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Roraima vira palco de guerra até entre grupos de índios
Enquanto uma ala defende a retirada de não-indígenas da reserva Raposa/Serra do Sol, outra apóia a permanência dos arrozeiros
Série de protestos teve início no domingo passado; desde lá pontes foram bloqueadas e incendiadas e pelo menos duas pessoas foram presas
ANDREZZA TRAJANO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
Pontes incendiadas, máquinas agrícolas bloqueando acessos às estradas, índios pintados
para a guerra. Este foi o cenário
encontrado pela reportagem ao
trafegar no interior da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em
Roraima, nos últimos dias.
Desde o último domingo,
quando os protestos contra a
retirada dos não-índios da reserva tiveram início, a reportagem esteve no local duas vezes.
O clima de tensão e violência
na área aumentou após a chegada a Roraima de agentes federais que farão a retirada dos
não-índios que ainda permanecem na terra indígena. Na sexta-feira, desembarcaram em
Boa Vista integrantes da Força
Nacional de Segurança.
A retirada dessas pessoas
-incluindo um grupo de arrozeiros- foi determinada pelo
governo federal em 2005,
quando Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que homologou de forma contínua como terra indígena a área de cerca de 1,7 milhão de hectares.
Porém, parte dos não-índios,
liderados pelos rizicultores da
Raposa/Serra do Sol, permanece no interior da reserva e se recusa a deixar o local.
O "epicentro" do conflito é a
vila do Surumu, na região de
Pacaraima, onde há cerca de
300 famílias, a maioria não-índia. Ela também abriga o chamado "polígono do arroz", onde oito fazendas estão sediadas.
De um lado da vila estão concentrados os índios favoráveis à
homologação, que defendem
que a terra deve ser exclusivamente dos indígenas. Católicos,
são ligados ao CIR (Conselho
Indígena de Roraima).
"Queremos viver no que é
nosso, em paz, sem interferência", diz o coordenador do CIR,
Dionito de Souza.
Do outro lado, estão os índios
contrários à medida do governo
federal e que defendem a permanência de não-índios na
área, inclusive os arrozeiros.
Eles pertencem em sua
maioria à religião evangélica e
são ligados à Sodiur (Sociedade
de Defesa dos Índios Unidos do
Norte de Roraima).
Para a índia Deise Maria Rodrigues, contrária à homologação, a luta dos moradores é pelo
"desenvolvimento".
"Não compartilhamos com
essa política do governo federal
de nos isolar, de nos colocar sob
a tutela da Funai e de nós termos que pedir bênção aos índios do CIR. Somos brasileiros
também e queremos investimentos e a garantia dos nossos
direitos constitucionais."
Os grupos rivais se tratam como inimigos. Qualquer tipo de
relacionamento é proibido.
Com manifestações contrárias à retirada de não-índios,
que tiveram início no domingo
passado, uma série de protestos
tomou conta da terra indígena
e pelo menos duas pessoas foram presas.
Com a destruição de duas
pontes, a vila do Surumu e o
município de Normandia ficaram isolados. Duas pessoas foram feitas reféns e artefatos explosivos foram deflagrados.
A repórter ANDREZZA TRAJANO viajou
à terra indígena Raposa/Serra do Sol no
avião locado pelo deputado federal Márcio
Junqueira (DEM-RR)
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