São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
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GOVERNO
Sem apoio político, presidente da estatal desde 92 pede demissão; Azeredo e Mendonça de Barros estão cotados
Pressionado, Joel Rennó deixa a Petrobrás

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O presidente da Petrobrás, Joel Mendes Rennó, 58, anunciou ontem à noite seu pedido de demissão do cargo que ocupava havia seis anos e três meses, o período mais longo que alguém já ficou na direção da estatal. "Minha missão está concluída", afirmou.
A assessoria do ministro Rodolpho Tourinho (Minas e Energia) informou que o substituto interino de Rennó será o atual vice-presidente da Braspetro (braço externo da estatal), José Coutinho Barbosa. Seu nome foi aprovado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ontem mesmo.
Em entrevista coletiva, Rennó anunciou sua decisão às 18h42, momentos depois de fazer um balanço das parcerias para exploração de petróleo que a Petrobrás assinou ou vai assinar.
Ele disse que seu pedido de demissão já havia sido entregue ao ex-ministro das Minas e Energia Raimundo Brito no dia 9 de dezembro do ano passado.
Em outra carta, com a data de ontem e endereçada ao atual ministro, Rennó relembra seu pedido de demissão feito a Brito, os apelos que o ex-ministro teria feito para que ele esperasse e renova sua solicitação de desligamento.
Na carta a Tourinho, Rennó diz que, com base no estatuto da empresa, Arnaldo Leite Pereira, um dos diretores da empresa, seria o nome para substituí-lo no cargo, opção não referendada pela cúpula do governo.
Rennó disse que tentou falar por telefone sobre sua decisão com FHC, mas, segundo ele, o presidente estava "em uma audiência complicada".
A saída de Rennó vinha sendo preparada paralelamente a uma articulação para mudar o estatuto da empresa e esvaziar a presidência. A assembléia extraordinária dos acionistas da Petrobrás, que fará a alteração no estatuto, está marcada para o próximo dia 16.
Ao alterar o estatuto da Petrobrás, a União vai conceder apenas ao presidente da diretoria-executiva direito a assento no conselho de administração da empresa. Atualmente, todos os diretores da Petrobrás fazem parte do conselho.
O governo queria tirar Rennó do cargo quando tivesse uma alternativa concreta para efetivar a substituição. O ex-governador de Minas Eduardo Azeredo e o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) são nomes cotados para o cargo.
A opção por Mendonça de Barros está sendo prejudicada pelas investigações sobre supostas irregularidades cometidas pelo ex-ministro no processo de privatização do Sistema Telebrás.
O mineiro Rennó chegou à presidência da principal estatal brasileira pelas mãos do então presidente Itamar Franco em novembro de 1992, indicado pelo na época ministro das Minas e Energia, Paulino Cícero, ligado ao ex-vice-presidente da República Aureliano Chaves.
Considerado substituição certa no início do segundo governo FHC, Rennó conseguiu permanecer no cargo graças a novas alianças que costurou, especialmente com o grupo do PFL liderado pelo senador Antonio Carlos Magalhães, e com alguns setores do PSDB, como os ligados ao ex-governador do Rio Marcello Alencar.
Rejeitada abertamente pelo grupo tucano mais próximo do presidente da República, a permanência de Rennó durante o primeiro governo FHC foi marcada por um constante desgaste e sucessivos boatos de sua demissão.
Sob sua direção, a empresa aumentou a produção de petróleo em 70% no período 95/98, mas também foi alvo de acusações de irregularidades, especialmente na área de contratos de plataformas.
Defensor do monopólio estatal do petróleo, extinto em 1995, e da permanência da Petrobrás como estatal, Rennó teve seu prestígio no governo ainda mais reduzido após a criação da ANP (Agência Nacional do Petróleo), comandada por David Zylbersztajn, genro de FHC.
Zylbersztajn assumiu em dezembro de 97 batendo no poderio da Petrobrás e afirmando que ela teria que se enquadrar a um novo modelo competitivo.


Colaborou Fernando Godinho, da Sucursal de Brasília


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