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Ministério vê uso irregular do FAT em SP
Documentos mostram que prefeitura de São Paulo fez obra e compras sem licitação; renovação de convênio está ameaçada
Município atribui críticas
a uma suposta ingerência da pasta, que buscaria passar serviço de alçada da cidade a entidades ligadas à Força
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Prefeitura de São Paulo
gastou recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador)
para o programa de seguro-desemprego e recolocação de trabalhadores no mercado de trabalho de forma irregular, segundo avaliação técnica do Ministério do Trabalho.
Documentos obtidos pela
Folha mostram que pelo menos R$ 1,3 milhão do convênio
com o governo federal destinado a atividades de intermediação de mão-de-obra foram usados para reformar um prédio
alugado, onde funciona o CAT
(Centro de Apoio ao Trabalho)
Luz -posto de atendimento ao
profissional desempregado.
A obra e a compra de equipamentos e mobiliário foram realizadas sem licitação, sem autorização do Ministério do Trabalho e fora dos padrões adotados em outros CATs. O do bairro da Luz foi inaugurado em fevereiro pelo prefeito Gilberto
Kassab. O ministro Carlos Lupi
(Trabalho) foi convidado, mas
evitou comparecer ao evento
por considerá-lo "clandestino".
A prefeitura nega irregularidades e atribui as críticas a uma
suposta ingerência política do
ministério, que buscaria tirar o
serviço da alçada municipal e
transferi-lo a entidades ligadas
à Força Sindical -próxima do
PDT, que comanda a pasta.
Além do gasto irregular com
a obra, a Secretaria Municipal
de Trabalho não aplicou devidamente R$ 1,6 milhão liberados. A verba era destinada à
qualificação de trabalhadores,
mas isso não foi feito. Nenhum
trabalhador foi treinado, e a
prefeitura agora fala em devolver o dinheiro, segundo a avaliação técnica do ministério.
O valor total liberado em
2007 foi de R$ 11,9 milhões, incluindo programa de seguro-desemprego, qualificação e intermediação de trabalhadores.
Fora do ar
Como foi instalado sem o
aval do ministério, o CAT Luz
não existe para o governo federal e, por isso, até hoje não recebeu o sistema informatizado
que integra as unidades do Sine
(Sistema Nacional de Emprego) no país. O sistema permite
cruzar dados entre os trabalhadores desempregados e as vagas oferecidas pelas empresas.
A planilha que detalha a estimativa de custo do CAT Luz foi
enviada pela prefeitura ao ministério somente em fevereiro
deste ano, quando o centro foi
inaugurado. Lá, calcula-se que
só no primeiro mês o centro
custaria R$ 3 milhões -entre
verbas federais ( R$ 1,6 milhão)
e municipais (R$ 1,4 milhão).
Embora a planilha tenha sido
enviada neste ano, as notas de
empenho de recursos foram
emitidas pela prefeitura em dezembro de 2007. Nos empenhos, estão discriminados, por
exemplo, gastos de R$ 654,8
mil com mão-de-obra para instalação de divisórias, luminárias e portas no prédio alugado,
pagos pelo FAT. A prefeitura
pagou mais R$ 59,3 mil.
O ministério diz, por meio de
nota técnica, que o plano de
trabalho da prefeitura previa
"R$ 165 mil para conservação e
adaptação de bens imóveis". A
execução de gastos irregulares
deve comprometer a renovação
do convênio. A Folha apurou
que o ministério busca saída
para o problema. Em conversas
reservadas, técnicos dizem que
qualquer solução poderá ser
condenada por órgãos de controle, pois a Secretaria Municipal de Trabalho atropelou trâmites legais.
Um documento da prefeitura indica que o CAT Luz era
desnecessário. Nas proximidades, há o CAT Liberdade. O estudo aponta outras regiões que
demandam postos de atendimento, como Sapopemba.
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