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JANIO DE FREITAS
A dengue dos políticos
A epidemia de dengue atinge eleitores, e eleitores são secundários nas transações com objetivos eleitorais
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ENTRE AS SEMPRE lerdas providências motivadas pela epidemia de dengue falta uma a
que ninguém se refere: as dezenas
de milhares de cariocas e fluminenses atingidos pela doença merecem
a mínima justiça - já que outra não
terão- de ver identificadas, por um
inquérito, todas as responsabilidades pelo abandono das rotinas preventivas e pelo despreparo para o
socorro às vítimas.
Não pode ser este um caso a mais
em que as providências tardias e as
explicações forjadas bastem, como
de costume, para lançar o esquecimento sobre as responsabilidades. E
não são só os familiares de mortos e
os doentes que merecem uma resposta à altura dos maltratos da
doença e da incúria dos governos. Os
demais têm vivido em estado de
apreensão permanente, como se
não lhes bastassem os outros motivos para tê-la em quase todo o Estado, e sobretudo no Rio.
O instrumento lógico, na legislação, para proceder a tal identificação
seria uma Comissão Parlamentar de
Inquérito, no Senado ou na Câmara
ou mista. Não estão ali, sob as fartas
mordomias e os ganhos gordos, os
representantes da população e dos
Estados? Dali, no entanto, não saiu e
não sai nem a mais tímida iniciativa
em nome dos que seriam os representados. Mesmo as bancadas do
Estado do Rio na Câmara e no Senado, de todos os partidos, não têm
nem sequer o pudor de exibir, sem
ao menos a habitual encenação política, sua atitude asséptica e proveitosa em relação ao desastre epidêmico que acomete seus eleitores.
A explicação é simples. O momento é de arranjos eleitorais, e qualquer protesto, crítica, a simplória visita a um hospital, qualquer gesto
causará desagrado em alguma ou algumas das correntes políticas no
município, no Estado ou no governismo federal. Nada de arriscar, portanto, um possível acerto pessoal
aqui e ali, ou a acusação, no partido,
de dificultá-lo em prejuízo de pretendidos candidatos. A epidemia de
dengue atinge eleitores, e eleitores
são secundários nas transações com
fins eleitorais.
Na população, a dengue é um mal
físico. Entre políticos, é insanidade
moral.
A investigação séria das responsabilidades fica, em princípio, dependente de serem acionados o Ministério Público Federal e o Superior
Tribunal de Justiça, por haver envolvimento do governo federal. Se
haverá ou se faltará até a mínima
justiça para os vitimados pela epidemia e pela incúria que a permitiu,
não se tem nem indício. Mas sabemos qual é a tendência brasileira.
Cegueira
A convocação de 477 mil donos
de carros Fox, proposta à Volkswagen pelo Ministério da Justiça como alternativa à multa, tem sua
origem em uma complacência suspeita e sempre prejudicial ao usuário brasileiro. O sistema que, no
Fox, mutilou ou feriu pessoas que
baixavam o encosto traseiro é resultado de uma das alterações no
carro feito aqui, não existe no que
seria o modelo idêntico fabricado
no exterior. O Fusca cedeu seu lugar à saudade sem ter incorporado
melhorias adotadas, na Europa,
desde uns 20 anos antes. A Kombi,
ainda vida, tem a mesma história.
Tais práticas não são exclusivas
da VW, são quase normas da indústria automobilística no Brasil. Consentidas pela omissão do governo,
como se fizessem parte das alterações justificadas pelo mau piso de
ruas e estradas, o clima e o combustível. Enquanto não houver regras
rígidas para as alterações em carros
feitos aqui, o governo continuará
culpado por serem os carros brasileiros piores e muito mais caros
que seus similares estrangeiros.
Mas muito mais lucrativos para as
chamadas montadoras.
Na história
A Associação Brasileira de Imprensa faz um século amanhã. Não,
não faz um século. Faz cem anos,
ano a ano de luta, ora por sua sobrevivência, na maior parte dos anos
pela liberdade, pelo Estado de Direito, pela democracia. Não só os
jornalistas têm cem anos de dívida
com a ABI. Nem são os que mais lhe
devem: somos todos em cem anos.
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