São Paulo, sábado, 06 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PROBLEMA NACIONAL
Contato com não-índio divide mesa; várias etnias estiveram presentes
Debate discute futuro indígena

da Redação


A relação dos povos indígenas do Brasil com o progresso foi um dos principais assuntos discutidos em debate promovido pela Folha e pelo Ideti (Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas).
Participaram da mesa o vice-presidente do Ideti, Daniel Munduruku; o cacique xavante Suptó; Arako, representante do povo Meinako; Sérgio Leitão, coordenador de projetos especiais da Funai; Laymert Garcia dos Santos, sociólogo professor livre-docente da Unicamp; e o jornalista Mário César Carvalho, mediador do debate. O evento foi anteontem à noite, no auditório do jornal.
Foram abordados diversos pontos de vista sobre a postura a ser adotada pelos povos indígenas em relação aos não-índios para manter sua cultura. Daniel Munduruku pregou que os índios aprendam novas técnicas.
"Não deixamos de ser o que somos porque aprendemos a mexer com Internet e temos antena parabólica na aldeia. Nós vamos acabar se ficarmos parados no tempo de uma maneira tão inocente. A grande arma nossa é aprender o que o não-índio possui e usa contra nós. É preciso trocar as peças para que o jogo continue", disse Munduruku.
O representante do povo Meinako, Arako -o que teve menos contato com a civilização, mal falava português-, defendeu que as tradições sejam mantidas: "Não sei se o progresso vai acabar com o índio. No Xingu tem 16 nações, que vivem como os bisavós, andando pelados, com enfeite. Os mais velhos não se acostumam com o branco. Não pode usar roupa na frente deles. Ainda não é civilizado, é índio puro".
O representante da Funai no debate, Sérgio Leitão, advertiu que o Xingu está ameaçado. "O Xingu está sofrendo um abraço de morte. As frentes de ocupação estão se aproximando do parque (Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso), que tem sustentação bastante comprometida."
O sociólogo Laymert dos Santos traçou um diagnóstico para a atual situação do povo indígena. "O povo brasileiro está em sintonia (com a questão indígena), mas por que temos tantas más notícias? Elite e donos do poder estão na contramão da história, buscando um retrocesso."
A questão da cidadania, colocada pelo mediador, Mário César Carvalho, também foi um dos pontos centrais do debate.
Para o cacique Suptó, o termo não se aplica à cultura indígena. "Na nossa tradição, isso não existe, ninguém é mais do que o outro, todos são iguais", afirmou.
Ele teve o apoio de Daniel Munduruku, para quem "é muito complicado falar em cidadania, uma vez que é um conceito criado pela sociedade não indígena". "Como temos muito claro o que somos e o que fazemos aqui, não temos que criar conceitos para explicar nossos problemas."


Texto Anterior: Funai: Índios fazem ato de protesto em Brasília
Próximo Texto: Alagoas: Ex-coronel liga ex-governador a crimes
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.