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A censura de Roberto Carlos é coisa arriscada
A biografia do cantor
custava R$ 40 nas livrarias.
Agora pode acabar saindo
de graça na internet
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ROBERTO CARLOS corre o risco de se
transformar numa fracassada celebridade da história da censura.
Amparado na Justiça, ele obteve da Editora Planeta e do escritor Paulo César
Araújo o compromisso de retirar das livrarias todos os exemplares de "Roberto
Carlos em detalhes". O cantor não gostou da biografia e considerou "uma falta
de respeito lançar mão da minha história, que é um patrimônio meu".
Num artigo excepcional, o escritor
Paulo Coelho, um dos autores mais festejados pelos leitores e massacrados pela
crítica, condenou a atitude do cantor, a
capitulação da editora e mostrou que no
caso esteve em jogo "o destino de todos
os escritores brasileiros" .
O fogo aceso por Roberto Carlos poderia se transformar numa daquelas infindáveis discussões sobre censura, privacidade, neurastenia e sensacionalismo,
mas faltou sorte ao cantor. Já houve casos semelhantes e, num deles, em vez de
se queimar o livro, queimou-se um pedaço da reputação da família do presidente
francês François Mitterrand, morto em
1996. Uma semana depois do funeral,
Claude Gluber, seu médico pessoal, publicou o livro "O Grande Segredo", contando que, desde 1981, Mitterrand padecia de um câncer de próstata disseminado nos ossos. No último ano de governo
não tinha condições físicas para exercer
a Presidência da França.
Gluber foi condenado a quatro meses
de prisão por quebra do sigilo médico, a
família ganhou uma indenização e o livro
foi recolhido. Nove dias depois da
apreensão, "O Grande Segredo" estava
na internet. O dono de um café copiara
um exemplar, pusera o texto na rede e
conseguira uma demanda de mil internautas por hora. Arrumaram um pretexto e prenderam o homem, mas no dia seguinte o texto apareceu na página de
uma estudante da Universidade de Glasgow. Ainda não se passara um mês e começou a tradução para o inglês, obra de
um grupo de voluntários do Knox College. Logo depois, a edição virtual do livro
banido virou notícia no "New York Times".
Em 2004, o governo francês foi condenado pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos por ter banido o livro, que
hoje está nas livrarias e na internet.
"Roberto Carlos em detalhes" custava
R$ 50 nas lojas. Se cair na rede, sairá de
graça.
BUSH TEM O QUE APRENDER COM BEBEL
George Bush deveria chamar Camila Pitanga (a Bebel
de "Paraíso Tropical") para
uma conversa sobre moralidade, Aids e hipocrisia. Construindo sua personagem, Camila ralou, estudando o comportamento das moças que fazem a noite em Copacabana.
Aprendeu como se comportam os fregueses.
Se Bush tirar a camada de hipocrisia missionária que cobre
sua política externa, livra-se de
vexames como o que lhe impôs
Randall Tobias, que ocupou o
trono de czar das políticas de
combate à Aids.
Enquanto esteve no lugar, o
doutor vinculou a ajuda americana (US$ 15 bilhões) a programas de incentivo à abstinência
sexual e ao combate à prostituição. Em maio de 2005, o
Brasil tornou-se o primeiro
país a recusar ajuda americana
(US$ 40 milhões) condicionada a uma condenação da assistência a prostitutas. No entendimento dos negociadores
brasileiros essa conduta traria
mais prejuízos que benefícios.
Desestimularia a educação das
marafonas e o uso de camisinhas.
Randall Tobias, ex-diretor
do laboratório Lilly, deixou a
administração Bush há duas
semanas porque foi apanhado
na lista de fregueses de uma rede de prostituição de Washington. As moças cobravam
US$ 300 por hora e ele diz que
só as chamava para receber
massagens.
Na Lapa, Bebel já cobrou
US$ 40. Olavo (Wagner Moura) deve pagar muito mais, mas
não desembolsa o ervanário
que Tobias dava às meninas. A
grife Daspu poderia convidá-lo
para o próximo desfile.
ALICATE TUCANO
O ferrolho que o núcleo de tucanos patéticos da Câmara vêm
aplicando sobre a bancada poderá acabar em fratura exposta.
Desde a traição cometida contra Gustavo Fruet na disputa
pela presidência da Casa, os patéticos (no estilo da trinca de
comediantes Moe, Shemp e
Larry) tornaram-se uma linha
auxiliar do clero de Arlindo
Chinaglia.
BOA NOTÍCIA
Renasceu uma das mais antigas publicações interessadas na
História do Brasil. É a Revista
do Arquivo Público Mineiro,
surgida em 1896. Em 1995, ela
deixou de circular, reaparecendo em 2005. Tornou-se um padrão de excelência e é das poucas do gênero que respeita a
clientela da internet. Cada número é colocado na rede logo
depois da publicação em papel
do volume seguinte. No ano
passado publicaram uma coleção de documentos e artigos sobre a Casa dos Contos, com um
trabalho esclarecedor de Luciano Raposo de Almeida Figueiredo sobre o mecanismo da derrama de impostos durante o tempo do ouro. Nos próximos meses sai um dossiê sobre os 110
anos de Belo Horizonte.
SERVIDÃO
Enganou-se o doutor Luiz
Henrique Proença Soares, presidente do Instituto de Pesquisa
e Economia Aplicada, o Ipea, ao
dizer que "o ministro (Roberto
Mangabeira) reiterou o seu
compromisso pela autonomia
de pensamento do Ipea. Essa
garantia nos deixa otimistas em
relação ao futuro". O Ipea não
tem "autonomia de pensamento", seja lá o que isso queira dizer, porque Mangabeira comprometeu-se a respeitá-la, mas
porque, institucionalmente,
tem essa prerrogativa. Se ele
mudar de idéia, deve ir embora.
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