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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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IGREJA

Proximidade com Lula fez com que d. Cláudio Hummes tivesse muitos votos sem ser candidato, o que dificultou eleição que parecia fácil

CNBB elege d. Geraldo Majella presidente

RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A INDAIATUBA

O cardeal-arcebispo de Salvador, d. Geraldo Majella Agnelo, 69, foi eleito ontem presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A eleição ocorreu em Indaiatuba (SP), onde os bispos estão reunidos para a 41ª Assembléia Geral da entidade.
D. Antônio Celso de Queiroz, bispo de Catanduva (SP), foi eleito vice-presidente. Até a última sexta o único candidato das duas chapas que apresentaram nomes, d. Geraldo não foi eleito com a facilidade esperada até então.
O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, foi indicado por bispos paulistas para o cargo na sexta. Mesmo dizendo que não desejava assumir a função, acabou forçando a realização de três votações para que o arcebispo de Salvador fosse eleito.
Bispos que apoiaram tanto d. Cláudio quanto d. Geraldo disseram que a proximidade do primeiro com Luiz Inácio Lula da Silva influenciou na votação. "Muita coisa se resolve, facilitaria [a relação da CNBB com o governo]", disse d. Irineu Scherer, bispo de Garanhuns (PE), sobre uma eventual eleição de d. Cláudio e sua relação com Lula. O cardeal foi indicado um dia depois da visita do presidente aos bispos.
Segundo d. Zeno Hastenteufel, bispo de Frederico Westphalen (RS), Lula deu uma indicação de sua preferência pelo cardeal ao se reunir com o episcopado. "Ele disse: "Nunca vou brigar com os bispos do Brasil; se brigar com d. Jayme, vou ver se estou bem com d. Cláudio". Isso foi entendido como um apoio do presidente a d. Cláudio", afirmou.
D. Amaury Castanho, bispo de Jundiaí, disse existir "uma ponte excelente" entre os dois. "Se ele [Lula] fosse bispo, votaria no d. Cláudio." O arcebispo de São Paulo disse que a relação com o presidente pode ter pesado: "Pode ser que um ou outro tenha julgado assim e insistiu em votar em mim". Disse, porém, não acreditar que esse tenha sido o fato decisivo para o apoio que recebeu.
A CNBB tem dado declarações de apoio ao governo Lula, inclusive defendendo a realização das reformas. Na última quinta, ao realizar a missa do Dia do Trabalho em São Bernardo do Campo, d. Cláudio pediu aos presentes que saudassem a chegada de Lula com "vivas".

Eleição
D. Geraldo foi eleito no terceiro escrutínio, por 207 votos contra os 64 de d. Cláudio. Nos dois primeiros, entretanto, não conseguiu alcançar os dois terços de votos exigidos pelas regras da entidade -ou seja, 186 dos 279 votos.
No primeiro, recebeu 150 votos contra 102 de d. Cláudio. No segundo, d. Geraldo foi votado por 167 bispos contra 93 do arcebispo de SP. Outros bispos tiveram votos dispersos.
Pelas regras da CNBB, em terceiro escrutínio d. Geraldo poderia ter sido eleito por maioria simples. Tendo ele recebido mais da metade dos votos já no primeiro escrutínio, eleitores de d. Cláudio mudaram seu voto, e o arcebispo de Salvador no final teve mais de dois terços dos votos.
Anunciado como eleito por d. Jayme Chemello, que preside a CNBB até sexta, d. Geraldo disse que aceitava com "simplicidade" a indicação e afirmou querer contribuir "para que a caminhada [da CNBB] prossiga".
D. Irineu Scherer disse que o fato de d. Cláudio não ter se manifestado contra sua própria candidatura durante os escrutínios foi entendido como um sinal favorável a que votassem em seu nome. Segundo ele, a ligação entre o arcebispo e Lula vai além da amizade: "D. Cláudio tem mais expressão [que d. Geraldo], ataca mais, é mais esquerdista". A avaliação entre os bispos é que d. Geraldo é um homem de diálogo e que sua relação com o governo será boa.
D. Cláudio se disse surpreendido com os votos que teve apesar de ter dito que não era candidato: "Ficou um pouco estranho".


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