São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO

Polícia quer confrontar ex-ministro e ex-presidente da Caixa para tentar esclarecer quem foi o mandante da violação do sigilo do caseiro

PF fará acareação entre Palocci e Mattoso

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal fará uma acareação entre o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso para tentar esclarecer quem foi o mandante da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Até ontem à noite não havia data definida para a convocação dos dois.
Mattoso já assumiu em depoimento à PF, em 27 de março, ter dado a ordem interna na Caixa para a quebra do sigilo e a impressão de um extrato de Francenildo. Disse ainda à polícia que entregou o documento pessoalmente para o ex-ministro da Fazenda em encontro na casa de Palocci. No entanto não disse à PF que recebera a ordem da violação do sigilo diretamente de Palocci.
A Folha apurou que Palocci deu a ordem a Mattoso na tarde de 16 de março, em reunião no Palácio do Planalto. À noite, o então presidente da Caixa lhe deu o extrato.
Em depoimento anteontem à PF, Palocci foi indiciado sob a acusação de ter cometido os crimes de quebra de sigilo e violação de sigilo funcional. Apesar do indiciamento, ele negou ter ordenado a violação. Admitiu que recebeu os extratos de Mattoso, mas afirmou que triturou os documentos em 20 de março sem ter revelado o conteúdo a outras pessoas. Cópia dos extratos foi publicada no dia 17 pela revista "Época", um dia depois da violação.

Demissão
Palocci foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 27 de março, após tentar um afastamento temporário, devido ao depoimento de Mattoso à PF naquele dia. Lula estava convencido de que Palocci havia sido o mandante do crime, apesar de ele ter negado isso em conversas com o presidente e com outros colegas.
A acareação entre Palocci e Mattoso, segundo apurou a Folha, será feita pela PF para mostrar que não há interesse do governo em acobertar um eventual crime do ex-ministro. A PF avalia se faz a acareação antes de ouvir Mattoso novamente ou se já marca diretamente um encontro entre os dois.
Para a polícia, o depoimento de Palocci foi uma opção por uma estratégia jurídica: negar o crime, apresentar uma versão pouco crível (ter triturado a única cópia do extrato) e sustentar em eventual processo jurídico que não há provas que o incriminem.

Avaliação do Planalto
Do ponto de vista político, o depoimento de Palocci trouxe alívio à cúpula do governo. Temia-se que ele tentasse envolver o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, no imbróglio da violação do sigilo, mas isso não ocorreu. Nos bastidores, Thomaz Bastos atuou pela demissão de Palocci.
A versão do ex-ministro reforçou a de dois auxiliares de Thomaz Bastos que estiveram em contato com Palocci nos dias 16 e 17 de março: Daniel Goldberg, secretário de Direito Econômico, e Cláudio Alencar, chefe-de-gabinete do ministro da Justiça.
Goldberg esteve na casa de Palocci na mesma hora em que Mattoso. Palocci confirmou a versão do secretário de que não presenciou a entrega dos extratos nem foi informado da violação.
Goldberg e Alencar relataram a Thomaz Bastos a presença de Mattoso na casa de Palocci. O ministro da Justiça pediu abertura de inquérito à PF após esse relato e informou a Lula de que suspeitava de Palocci. Uma semana depois, o hoje ex-ministro caiu.


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