São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Roraima vira palco de guerra até entre grupos de índios

Enquanto uma ala defende a retirada de não-indígenas da reserva Raposa/Serra do Sol, outra apóia a permanência dos arrozeiros

Série de protestos teve início no domingo passado; desde lá pontes foram bloqueadas e incendiadas e pelo menos duas pessoas foram presas

ANDREZZA TRAJANO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Pontes incendiadas, máquinas agrícolas bloqueando acessos às estradas, índios pintados para a guerra. Este foi o cenário encontrado pela reportagem ao trafegar no interior da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima, nos últimos dias.
Desde o último domingo, quando os protestos contra a retirada dos não-índios da reserva tiveram início, a reportagem esteve no local duas vezes.
O clima de tensão e violência na área aumentou após a chegada a Roraima de agentes federais que farão a retirada dos não-índios que ainda permanecem na terra indígena. Na sexta-feira, desembarcaram em Boa Vista integrantes da Força Nacional de Segurança.
A retirada dessas pessoas -incluindo um grupo de arrozeiros- foi determinada pelo governo federal em 2005, quando Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que homologou de forma contínua como terra indígena a área de cerca de 1,7 milhão de hectares. Porém, parte dos não-índios, liderados pelos rizicultores da Raposa/Serra do Sol, permanece no interior da reserva e se recusa a deixar o local.
O "epicentro" do conflito é a vila do Surumu, na região de Pacaraima, onde há cerca de 300 famílias, a maioria não-índia. Ela também abriga o chamado "polígono do arroz", onde oito fazendas estão sediadas.
De um lado da vila estão concentrados os índios favoráveis à homologação, que defendem que a terra deve ser exclusivamente dos indígenas. Católicos, são ligados ao CIR (Conselho Indígena de Roraima).
"Queremos viver no que é nosso, em paz, sem interferência", diz o coordenador do CIR, Dionito de Souza.
Do outro lado, estão os índios contrários à medida do governo federal e que defendem a permanência de não-índios na área, inclusive os arrozeiros.
Eles pertencem em sua maioria à religião evangélica e são ligados à Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima).
Para a índia Deise Maria Rodrigues, contrária à homologação, a luta dos moradores é pelo "desenvolvimento". "Não compartilhamos com essa política do governo federal de nos isolar, de nos colocar sob a tutela da Funai e de nós termos que pedir bênção aos índios do CIR. Somos brasileiros também e queremos investimentos e a garantia dos nossos direitos constitucionais." Os grupos rivais se tratam como inimigos. Qualquer tipo de relacionamento é proibido.
Com manifestações contrárias à retirada de não-índios, que tiveram início no domingo passado, uma série de protestos tomou conta da terra indígena e pelo menos duas pessoas foram presas.
Com a destruição de duas pontes, a vila do Surumu e o município de Normandia ficaram isolados. Duas pessoas foram feitas reféns e artefatos explosivos foram deflagrados.


A repórter ANDREZZA TRAJANO viajou à terra indígena Raposa/Serra do Sol no avião locado pelo deputado federal Márcio Junqueira (DEM-RR)


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