São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Jandira quer Lula neutro na disputa do Rio

Tecnicamente empatada na liderança da corrida pela prefeitura, ex-deputada diz que deixou de ser candidata só da classe média

"O isolamento do prefeito Cesar Maia contribuiu para a explosão da epidemia" de dengue, afirma Feghali, que também é médica

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A pré-candidata à eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro, a ex-deputada federal Jandira Feghali (PC do B), 50, que teve seu nome lançado ontem oficialmente pelo partido, defendeu, em entrevista à Folha, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fique eqüidistante da disputa no município.
De acordo com a última pesquisa Datafolha, com 18%, ela está tecnicamente empatada na liderança com o senador Marcelo Crivella (PRB), 20%. Ambos são de partidos da base aliada do governo. Além deles, o deputado estadual Alessandro Molon (PT) foi lançado como o nome da aliança de Lula com o governador Sérgio Cabral (PMDB). Molon, porém, aparece com apenas 1% das intenções de voto.
O lançamento da candidatura foi realizado na quadra da escola de samba Império Serrano, na zona norte. O evento marcou também os 86 anos de fundação do partido.  

FOLHA - Até a divulgação da pesquisa, imaginava-se que a campanha fosse ser polarizada entre Crivella e Fernando Gabeira. Está surpresa com o resultado?
JANDIRA FEGHALI
- Ele me dá orgulho, porque minha candidatura sequer foi lançada. O empate técnico com Crivella é reflexo da minha história política, de cinco mandatos.

FOLHA - Uma dificuldade de sua campanha será o pouco tempo na TV. Como espera superar isso?
FEGHALI
- Nossa expectativa é montar uma frente de partidos de esquerda com PDT e PSB. Há que haver responsabilidade do bloco de esquerda para união de forças. Meu sentimento é de viabilidade eleitoral.

FOLHA - O que acha da aliança do PT com o PMDB em torno de Molon?
FEGHALI
- Não é surpresa para nós. Havia a expectativa de que o PMDB lançasse Eduardo Paes como candidato próprio, mas já esperávamos uma opção fora do partido, portanto, do PT. Isso [o anúncio da aliança] antecipou o debate eleitoral. Vamos para o embate, que é saudável e democrático.

FOLHA - Além da sua candidatura e da de Crivella, a de Molon também é da base de Lula. Como fica?
FEGHALI
- Todas as candidaturas que estão no campo da base de Lula podem significar vitória do presidente. Molon é do PT e é natural que as pessoas esperem vinculação de Lula com a candidatura do PT. No entanto, o presidente nacional do PT tem dito que onde a base tiver mais de uma candidatura Lula se manterá eqüidistante.
É o que acho mais correto. Minha vitória ou a de Molon ou a de Crivella será vitória do campo político de Lula, dependendo do alvo escolhido. Se o alvo for mudar o ciclo político na cidade, tirar um pensamento conservador, minha vitória pode ser a vitória de Lula. Ele tem que olhar qual é o candidato mais viável para enfrentar o campo conservador e vencer.

FOLHA - A pesquisa Datafolha mostra Crivella com mais aceitação entre os pobres e os de baixa escolaridade, enquanto a sra. e Fernando Gabeira (PV) estão bem entre os que têm curso superior e mais renda.
FEGHALI
- Deixei de ser candidata apenas da classe média. Não tenho curral eleitoral. Disputo os votos dos formadores de opinião e da classe média, mas tive 35% dos votos na última eleição para o Senado em Santa Cruz, bairro da zona oeste, e boa votação em áreas populares. Crivella tem alto índice de rejeição, o que pesa muito no segundo turno.

FOLHA - Gabeira disse que adotará, em relação às favelas, o princípio das gafieiras, de que quem está fora não entra e quem está dentro não sai. Qual a sua proposta?
FEGHALI
- Não entendi a figura de linguagem do Gabeira. Fui freqüentadora de gafieira, tenho bom samba no pé e desconheço essa regra. O que há na gafieira é uma regra respeitosa: não é permitido entrar de qualquer jeito e quem está dentro tem de se comportar. O que vai impedir que os de fora entrem para a favela são os projetos habitacionais e urbanos. Se as pessoas tiverem alternativas de moradia próximas de seu local de trabalho não irão querer viver penduradas, em áreas de risco. Minha proposta é urbanização, geração de emprego e de renda e reocupação do centro.

FOLHA - Como médica, de quem é a culpa pela epidemia de dengue no Estado do Rio?
FEGHALI
- O maior responsável é o poder municipal, pela falta de compromisso e de responsabilidade como gestora plena do sistema de saúde. O prefeito tem que atuar como maestro, recuperar o comando político, fazer uma integração com os governos federal e estadual e com as prefeituras vizinhas. O isolamento do prefeito Cesar Maia (DEM) contribuiu para a explosão da epidemia.

FOLHA - O seu posicionamento em favor do aborto pode prejudicá-la?
FEGHALI
- Não temo porque nesse assunto a prefeitura não tem nenhuma ingerência. Esse é um tema em que o prefeito não tem nenhum poder de decisão. Não temo que essa temática tenha qualquer definição nos votos das pessoas.

FOLHA - O fato de o tema não ser da alçada municipal não impede que interfira na escolha do eleitor.
FEGHALI
- Esse tema sempre foi, na minha opinião, uma temática de saúde pública. Como é o posicionamento do ministro da Saúde e de outras autoridades. No caso de uma eleição municipal, o prefeito não tem ingerência sobre definições do tema. Não é um tema que o eleitor se decida por ele. Não é uma temática que deva ser colocada.


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