ao presidente da diretoria-executiva direito a assento no conselho de
administração da empresa. Atualmente, todos os diretores da Petrobrás fazem parte do conselho.
O governo queria tirar Rennó do
cargo quando tivesse uma alternativa concreta para efetivar a substituição. O ex-governador de Minas
Eduardo Azeredo e o ex-ministro
Luiz Carlos Mendonça de Barros
(Comunicações) são nomes cotados para o cargo.
A opção por Mendonça de Barros está sendo prejudicada pelas
investigações sobre supostas irregularidades cometidas pelo ex-ministro no processo de privatização
do Sistema Telebrás.
O mineiro Rennó chegou à presidência da principal estatal brasileira pelas mãos do então presidente
Itamar Franco em novembro de
1992, indicado pelo na época ministro das Minas e Energia, Paulino Cícero, ligado ao ex-vice-presidente da República Aureliano
Chaves.
Considerado substituição certa
no início do segundo governo
FHC, Rennó conseguiu permanecer no cargo graças a novas alianças que costurou, especialmente
com o grupo do PFL liderado pelo
senador Antonio Carlos Magalhães, e com alguns setores do
PSDB, como os ligados ao ex-governador do Rio Marcello Alencar.
Rejeitada abertamente pelo grupo tucano mais próximo do presidente da República, a permanência de Rennó durante o primeiro
governo FHC foi marcada por um
constante desgaste e sucessivos
boatos de sua demissão.
Sob sua direção, a empresa aumentou a produção de petróleo
em 70% no período 95/98, mas
também foi alvo de acusações de
irregularidades, especialmente na
área de contratos de plataformas.
Defensor do monopólio estatal
do petróleo, extinto em 1995, e da
permanência da Petrobrás como
estatal, Rennó teve seu prestígio no
governo ainda mais reduzido após
a criação da ANP (Agência Nacional do Petróleo), comandada por
David Zylbersztajn, genro de FHC.
Zylbersztajn assumiu em dezembro de 97 batendo no poderio da
Petrobrás e afirmando que ela teria
que se enquadrar a um novo modelo competitivo.
Colaborou
Fernando Godinho, da Sucursal de
Brasília
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