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IGREJA
Proximidade com Lula fez com que d. Cláudio Hummes tivesse muitos votos sem ser candidato, o que dificultou eleição que parecia fácil
CNBB elege d. Geraldo Majella presidente
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A INDAIATUBA
O cardeal-arcebispo de Salvador, d. Geraldo Majella Agnelo,
69, foi eleito ontem presidente da
CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil). A eleição ocorreu em Indaiatuba (SP), onde os
bispos estão reunidos para a 41ª
Assembléia Geral da entidade.
D. Antônio Celso de Queiroz,
bispo de Catanduva (SP), foi eleito vice-presidente. Até a última
sexta o único candidato das duas
chapas que apresentaram nomes,
d. Geraldo não foi eleito com a facilidade esperada até então.
O cardeal-arcebispo de São
Paulo, d. Cláudio Hummes, foi indicado por bispos paulistas para o
cargo na sexta. Mesmo dizendo
que não desejava assumir a função, acabou forçando a realização
de três votações para que o arcebispo de Salvador fosse eleito.
Bispos que apoiaram tanto d.
Cláudio quanto d. Geraldo disseram que a proximidade do primeiro com Luiz Inácio Lula da Silva influenciou na votação. "Muita
coisa se resolve, facilitaria [a relação da CNBB com o governo]",
disse d. Irineu Scherer, bispo de
Garanhuns (PE), sobre uma eventual eleição de d. Cláudio e sua relação com Lula. O cardeal foi indicado um dia depois da visita do
presidente aos bispos.
Segundo d. Zeno Hastenteufel,
bispo de Frederico Westphalen
(RS), Lula deu uma indicação de
sua preferência pelo cardeal ao se
reunir com o episcopado. "Ele
disse: "Nunca vou brigar com os
bispos do Brasil; se brigar com d.
Jayme, vou ver se estou bem com
d. Cláudio". Isso foi entendido como um apoio do presidente a d.
Cláudio", afirmou.
D. Amaury Castanho, bispo de
Jundiaí, disse existir "uma ponte
excelente" entre os dois. "Se ele
[Lula] fosse bispo, votaria no d.
Cláudio." O arcebispo de São
Paulo disse que a relação com o
presidente pode ter pesado: "Pode ser que um ou outro tenha julgado assim e insistiu em votar em
mim". Disse, porém, não acreditar que esse tenha sido o fato decisivo para o apoio que recebeu.
A CNBB tem dado declarações
de apoio ao governo Lula, inclusive defendendo a realização das reformas. Na última quinta, ao realizar a missa do Dia do Trabalho
em São Bernardo do Campo, d.
Cláudio pediu aos presentes que
saudassem a chegada de Lula com
"vivas".
Eleição
D. Geraldo foi eleito no terceiro
escrutínio, por 207 votos contra
os 64 de d. Cláudio. Nos dois primeiros, entretanto, não conseguiu alcançar os dois terços de votos exigidos pelas regras da entidade -ou seja, 186 dos 279 votos.
No primeiro, recebeu 150 votos
contra 102 de d. Cláudio. No segundo, d. Geraldo foi votado por
167 bispos contra 93 do arcebispo
de SP. Outros bispos tiveram votos dispersos.
Pelas regras da CNBB, em terceiro escrutínio d. Geraldo poderia ter sido eleito por maioria simples. Tendo ele recebido mais da
metade dos votos já no primeiro
escrutínio, eleitores de d. Cláudio
mudaram seu voto, e o arcebispo
de Salvador no final teve mais de
dois terços dos votos.
Anunciado como eleito por d.
Jayme Chemello, que preside a
CNBB até sexta, d. Geraldo disse
que aceitava com "simplicidade"
a indicação e afirmou querer contribuir "para que a caminhada [da
CNBB] prossiga".
D. Irineu Scherer disse que o fato de d. Cláudio não ter se manifestado contra sua própria candidatura durante os escrutínios foi
entendido como um sinal favorável a que votassem em seu nome.
Segundo ele, a ligação entre o arcebispo e Lula vai além da amizade: "D. Cláudio tem mais expressão [que d. Geraldo], ataca mais, é
mais esquerdista". A avaliação
entre os bispos é que d. Geraldo é
um homem de diálogo e que sua
relação com o governo será boa.
D. Cláudio se disse surpreendido com os votos que teve apesar
de ter dito que não era candidato:
"Ficou um pouco estranho".
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