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Jandira quer Lula neutro na disputa do Rio
Tecnicamente empatada na liderança da corrida pela prefeitura, ex-deputada diz que deixou de ser candidata só da classe média
"O isolamento do prefeito Cesar Maia contribuiu para a explosão da epidemia"
de dengue, afirma Feghali, que também é médica
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A pré-candidata à eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro, a ex-deputada federal Jandira Feghali (PC do B), 50, que
teve seu nome lançado ontem
oficialmente pelo partido, defendeu, em entrevista à Folha,
que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva fique eqüidistante
da disputa no município.
De acordo com a última pesquisa Datafolha, com 18%, ela
está tecnicamente empatada
na liderança com o senador
Marcelo Crivella (PRB), 20%.
Ambos são de partidos da base aliada do governo. Além deles, o deputado estadual Alessandro Molon (PT) foi lançado como o nome da aliança de Lula com o governador Sérgio Cabral (PMDB). Molon, porém,
aparece com apenas 1% das intenções de voto.
O lançamento da candidatura foi realizado na quadra da
escola de samba Império Serrano, na zona norte. O evento
marcou também os 86 anos de
fundação do partido.
FOLHA - Até a divulgação da pesquisa, imaginava-se que a campanha fosse ser polarizada entre Crivella e Fernando Gabeira. Está surpresa com o resultado?
JANDIRA FEGHALI - Ele me dá orgulho, porque minha candidatura sequer foi lançada. O empate técnico com Crivella é reflexo da minha história política,
de cinco mandatos.
FOLHA - Uma dificuldade de sua
campanha será o pouco tempo na
TV. Como espera superar isso?
FEGHALI - Nossa expectativa é
montar uma frente de partidos
de esquerda com PDT e PSB.
Há que haver responsabilidade
do bloco de esquerda para
união de forças. Meu sentimento é de viabilidade eleitoral.
FOLHA - O que acha da aliança do
PT com o PMDB em torno de Molon?
FEGHALI - Não é surpresa para
nós. Havia a expectativa de que
o PMDB lançasse Eduardo
Paes como candidato próprio,
mas já esperávamos uma opção
fora do partido, portanto, do
PT. Isso [o anúncio da aliança]
antecipou o debate eleitoral.
Vamos para o embate, que é
saudável e democrático.
FOLHA - Além da sua candidatura e
da de Crivella, a de Molon também é
da base de Lula. Como fica?
FEGHALI - Todas as candidaturas que estão no campo da base
de Lula podem significar vitória do presidente. Molon é do
PT e é natural que as pessoas
esperem vinculação de Lula
com a candidatura do PT. No
entanto, o presidente nacional
do PT tem dito que onde a base
tiver mais de uma candidatura
Lula se manterá eqüidistante.
É o que acho mais correto. Minha vitória ou a de Molon ou a
de Crivella será vitória do campo político de Lula, dependendo do alvo escolhido. Se o alvo
for mudar o ciclo político na cidade, tirar um pensamento
conservador, minha vitória pode ser a vitória de Lula. Ele tem
que olhar qual é o candidato
mais viável para enfrentar o
campo conservador e vencer.
FOLHA - A pesquisa Datafolha
mostra Crivella com mais aceitação
entre os pobres e os de baixa escolaridade, enquanto a sra. e Fernando
Gabeira (PV) estão bem entre os que
têm curso superior e mais renda.
FEGHALI - Deixei de ser candidata apenas da classe média.
Não tenho curral eleitoral. Disputo os votos dos formadores
de opinião e da classe média,
mas tive 35% dos votos na última eleição para o Senado em
Santa Cruz, bairro da zona oeste, e boa votação em áreas populares. Crivella tem alto índice de rejeição, o que pesa muito
no segundo turno.
FOLHA - Gabeira disse que adotará,
em relação às favelas, o princípio
das gafieiras, de que quem está fora
não entra e quem está dentro não
sai. Qual a sua proposta?
FEGHALI - Não entendi a figura
de linguagem do Gabeira. Fui
freqüentadora de gafieira, tenho bom samba no pé e desconheço essa regra. O que há na
gafieira é uma regra respeitosa:
não é permitido entrar de qualquer jeito e quem está dentro
tem de se comportar. O que vai
impedir que os de fora entrem
para a favela são os projetos habitacionais e urbanos. Se as
pessoas tiverem alternativas de
moradia próximas de seu local
de trabalho não irão querer viver penduradas, em áreas de
risco. Minha proposta é urbanização, geração de emprego e de
renda e reocupação do centro.
FOLHA - Como médica, de quem é
a culpa pela epidemia de dengue no
Estado do Rio?
FEGHALI - O maior responsável
é o poder municipal, pela falta
de compromisso e de responsabilidade como gestora plena do
sistema de saúde. O prefeito
tem que atuar como maestro,
recuperar o comando político,
fazer uma integração com os
governos federal e estadual e
com as prefeituras vizinhas. O
isolamento do prefeito Cesar
Maia (DEM) contribuiu para a
explosão da epidemia.
FOLHA - O seu posicionamento em
favor do aborto pode prejudicá-la?
FEGHALI - Não temo porque
nesse assunto a prefeitura não
tem nenhuma ingerência. Esse
é um tema em que o prefeito
não tem nenhum poder de decisão. Não temo que essa temática tenha qualquer definição
nos votos das pessoas.
FOLHA - O fato de o tema não ser
da alçada municipal não impede
que interfira na escolha do eleitor.
FEGHALI - Esse tema sempre foi,
na minha opinião, uma temática de saúde pública. Como é o
posicionamento do ministro da
Saúde e de outras autoridades.
No caso de uma eleição municipal, o prefeito não tem ingerência sobre definições do tema.
Não é um tema que o eleitor se
decida por ele. Não é uma temática que deva ser colocada.
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