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Perda do controle de satélites prejudica segurança militar
Ao contrário do que divulgou, governo brasileiro não tem participação no Star One
Operadora de satélites da Embratel, privatizada em 98, está agora nas mãos da Telmex; país omitiu fracasso para obter "golden share"
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao contrário do que havia
anunciado em 2004, o governo
brasileiro não tem participação
na Star One, operadora de satélites da Embratel. Naquela ocasião, o governo informou que
teria uma "golden share" (tipo
de ação que dá poderes específicos ao seu portador) na empresa. A medida foi anunciada
como vitória política com repercussão na segurança nacional, uma vez que haveria mais
controle nas comunicações militares feitas por satélites.
As negociações sobre uma
volta do governo ao controle
dos satélites da Embratel, privatizada em 1998, começaram
quando o grupo mexicano Telmex (do empresário Carlos
Slim) comprou a empresa da
norte-americana MCI, por US$
400 milhões, em 2004. A MCI,
por sua vez, havia adquirido a
Embratel na privatização do
sistema Telebrás, em 1998.
A compra da Embratel pela
Telmex teria que passar pelo
crivo do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). O
governo usou a aprovação da
venda no Brasil como moeda de
troca para a obtenção da "golden share".
A efetivação da "golden share", no entanto, dependia da
aprovação do conselho de acionistas da Telmex. Isso, no entanto, era tratado pelo governo
como um mero detalhe burocrático. Após quase três anos do
anúncio da "golden share", os
acionistas não ratificaram o desejo do governo brasileiro.
A Folha questionou os ministérios das Comunicações e
da Defesa. Por escrito, o Ministério das Comunicações informou que "a golden share não
foi formalizada entre as partes". O Ministério da Defesa
confirmou a informação de que
a "golden share" não existe.
Defesa
O argumento central desenvolvido pelo governo para justificar uma volta à administração
de uma estatal privatizada foi o
da defesa nacional. As Forças
Armadas usam, gratuitamente,
satélites da Embratel para fazer
suas comunicações sigilosas,
por conta de acordo firmado no
tempo em que a empresa ainda
era estatal. Permaneceu após a
compra dos satélites.
Essas mensagens são distribuídas via satélite usando o que
se chama "banda x" (bandas são
faixas de freqüência).
Com a "golden share", o governo teria assento no conselho da Star One, garantiria o
monopólio no uso da "banda x"
e poderia vetar ações da Star
One que afetassem a continuidade dos serviços.
Os satélites, no entanto, estão obsoletos e serão substituídos. A partir de julho, o governo
terá que pagar para usar um novo satélite da Star One (o C1).
Em janeiro de 2008, terá que
pagar para usar outro novo satélite (C2). Os contratos já foram fechados e o governo pagará, aproximadamente, R$ 12
milhões/ano para transmitir
informações militares.
De acordo com o Ministério
da Defesa, além da Star One,
"não há no país nenhuma outra
empresa que ofereça serviços
de comunicação por "banda x"
com satélite brasileiro". Ainda
de acordo com o ministério, "a
exigência de o serviço ser prestado por satélite brasileiro foi
tomada em função dos requisitos de segurança do serviço".
Os satélites, apesar de pertencerem à mexicana Telmex
(dona da Embratel, que é dona
da Star One), são considerados
"brasileiros" porque, entre outros critérios, têm estação de
controle e monitoração no país.
Procurada por meio de sua
assessoria de imprensa, a Embratel não quis comentar o assunto.
Tráfego aéreo
Outra preocupação em relação aos satélites é o novo sistema de controle de tráfego aéreo
(cujo nome técnico é CNS/
ATM). A partir de 2010, o controle que hoje é feito por rádio e
radar será feito por satélites.
No último dia 12, em audiência no Senado para tratar da crise do setor aéreo, o ministro
Waldir Pires (Defesa), demonstrou preocupação com o tema.
"Temos que marchar para um
sistema de controles que vá cada vez mais sendo dirigido para
tecnologias e eletrônicas básicas destinadas à atuação dos satélites", disse. E acrescentou:
"Acho que vamos ter que recuperar imediatamente alguma
coisa absolutamente inexplicável [venda da Embratel]".
Especialistas no setor, no entanto, avaliam que a implantação sem a "golden share" não é
problemática, pois há várias
empresas operando satélites
que podem oferecer o serviço.
"O gerenciamento de tráfego
aéreo não tem a ver com a "banda x", que é o que é mais importante do ponto de vista estratégico", disse o diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da AEB (Agência Espacial Brasileira), Miguel Henze.
Segundo Henze, o novo sistema de tráfego aéreo foi o motivador do estudo para o lançamento de um satélite brasileiro
próprio, mas não é seu aspecto
mais estratégico. "O que é estratégico são as comunicações
militares e outras, como as que
podem ser feitas pelo Itamaraty, por exemplo", disse.
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