São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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Bispo destaca independência de Frias em missa de 7º dia

Cerimônia em memória do publisher da Folha reúne 700 pessoas, entre empresários, políticos e leitores, na igreja Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em SP

Cerca de 700 pessoas -entre políticos, empresários, representantes da sociedade civil, gerações de jornalistas e leitores da Folha- compareceram ontem à missa de sétimo dia pela morte do empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha. A cerimônia foi celebrada por d. Manuel Parrado Carral, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, na igreja Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima, na zona oeste da capital paulista. Frias morreu no último domingo, aos 94 anos.

Antônio Gaudério/Folha Imagem
O bispo auxiliar de São Paulo dom Manuel Parrado Carral e familiares do empresário Octavio Frias de Oliveira (acima, em primeiro plano), na missa celebrada na manhã de ontem

DA REPORTAGEM LOCAL

D. Manuel destacou na homilia a independência do empresário durante a ditadura militar (1964-1985). "Minha geração é testemunha disso", afirmou, mencionando o "engajamento no movimento das Diretas-Já". "Todas as homenagens que justamente recebeu são reconhecimentos dos que acompanharam a vida de Octavio Frias de Oliveira."
A cerimônia teve início às 10h35, com a entrada dos celebrantes ao som de integrantes do Coro da Orquestra Sinfônica de São Paulo, sob regência da maestrina Naomi Munakata. Foram executados trechos da peça "Requiem", de Gabriel Fauré (1845-1924), grande nome da música erudita francesa.
Ao mencionar a primeira leitura da missa, o "Sermão da Montanha", de são Mateus, d. Manuel a associou à vida de Frias e aos valores cristãos. "Jesus chama de felizes os pobres de espírito, os que têm capacidade de chorar, os que têm mansidão na busca de seus direitos, quem é misericordioso, quem trabalha pela construção da paz. Com certeza, Octavio Frias de Oliveira concordaria com esses conceitos, pois consciente ou inconscientemente os viveu e os praticou."
O presidente Lula, que na segunda-feira compareceu ao velório, foi representado pelo ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge. O governador José Serra, também presente no cemitério Gethsêmani, fez-se representar pela primeira-dama, Monica Serra, e por seu vice, Alberto Goldman.
Na igreja, estiveram presentes autoridades como o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL), e os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Eduardo Suplicy (PT-SP). Também compareceram à cerimônia empresários, como David Feffer, do grupo Suzano, Eugênio Staub, da Gradiente, e Mario Amato, ex-presidente da Fiesp. E intelectuais, como o historiador Boris Fausto e os cientistas políticos Leôncio Martins Rodrigues e José Augusto Guilhon Albuquerque.
A viúva, Dagmar Frias de Oliveira, estava acompanhada dos filhos Maria Helena, Otavio, Luís e Maria Cristina, dos nove netos e dos três bisnetos.
As leituras litúrgicas foram feitas por familiares do empresário. Regina Queiroga Gomes dos Santos, sobrinha de Frias, leu um trecho do Livro de Jó.
Maria Helena, filha mais velha do empresário, leu passagem da Carta de São Paulo aos Coríntios ("Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão"). A oração dos fiéis foi feita por Celina, 11, neta do empresário.
Após a eucaristia, Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, prestou uma homenagem a Octavio Frias de Oliveira. "Sobretudo aprendemos que é vital ser independente, ter autonomia frente aos interesses dos poderosos da época e assumir as responsabilidades decorrentes disso", disse.
Em seguida, Maria Cristina Frias leu um poema que foi caro a seu pai: "If" ("Se"), do autor inglês Rudyard Kipling (1865-1936), em tradução de Guilherme de Almeida. O poema, que destaca o valor do esforço e ensina a tratar com igual serenidade a desgraça e o triunfo, "esses dois impostores", condensa a filosofia de vida de Frias.
Por fim, d. Manuel leu mensagem enviada por dom Paulo Evaristo Arns: "A obra mais expressiva de Frias continuará, beneficiando São Paulo e o Brasil", escreveu o arcebispo emérito de São Paulo, personagem destacado do processo de redemocratização do país.
Ao final da cerimônia, às 11h40, a família foi cumprimentada pelos presentes. A primeira-dama do Estado, Monica Serra, disse que seu marido, o governador José Serra (PSDB), é grande admirador do empresário. "Frias foi um criador. O Serra está muito triste."
Um dos primeiros a chegar à igreja, o mecânico Jorge Pedro dos Santos, 62, leitor dos jornais do Grupo Folha, disse que aprendeu a admirar o empresário. "Sou um ex-garoto de rua de Salvador. Cresci com a mesma bravura que seu Frias teve quando comprou o jornal. Passei a admirá-lo porque ele não nasceu em berço de ouro."
Até novembro passado, quando sofreu uma queda doméstica e teve de ser submetido a cirurgia para remoção de hematoma craniano, Frias participava do dia-a-dia do jornal que adquiriu em 1962 e que transformou no maior do país, base de um conglomerado que reúne o UOL, maior portal brasileiro de internet, o diário "Agora", o instituto Datafolha, a editora Publifolha, a gráfica Plural e o jornal econômico "Valor" -este em parceria com as Organizações Globo.
Personalidade inquieta e dinâmica, "seu Frias", como era conhecido, teve uma atuação na imprensa marcada por pela independência em relação a governos e grupos econômicos, pelo pluralismo de visões em seus veículos de informação e pelo empreendedorismo que alicerçou a escalada de circulação da Folha.


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