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Bispo destaca independência de Frias em missa de 7º dia
Cerimônia em memória do publisher da Folha reúne 700 pessoas, entre empresários, políticos e leitores, na igreja Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em SP
Cerca de 700 pessoas -entre políticos, empresários, representantes da sociedade civil, gerações de jornalistas e leitores da Folha- compareceram ontem à missa de sétimo dia pela morte do empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha. A cerimônia foi celebrada por d. Manuel Parrado Carral, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, na igreja Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima, na zona oeste da capital paulista. Frias morreu no último domingo, aos 94 anos.
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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O bispo auxiliar de São Paulo dom Manuel Parrado Carral e familiares do empresário Octavio Frias de Oliveira (acima, em primeiro plano), na missa celebrada na manhã de ontem
DA REPORTAGEM LOCAL
D. Manuel destacou na homilia a independência do empresário durante a ditadura militar (1964-1985). "Minha geração é testemunha disso", afirmou, mencionando o "engajamento no movimento das Diretas-Já". "Todas as homenagens
que justamente recebeu são reconhecimentos dos que acompanharam a vida de Octavio
Frias de Oliveira."
A cerimônia teve início às
10h35, com a entrada dos celebrantes ao som de integrantes
do Coro da Orquestra Sinfônica
de São Paulo, sob regência da
maestrina Naomi Munakata.
Foram executados trechos da
peça "Requiem", de Gabriel
Fauré (1845-1924), grande nome da música erudita francesa.
Ao mencionar a primeira leitura da missa, o "Sermão da
Montanha", de são Mateus, d.
Manuel a associou à vida de
Frias e aos valores cristãos. "Jesus chama de felizes os pobres
de espírito, os que têm capacidade de chorar, os que têm
mansidão na busca de seus direitos, quem é misericordioso,
quem trabalha pela construção
da paz. Com certeza, Octavio
Frias de Oliveira concordaria
com esses conceitos, pois consciente ou inconscientemente
os viveu e os praticou."
O presidente Lula, que na segunda-feira compareceu ao velório, foi representado pelo ministro do Desenvolvimento,
Miguel Jorge. O governador
José Serra, também presente
no cemitério Gethsêmani, fez-se representar pela primeira-dama, Monica Serra, e por seu
vice, Alberto Goldman.
Na igreja, estiveram presentes autoridades como o prefeito
de São Paulo, Gilberto Kassab
(DEM, ex-PFL), e os senadores
Tasso Jereissati (PSDB-CE) e
Eduardo Suplicy (PT-SP).
Também compareceram à cerimônia empresários, como David Feffer, do grupo Suzano,
Eugênio Staub, da Gradiente, e
Mario Amato, ex-presidente da
Fiesp. E intelectuais, como o
historiador Boris Fausto e os
cientistas políticos Leôncio
Martins Rodrigues e José Augusto Guilhon Albuquerque.
A viúva, Dagmar Frias de Oliveira, estava acompanhada dos
filhos Maria Helena, Otavio,
Luís e Maria Cristina, dos nove
netos e dos três bisnetos.
As leituras litúrgicas foram
feitas por familiares do empresário. Regina Queiroga Gomes
dos Santos, sobrinha de Frias,
leu um trecho do Livro de Jó.
Maria Helena, filha mais velha do empresário, leu passagem da Carta de São Paulo aos
Coríntios ("Como em Adão todos morrem, assim também em
Cristo todos reviverão"). A oração dos fiéis foi feita por Celina,
11, neta do empresário.
Após a eucaristia, Eleonora
de Lucena, editora-executiva
da Folha, prestou uma homenagem a Octavio Frias de Oliveira. "Sobretudo aprendemos
que é vital ser independente,
ter autonomia frente aos interesses dos poderosos da época
e assumir as responsabilidades
decorrentes disso", disse.
Em seguida, Maria Cristina
Frias leu um poema que foi caro a seu pai: "If" ("Se"), do autor inglês Rudyard Kipling
(1865-1936), em tradução de
Guilherme de Almeida. O poema, que destaca o valor do esforço e ensina a tratar com
igual serenidade a desgraça e o
triunfo, "esses dois impostores", condensa a filosofia de vida de Frias.
Por fim, d. Manuel leu mensagem enviada por dom Paulo
Evaristo Arns: "A obra mais expressiva de Frias continuará,
beneficiando São Paulo e o
Brasil", escreveu o arcebispo
emérito de São Paulo, personagem destacado do processo de
redemocratização do país.
Ao final da cerimônia, às
11h40, a família foi cumprimentada pelos presentes. A
primeira-dama do Estado, Monica Serra, disse que seu marido, o governador José Serra
(PSDB), é grande admirador do
empresário. "Frias foi um criador. O Serra está muito triste."
Um dos primeiros a chegar à
igreja, o mecânico Jorge Pedro
dos Santos, 62, leitor dos jornais do Grupo Folha, disse que
aprendeu a admirar o empresário. "Sou um ex-garoto de rua
de Salvador. Cresci com a mesma bravura que seu Frias teve
quando comprou o jornal. Passei a admirá-lo porque ele não
nasceu em berço de ouro."
Até novembro passado,
quando sofreu uma queda doméstica e teve de ser submetido a cirurgia para remoção de
hematoma craniano, Frias participava do dia-a-dia do jornal
que adquiriu em 1962 e que
transformou no maior do país,
base de um conglomerado que
reúne o UOL, maior portal brasileiro de internet, o diário
"Agora", o instituto Datafolha,
a editora Publifolha, a gráfica
Plural e o jornal econômico
"Valor" -este em parceria com
as Organizações Globo.
Personalidade inquieta e dinâmica, "seu Frias", como era
conhecido, teve uma atuação
na imprensa marcada por pela
independência em relação a
governos e grupos econômicos,
pelo pluralismo de visões em
seus veículos de informação e
pelo empreendedorismo que
alicerçou a escalada de circulação da Folha.
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